quinta-feira, julho 29, 2010

Saudade de mãe



Hoje estava numa loja e sobre o balcão havia uma revista mostrando a imagem de Cissa Guimarães na capa e anunciando uma reportagem com ela, em que dizia 'meu filho está mais vivo do que nunca, eu é que morri'.

Consigo imaginar exatamente o que é essa sensação, essa morte interior, esse vazio na alma, esse abismo no coração, esse oco em todas as entranhas. De repente, a paisagem perde a cor, você perde o rumo, o sentido e a razão. A vida vira fardo, acordar dói, respirar parece desnecessário. Só a vontade de não ser, não estar, não fazer. Desaparecer do mundo e de dentro de si. Só que até isso parece exigir esforço demasiado e impossível.

Mas morrer em vida exige renascer em algum momento, caso contrário enlouquece-se.

Aprender a viver demanda aprender a morrer e a nascer de novo. Ainda que doa, ainda que se parta cada célula do corpo. Só se supera a dor quando se consegue experienciar cada segundo dela, quando se choram todos os prantos e todas as lágrimas, quando se calam todas as palavras, quando se grita todo o desespero. Renascer exige humildade, resignação e paciência. Pois há de se esperar o tempo de cada coisa. O tempo necessário. Totalmente diferente do tempo desejado.

Já morri e renasci por razão diversa. Já morri de amor. Amor que não era de filho, mas que também era maior que eu. Perdi-me de mim e tive que me reencontrar. Como não era possível, precisei me reinventar. Leva tempo... mas é possível, porque o ser humano tem uma incrível capacidade de superação. Acho que porque carrega em si uma fagulha do fogo divino da criação.

Grávida, sinto em cada instante o milagre da vida e do amor que cresce dentro de mim. Anseio pelo dia em que verei seu rostinho, aconchegarei seu corpinho em meu colo, assistirei a seu crescimento e essa ideia abstrata de amor se materializará na forma de cuidado e convivência.

Por experiência prévia sei que sentirei esse amor visceral e inexplicável crescer a cada dia, mesmo quando parecer não ser mais possível, mesmo quando parecer já ter enchido o coração.

Filho faz crescer o coração da gente. E é capaz de levá-lo junto de si quando parte sem pedir licença.

terça-feira, julho 27, 2010

Vida de consumidor



O mundo urbano não seria mesmo como o conhecemos hoje se não existissem os telefones celulares. Eles estão tão incorporados ao nosso cotidiano, que mal posso lembrar da vida anterior sem eles. A.C. para mim pode naturalmente também significar ‘antes do celular’, assim como “A.I.” é antes da Internet.

Se, por acaso, descubro que saí de casa sem o meu, sinto-me desnuda e já tensa imaginando que invariavelmente um pneu vai furar, a gasolina vai acabar ou passarei mal em algum lugar a ermo e não terei como me comunicar com ninguém. Talvez tenha que andar quilômetros no escuro, correndo o risco de ser assaltada ou violentada. Santa paranóia!

Recentemente, migramos para outra operadora. Aproveitamos um pacote promocional interessante e usufruímos do nosso direito à portabilidade. Muito legal isso! Mas como dizem, alegria de pobre dura pouco. 15 dias depois somos surpreendidos com nossos telefones bloqueados. O marido 100% conectado mal pode acreditar quando a atendente diz que isso foi feito porque havia pendência em nossa documentação.

Pergunta óbvia: por que não nos avisaram antes de cortar o telefone? Não há resposta óbvia. Indignação: como pode haver pendência, se entregamos tudo o que foi pedido no ato de efetivação da operação? Próxima questão: o que é que está pendente?
- Senhor, o senhor pode confirmar alguns dados, para que possamos estar conferindo?
- Sim, claro.
- Nome, CPF, endereço, idade.....
- Senhor, há divergência nos seus dados.
- Em quais dados?
- Não podemos informar, senhor.
????!!!
- Então, o que podemos fazer para resolver isso?
- O senhor pode estar comparecendo em uma de nossas lojas, entregando a cópia da documentação (que já foi entregue, repita-se!!), conforme está previsto na cláusula 9 do contrato (que não recebemos!!) e a TIM terá até 5 dias úteis para retomar o serviço.

É isso e ponto. Não adianta reclamar. Não adianta argumentar que é um absurdo. Não adianta apelar para o problema que é ficar sem celular quando se está no meio de um monte de contatos com clientes e fornecedores. Isso não é problema deles.

Você até pode abrir chamado na Anatel, solicitar o cancelamento da linha, mas nada fará seu telefone funcionar no prazo que você necessita, apesar de ter cumprido todas as exigências contratuais e a falha provavelmente ser devida a algum erro interno na operadora.

E viva a qualidade nos processos de trabalho e a excelência no atendimento ao cliente!!

Montando enxoval

Já me cobraram a ausência do blog. Realmente, andei bem mais afastada do que gostaria. Mas a vida de grávida tem me deixado mais cansada que o normal e nos meus horários habituais de escrita agora usualmente me encontro estatelada no sofá, assistindo a algum programa que não me exija esforço mental, ou já no oitavo sono mesmo.

Nos últimos dias, andei de folga do trabalho e aproveitei para montar o enxoval da nova filhotinha. A luz amarela piscou quando lemos o informe virtual da Revista Crescer de acontecimentos semanais da gravidez e ela sugeria na 27ª semana que já estivesse pronta a bolsa da maternidade. Bem, eu estava quase na 28ª e não tinha bolsa e muito menos o que guardar. No dia seguinte, estou na academia (voltei!!) e conversando com uma moça, ela me conta que sua filhinha nasceu prematura, na 32ª semana, e a sorte é que ela já estava com tudo pronto. Bem aventurados os prevenidos!!

No dia seguinte, fui às compras!! Não que isso exigisse algum esforço descomunal, mas acho que eu queria fazer bem devagar, para aproveitar cada instante e me deleitar com cada roupinha. Mas diante das circunstâncias e para não desperdiçar o afastamento do trabalho, fiz um delicioso esforço concentrado.

Agora já está quase tudo providenciado. Móveis do quarto encomendados, carrinho de bebê disponível – onde ele dormirá nos seus primeiros dias. E quanto às roupinhas, só falta lavar. Lembrei-me do meu sobrinho que antecipou em duas semanas o nascimento e não havia uma roupinha lavada para vestir o bichinho. Então, enquanto minha irmã cuidava do rebento envolto em panos hospitalares, minha mãe tratava de providenciar às pressas as primeiras mudas pro peladão. Espero não repetir a história!

Além de paquerar, escolher e comprar as minúsculas peças de vestuário, é divertido chegar em casa e olhar tudo de novo, separar os tamanhos, imaginar como ficarão no serzinho desconhecido e, eventualmente, compartilhar com os outros. O maridão curte, mas definitivamente numa escala infinitamente menor de entusiasmo. A irmã mais velha, idem, o que é uma pena, para uma mãe doida para dividir esse contentamento.

Na última aquisição, cheguei em casa com umas meiinhas. Como podem ser tão minúsculas! Encantada com aquela pequeneza, decidi comparar com um espécime paterno. Abaixo as amostras:



Querendo compartilhar o divertimento, pego um pé de cada um e vou mostrar para o pai, que acha legal e dá um sorriso, e com a irmã super antenada, que estava em outro quarto entretida com algum jogo eletrônico:

- Olha, filha! Exclamo, segurando um pé com cada mão e exibindo fascinada, enquanto espero um comentário de espanto e riso. Mas o que veio foi só espanto:

- Nossa!! O que aconteceu?? Foi na máquina??

Santa imaginação! Felizmente minha lavadora não é desse modelo!

Agora, enquanto tento curar-me de uma bronquite que me deixou abatida, bem no meio das férias, vou tentando voltar à lida consumidora e, seguindo o check-list e o inventário particular, fazer as últimas e necessárias aquisições, tais como balde, banheira e lençóis.