Estamos cansados de ouvir e de saber que a vida em sociedade vem se transformando rapidamente nas últimas décadas. Intensas mudanças no campo da tecnologia, da ciência e da informação. Do tranporte e do trânsito não quero nem falar. Mudanças também no mundo do trabalho - novas profissões, novas relações e a inserção da mulher em um espaço antes exclusivamente masculino.
Hoje já temos uma situação em que cerca de 50% da força de trabalho é feminina. Não quero agora mencionar o fato de que apesar disso elas ocupam muitíssimo menos cargos de direção, que recebem menos que homens e que estão muito mais relacionadas às profissões do cuidado (educação, saúde e assistência social) e muito menos às das ciências exatas (engenharias, informação, finanças).
Quero falar simplesmente que esses novos tempos requerem novas relações. Pois essas mudaram muito pouco ao longo dos últimos anos. Simplesmente não acompanharam o ritmo das inovações tecnológicas. Ainda vivemos numa sociedade marcada pelo sexismo, pela divisão de papéis sexuais, pela ideia de que é da mulher o ônus do trabalho doméstico, da administração da casa e da família.
Ora, já não nos basta a sensação de vitória por termos obtido o direito ao estudo, ao voto, à cidadania. Queremos o direito, ou melhor, queremos a prática cotidiana de compartilhar lado a lado os espaços de poder e de trabalho disponíveis no mundo e no lar. Se a nova mulher sai de casa para o trabalho é preciso um novo homem que adentre e divida o cuidado com a casa e a família.
Tenho a felicidade (e o orgulho porque não dizer) de partilhar a minha vida com um novo homem. Não, não é um novo marido, faz 13 anos que estamos casados, nem estou falando de idade, ele já passou dos 40! Um novo tipo de homem, desse novo tempo. Não é um homem que ajuda na casa, que ajuda a cuidar dos filhos. Ajuda é algo que se faz de favor, mesmo entendendo que a responsabilidade é do outro. Ajuda é algo provisório, eventual, que se faz quando se pode, quando se tem disponibilidade. Falo de um homem que compartilha. Compartilhar significa fazer quando necessário, quando a situação requer, ainda que se esteja cansado, que não se esteja a fim, porque entende que é assim que deve funcionar.
Esse novo homem não é menos macho, nem menos masculino. Sabe o que significa ser homem, sabe o significado de ser marido e de ser pai. Sabe que masculinidade não está relacionada à opressão do feminino, à valorização da força física, a expressão de fúrias ou a agressão. Sabe que sua masculinidade se apresenta no contato amoroso e equilibrado com o feminino, no cuidado terno, delicado e firme com os filhos, na possibilidade de demonstrar suas forças e fraquezas, de amar e ser amado, de apoiar e ser apoiado, de confortar e ser confortado. Sabe que pode ofertar seu ombro e querer colo. Que pode se emocionar, rir e chorar. Compreende que não existe emoção feminina ou masculina, mas que simplesmente existe o humano.
Sim, novos tempos requerem novos homens. Que as mulheres ajudem a pari-los, criá-los e educá-los.