terça-feira, junho 26, 2007

A auto-estima do brasileiro

A auto-estima pode ser definida como uma opinião, um conceito que desenvolvemos sobre nós mesmos. Este auto-conceito depende, por um lado, da maneira que nós nos enxergamos - quanto mais próximo o nosso eu-percebido estiver do nosso eu-idealizado, mas satisfeito conosco estaremos, mais estabelecida será nossa auto-estima. De outro lado, ela também dependerá da opinião que consideramos que os outros têm de nós. Assim, se acho que o outro tem um bom conceito sobre mim, isso fortalece o meu auto-conceito, ou minha auto-estima.

Tenho que admitir minhas dificuldades em me auto-avaliar positivamente. Não estou certa se sofro de baixa auto-estima mesmo, ou se tenho um senso crítico bem desenvolvido. Isso se verifica bem no campo cognitivo, da inteligência. Há muitas coisas que, por mais que me esforce, não consigo compreender. Exemplos: o pensamento de Nietzsche, a quarta dimensão, o infinito, os números irracionais. Quando o quesito é tecnologia, aí é que a coisa complica mesmo. Já estamos vivendo a era da televisão digital, interativa e eu ainda não compreendi o telefone. Especialmente agora, nas versões sem fio e celular. Simplesmente não consigo entender como as palavras saem do aparelho, "voam" e chegam - íntegras - ao outro lado. E com a mesma voz!!! Nem adianta vir com esse papo de ondas, que não entra. Como é que elas são quebradas e se juntam direitinho do outro lado?? Como que, no ar, as conversas não se embaralham???
Olho pela janela e fico pensando quantas palavras estão passando por aqui agora... Bate-papos de amigos saudosos, declarações de amor, discussões, acertos de contas... Como cada uma sabe direitinho para onde tem que ir??

Voltemos à auto-estima. À parte que depende da percepção que tenho da opinião do outro sobre mim. É nesse ponto, especialmente, que o bicho anda pegando para mim como cidadã brasileira. Se eu já tinha dúvidas sobre a minha inteligência, estão querendo me provar, de todas as maneiras, que realmente sou incapaz de raciocinar.
Só pode ser isso que pensam algumas autoridades por aí. Senão não falariam o que falam... Não, não falariam.... Sentiriam-se constrangidas... Ou ameaçadas...
- Um senador da República, não qualquer um, mas o Presidente da Instituição, acusado de usar recursos de uma empreiteira para pagar despesas pessoais, parece ter dito (ou sua esposa, ou seu advogado disse, não me recordo agora) que não fez isso, pois não precisava, pois tinha dinheiro para pagar as próprias contas.
(Meu Deus!!! Não tenho dúvida alguma sobre isso!! Algum político ou agente público corrupto desvia dinheiro, apropria-se de verbas porque não tem dinheiro para pagar as contas??
Alguém "precisa" de 169 milhões de reais para viver??
Mas isso é uma outra história!)
- No capítulo de hoje da novela, ele alegou que armaram um Esquadrão da Morte Moral que ataca, sem provas (nem piedade), a sua integridade e fere a sua honra (como se ela existisse!!??).
Aliás, se o tal esquadrão ainda não tiver sido fundado, gostaria de propor sua criação. Poderia ser um Esquadrão da Morte das Imoralidades. Imaginam como seria? Envenenem as falcatruas!! Destrocem a corrupção!! Condenem à forca as mentiras!! Injeção letal nos complôs e esquemas!! Ah, se encontrasse uma maracutaia dando sopa por aí... dava-lhe um pontapé!..
- Enquanto isso, o Presidente do Conselho de "Ética" (pasmem!), que renunciou há pouco ao cargo (felizmente!), parece que concordava com o Relator, que queria arquivar o caso porque não havia provas, apenas "indícios".
Engraçado que, na minha ignorância, indícios de roubo deveriam ser um motivo suficiente para alguém perder o mandato, por quebra de decoro. As provas? Guardemo-nas para os tribunais (infelizmente privilegiados), quando tramitar o devido processo penal e administrativo.
- Ainda no Senado, houve um outro que foi pego em conversas telefônicas estranhas. Já andou muito por essas bandas brasilienses o moço. Descontou um cheque de um Banco, no valor de dois milhões e duzentos mil, em outro Banco. Mas ele não precisava do dinheiro todo, não. O dono do cheque pagou CPMF à toa, porque ele precisava só de trezentos mil (já deve dar um embrulho grande para carregar, né?).
Engraçado que um vez eu quis pagar uma continha num banco diferente do meu e não aceitaram meu cheque. Noutra, quis sacar um dinheiro, no banco em que tenho conta, mas tive que esperar dois dias, pro banco se preparar, pro dinheiro "chegar", sei lá... Talvez se eu estivesse precisando tirar um milhão e meio fosse mais fácil. Nem importava o Banco, podia escolher o mais pertinho de casa! Se eu soubesse disso!.. Voltando à história, parece que ele disse que era para pagar uma bezerra... e para ajudar um amigo doente. E eu que já pensei tanto na morte da Bezerra, penso agora no preço da Bezerra e torço para ela continuar viva, senão que prejuízo, né? Coitado do Senador!
- Não bastasse isso, eu continuei ouvindo o rádio na hora do almoço. Aquilo não parecia um jornal, mas um circo dos horrores, registre-se. Era uma seqüência de aberrações e eu querendo chegar em casa para almoçar. Escuto a notícia dos cinco jovens de classe média do Rio de Janeiro que espancaram uma moça na parada de ônibus, uma emprega doméstica. Parece que não foram os cinco. Um deles só assistiu e ficou rindo e debochando. Puxa, que alívio saber disso! O pai de um deles teria dito que considerava uma injustiça "manter crianças que fazem universidade presas, na cadeia".
Mais uma vez defronto-me com minha ignorância. Descobri que também não devo ter noção nenhuma do que é justiça e injustiça. Aliás, tinha até achado uma grande injustiça eles serem presos em celas separadas dos "outros" presos. Achava que eles deveriam vivenciar a experiência de compartilhar espaços com colegas mais antigos nessa área de atuação que eles escolheram.

Roubo, agressão, covardia, descaso, desrespeito... à coisa pública, às vidas humanas. Na minha visão limitada e torpe, parecem todos crimes muito graves, parecem-me todos marginais muito comuns... que deveriam ser tratados como comuns, julgados como comuns, presos como comuns...
Assistir a isso contribuiria, indubitavelmente, para elevar minha auto-estima de brasileira.





Fontes: CBN Rádio - Notícias; http://www.estadao.com.br/ultimas/; http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG77748-5856-475,00.html.

domingo, junho 24, 2007

Trinta e cinco


Uma grande amiga, quando completou 35 anos, recebeu uma mensagem de felicitações de um outro amigo, que a congratulava pela série de coisas que ela poderia, a partir de então, passar a fazer - como candidatar-se a senadora, vice-presidente ou presidente da República.

Fiz 35 anos este mês. Também recebi uma lista, não de oportunidades de atuação profissional, mas de procedimentos médicos que deveria começar a fazer:

- A primeira mamografia. Ela será chamada de mamografia de base (até o nome é especial!), pois servirá de parâmetro para as outras (que confortante saber disso!). Pelo menos a médica me assegurou que agora existe a tal da mamografia digital, um exame praticamente indolor, ao contrário da analógica, bem desconfortável.
- Uma colonoscopia. Devido à informação genética herdada é altamente recomendável a inspeção periódica preventiva, a fim de detectar, no início, possíveis formações tumorosas em meu intestino.
Compartilho essa necessidade com meus familiares mais próximos, o que não diminui a ansiedade com o preparo desagradável da véspera, nem o constrangimento com a invasão de privacidade.
- Aliás, falando de invasão de privacidade, some-se uma histerossalpingografia. Nome chique, exame nada elegante: após a introdução de um catéter pelo orifício de entrada do colo uterino, injeta-se certa quantidade de contraste pela tuba uterina, ou trompa de Falópio, cuja evolução será acompanhada por uma seqüência de raios X, a fim de verificar se a passagem está pérvia. Se estiver e o líquido chegar à cavidade abdominal, significa que tudo está bem e que haverá bastante dor.
O consolo dado pela minha médica é que eles fazem um preparo que tende a minimizar o desconforto e que, na clínica sugerida, há sempre um anestesista na sala, caso seja necessário.
Não sei por quê, essa observação não conseguiu exatamente me deixar tranqüila!

Devo ressaltar que a indicação desse exame não se relaciona à idade, mas à necessidade de se avaliar a permeabilidade da trompa e, com isso, identificar o risco de outra gravidez tubária. De qualquer forma, como a solicitação surgiu este mês, achei justo constar na lista.

Se o critério foi esse, não devo então considerar a endoscopia digestiva (mais câmeras, tubos, analgésicos, sedativos e intromissão) feita há alguns meses, em decorrência de queixas de desconforto gastro-esofático. Os resultados apontaram gastrite leve e esofagite de refluxo.

Pausa para recordar o momento:
- Refluxo? Que estranho, nunca tive isso!! Pergunto e exclamo, surpresa.
- Isso é normal nessa idade, quando começa a haver relaxamento dos esfíncteres - responde a médica, com naturalidade.
- NESSA IDADE??!!! Como assim, nessa idade?? Penso, indignada. Preparava-me para ouvir essa expressão quando entrasse nos 70, não chegando aos 35!!!
Começo a pensar em todos os meus esfíncteres corporais. Em todos que conheço ou consigo lembrar, pelo menos. Não consigo imaginar nada mais antipático do que a idéia de meus esfíncteres tornando-se progressivamente relaxados.
Devo ter ficado olhando para ela meio catatônica, por alguns segundos, enquanto me passava a prescrição.
Comprei uns remédios, carésimos - diga-se de passagem - que resolvi não tomar - diga-se de passagem - após ler a lista de reações adversas. O problema acabou se resolvendo (1) com a aquisição de novos hábitos (evitar jantar e refeições pesadas à noite, não deitar antes de 4 horas após as refeições e, em caso de fazê-lo, posicionar-me em decúbito lateral direito) e (2) com a aquisição de uma almofada anti-refluxo. Na verdade, uma rampa, que inicia na coluna lombar e vai até o topo da cabeça, provocando uma elevação corporal de uns 30º - que me causou vários dias de dor nas costas, até a completa adaptação.

Será que estou mesmo ficando velha??!! Recuso-me a acreditar nisso!!

Meu avô dizia a todo o tempo que ficar velho era uma "m...". Repetiu isso durante anos. Na época, eu achava que era exagero, coisa de velho rabugento (o que ele era realmente, de uma maneira muuito especial). Mas hoje não estou tão certa disso e sou capaz de compreendê-lo melhor.
Lia Luft escreveu muito bem sobre as perdas e, especialmente, sobre os ganhos da velhice. Consigo reconhecer diversos. Como a própria maturidade, que traz serenidade, tolerância, racionalidade, experiência, sabedoria (em alguns casos)...
Talvez a velhice em si não seja essa "m", se estiver sendo bem vivida e aproveitada.
Mas não tenho dúvidas de que estar doente é. Sentir-se limitado ou incapaz de fazer coisas que se gostava é. Assistir a seu corpo enrugar, enfraquecer, definhar... é.
Por isso, não mais condeno seu ponto de vista. Por isso, sou hoje muito mais condescendente, mais compreensiva, mais paciente do que já fui. Por isso, hoje rezo para viver - com saúde, com qualidade, com plenitude - muitos outros anos.

Quem sabe até mais duas outras vezes trinta e cinco??!!...

quinta-feira, junho 14, 2007

Diário de bordo -Rio de Janeiro e Petrópolis - pinceladas finais

Percebi que não sirvo para escrever diários de bordo. Um, deixo passar muito tempo. Dois, esqueço das coisas. Três, tenho vontade de falar de outros assuntos. Então, farei uma pincelada sobre um pouco de cada dia que se seguiu.

- Ainda no dia 2, à noite - encontro com amiga que está de mudança para o Rio (Snif, snif!!) no novo Shopping Leblon (mulher brasiliense que se preze não perde oportunidade de conhecer shoping novo. Claro, depois de dar uma volta no Rio Sul, que é básico). O Shopping está lindo, praticamente vazio, apenas uns poucos vips bem vestidos passeando por ali (contrariando a teoria de que carioca não liga para essas coisas...). Sinto-me de novo no Universo Hípico! Amo este lugar!!


- Dia 3 - praia logo de manhã. Eu, minha prima (ex-brasiliense-carioca, morando em Brasília), nossas crias e toda a tralha infantil. Praticamente nós na praia - porque carioca que se preze não vai à praia com aquele vento frio! Só almas desesperadas por um cheiro de maresia e uma onda salgada. Ah, havia também um gringo que chegou de calça comprida e camisa colorida com a mulher num maiô horrendo, uma dupla feminina treinando voley de areia e uma turma de 12 crianças e adolescentes, vestidas com o uniforme de um projeto social (Futuro Feliz), cuidadas por um monitor bem sarado, provavelmente membro da própria comunidade a que pertenciam.
Pausa para comentar as estratégias pedagógicas do monitor. Primeiramente, eles estavam na areia, jogando. Eram 10 garotos, que pareciam ter de 12 a 15 anos, uma garota de uns 13 e um menino menorzinho. Após brincarem na areia, correm animados em direção ao mar. O monitor berra lá de cima, perto da gente "Todo mundo junto e no raso! Se alguém sair de perto ou for pro pro fundo, vai levar porrada!" Devo ter olhado para ele com uma cara bem esquisita (talvez de surpresa-susto-pânico-choque), porque ele fez questão de comentar "tem que ser assim, senão eles não obedecem!". Sorri. O que dizer, diante de tais argumentos?
O pequenininho não foi, ficou sentado no lado dele, visivelmente com medo. "E aí, moleque, vai ficar aí sentado que nem um otário? Vai lá!..Vai se divertir!.."
Penso na rudeza dessas relações, na quantidade de carinho e afeto que essas crianças devem receber. Imaginar que talvez ele pudesse ser pessoa mais carinhosa com quem conviviam. Seu referencial de afeto. E não posso dizer que não o fosse mesmo, a seu modo.
Mas o pequeno não vai, fica por ali. Logo depois ele se aproxima do mar e fica olhando de longe a alegria dos outros. Eu já estava com minha filha ali na beirada, pulando ondas de mãos dadas com ela. Chamo ele, pergunto se não quer pular com a gente, de mãos dadas. Ele vem. Um pouco cabreiro, mas vem. Ficamos ali, pulando e nos divertindo em segurança. Daí um pouco, ele se solta e começa a dar estrelinhas sobre as ondas rasas. Era um ás. Fazia capoeira, tinha 8 anos. Um sorriso lindo, os dentes tortos. Uma criança, como qualquer outra. Seu nome? Negão. "Negão, mas você é tão pequenininho?! E qual seu nome de verdade?" Me conta seu nome completo, mas não consigo compreender na fala enrolada. Deixa quieto... Negão!... Qual será o seu futuro?..., penso com o coração apertado, torcendo por um futuro realmente feliz.
Nos separamos e mais tarde fico feliz ao ver o monitor com ele, de mãos dadas, pulando ondas, no rasinho, enquanto o resto do grupo se diverte, em distância segura.

Dia 4 - já tenho marido novamente, que chegara na véspera, tarde da noite. Vamos para Petrópolis. Nunca tinha ido lá. Uma delícia de cidade. Já tem muita arquitetura nova, mas ainda guarda seu ar imperial.


Andamos de charrete (sempre fazemos todo e qualquer programa para turista que caiba em nossos bolsos - ultra-leve em Prado, passeio de burro em Trancoso, esquibunda em Natal, mergulho em Fernando de Noronha, jet ski em Porto de Galinhas, triciclo em Maceió... Somos o típico casal turista brega!), passamos pela Catedral (lindíssima!), pela casa de Santos Dumont, pelo Palácio de Cristal (Conde D'Eu presenteou a Princesa Izabel com esse Palácio quando eles fizeram não sei quantos anos de casados, para que ela pudesse promover suas festas e recepções.



Dei uma cotovelada no marido desligado, para que ele percebesse a grandeza desse gesto de amor e carinho e pudesse se inspirar nos próximos aniversários).

Ah, esqueci de falar de um detalhe importantíssimo. Os cavalos usam umas sacolinhas presas em seus bumbuns, para evitar sujar a cidade. São super discretas e cumprem bem o seu propósito. Adorei isso! Mas não há nada para o número 1, e é uma verdadeira (e impressionante) cachoeira a cada vez que um resolve abrir a torneirinha.

Dia 5 - vou conhecer a famosa Rua Teresa. Descubro que não é uma rua, mas muitas ruas. 1200 lojas de fábrica, com preços módicos! Seria uma amostra do paraíso na Terra, não fosse as milhares de pessoas que se engalfinhavam por um pedaço de asfalto para caminhar. Caco Antibes diria que era a visão do inferno. Meu marido concordaria em gênero, número e grau. Tanto que não conseguiu durar até a metade do passeio. Felizmente encontramos um casal de amigos de BSB, os dois saíram para tomar cerveja, levaram a filha igualmente entediada e estressada e ficamos as duas, animadíssimas para caminhar naquele formigueiro humano.
Era sexta-feira, após um feriado. Havia sido ponto facultativo no Rio de Janeiro. Nem os lojistas esperavam tamanha demanda, ouvi dizerem que nem em dezembro aquilo ficava daquele jeito. Murphy sabia, aposto, era o dia que eu estaria lá e preparou uma surpresa. Bem, não preciso dizer que não deu para ver muita coisa e que tive que voltar no dia seguinte. Desta vez sozinha. Gastei 3 horas e 15 minutos, voltei com cinco sacolas cheias e pesadas, mas com um sorriso no rosto e nem um pouco cansada.
Realmente, fazer compras não me cansa. Só que percebi que não tem tanta graça comprar tanta coisa, assim, numa vez só. Porque o legal mesmo é sempre ter um motivo para sair (para as compras). Ali eu acabei esgotando minha cota de um ano (para meu marido), seis meses (para minha filha) e duas semanas(para mim). Acho que meu sonho era ser premiada numa daquelas promoções, "você acaba de ganhar R$ 15.000,00 para gastar em duas horas no melhor shopping da cidade". Ai que delícia!!! Com dinheiro dos outros é tão melhor!! Lembro, com nostalgia, da minha vida de herdeira milionária...

Dia 6 - visitamos o Museu Imperial. A filha de 6 anos gostou da parte de vestir as pantufas e deslizar no chão encerado, mas como alegria de pobre (e de criança) dura pouco, foi logo coibida e não se sentiu mais tão animada com o passeio. Quando já tínhamos passado da metade, estava em uma sala ampla em que havia expostas algumas ferramentas de tortura (essas coisas sempre me fascinam e angustiam, então tenho que ver). Concentrada, lia as histórias dos instrumentos, através da vitrine. Só ouço uma vozinha conhecida e nervosa, vindo lá da porta, em tom altamente imperativo: "Mãe, vamos LOGO!, que eu já estou CANSADA disso aqui!!! E não é só DEEES-SA sala, é de TUUU-DO isso aqui!!", fazendo um gesto com os braços apontando todo o prédio do museu. Risos de todos! Tadinha, para quem nunca ouviu falar de Império, nem de D. Pedro e não vê a menor graça em móveis e retratos, já tinha sido demais mesmo!

Dia 7 - volta pro Rio, almoço com avó e tia, peixe de água salgada, bem temperado com molho de camarão. Restaurante pequeno, comida deliciosa. Visita a família, sono à tarde, arrumação de mala (tinha que caber tudo o que veio mais o resultado do estrago de Petrópolis).
Coube! Fico satisfeita com minha competência! Vamos dormir.

Dia 8 - Retorno para Brasília. (É bom sair, mas é muito bom voltar para a nossa casa, o nosso quarto, a nossa cama!) Fila no aeroporto (o marido sistemático e a filha saltitante contaram 236 passos - dele! Praticamente um metro cada! Uma loucura!), uma hora e quinze de atraso (tudo bem que não deu para estressar, mas "relaxar e gozar" já era querer demais!!!). Chegamos em casa. Cansados e felizes.

Dia 9 - Último dia de férias. Tenho que aproveitar! Tenho que dormir! Tenho que ler meus e-mails! ai, o que eu faço??
A filha foi para a aula e voltou cheia de deveres atrasados.
- Mãe, tenho DOZE deveres!!
- Nossa, filha!
- E a tia já ensinou a família do ra-re-ri-ro-ru!
- Sério? Mas é fácil?, cê já aprendeu?
E com uma cara de puro desdém, cheia de si, responde:
- FA-CÍS-SI-MO!!

Dia 10 - Facíssimo é sair de férias, dificíssimo é acordar às 7 da matina para voltar ao batente!

sexta-feira, junho 08, 2007

Diário de Bordo - parte 1

Faz um tempo que não escrevo. Passei uns dias me preparando para sair de férias - o que significa uma série de tarefas extras na rotina já atribulada, que vão muito além do simples arrumar de malas, como bem o sabem as mães trabalhadoras!
Pelo menos o marido eficiente me livrou de duas das boas - deixar e buscar o carro na revisão - para estar prontinho em nosso retorno, e providenciar dois amigos disponíveis e maravilhosos para cuidar de um periquito numa gaiola gigante e um peixe num aquário bem generoso, durante toda a nossa ausência.
Deus abençôe os amigos!!
Após isso, tenho estado viajando nos últimos cinco dias. Sem nenhum contato com a internet, nem com computadores, até então. Hoje, não resisti... e dei o primeiro clic. Vou contar algumas coisitas de nossos dias de folga no Rio de Janeiro.
Eu e minha filha partimos primeiro e tivemos a oportunidade de passar 3 dias nos curtindo, coisa relativamente rara, mesmo nos fins-de-semana, quando normalmente temos uma série de compromissos sociais. Tivemos sorte de não ter nenhuma surpresa desagradável no aeroporto, nosso vôo saiu praticamente na hora (com um pequeno atraso - o ideal para um café com pão de queijo antes do embarque!) e nossas malas chegaram tal qual partiram. Percebi que começava essas pequenas férias com o pé direito!
Na Cidade Maravilhosa parara de chover, o céu estava azul e lindo, a temperatura agradável e amena. Resolvemos, então, aproveitar a tarde para visitar o Pão de Açúcar (assim como uma pequena porção de gringos). A filha normalmente avessa a poses, talvez influenciada pela magia do passeio, até deixou-se fotografar. E também teve sua vez em fazer os próprios registros do momento especial.

Além de curtir a viagem de bondinho, admirar a vista privilegiada, tomar picolé do homem-aranha, comer bolo e tomar coca-cola, o legal do passeio foi transitar por aqueles caminhos de mata exuberante, fingindo que estávamos desbravando uma floresta virgem. Teve também aquela ladeira bem íngrime em que a gente desce segurando nas cordas laterais... me fez sentir a própria namorada do Indiana Jones. Tudo bem que a bota de saltos altos e derrapantes não eram ideais para a façanha, mas não chegaram a prejudicar a aventura. O grande final foi chegarmos bem na hora em que uma jovem senhora alimentava uma família de miquinhos.
A filha observadora contou 14 bichinhos. Eu estava mais preocupada imaginando se algum dia eu poderia ser essa pessoa que, voluntariamente, subiria diariamente o Pão de Açúcar para dar bananas aos pequenos seres da natureza, enquanto eles subiam nos meus ombros e cabeça. Tive a impressão que... não! Definitivamente!
Resolvi interromper as divagações para tirar fotos do momento ecológico, mas a bateria acabou. É sempre assim! Que saudade das máquinas de pilha!! Pelo menos deu para uma, para ficar de prova!


Dia 2
Uma tia, uma prima, três crianças, uma babá e eu fomos, no mesmo táxi - registre-se -a uma espécie de brinquedoteca ao ar livre, dentro da Hípica. Os não-sócios, como nós, pagam uma boa bagatela e têm a oportunidade de passar uma manhã diferente - um espaço com monitores extremamente simpáticos, que realmente brincam com as crianças, chamam-nas pelos nomes (já que são todas identificadas, assim como os adultos), contam histórias bem legais, tocam violão e cantam. Há um local com brinquedos pedagógicos, um tanque de areia/barro/argila (sei lá o que era aquilo! - felizmente a filha fresca e higiênica passou longe), um painel de vidro que as crianças podem pintar com tinta, tanquinhos para lavar as mãos (muito utilizados, pois a filha limpinha não agüentava a mão suja de tinta por muito tempo), mesinha para desenhar, escorregador, um rio artificial (que o frio impediu que desfrutássemos), minhocário (pulei essa parte), galinhas e pintinhos, preazinhos (também passei longe), coelhos (no final, as crianças fazem uma rodinha e alimentam os bichinhos, uma farra!) e visita aos cavalos. Pausa para falar dos cavalos. São explêndidos! Seus pêlos brilham mais que nossos cabelos. Não tenho dúvida que sejam mais bem tratados e tenham uma vida mais agradável do que muita gente por aí - apesar da rotina de trabalhos e da restrição de liberdade (essa parte não difere muito da rotina de um trabalhador assalariado, mas pelo menos eles não têm que pegar dois ônibus antes de pegar no batente). Aliás, não são só os cavalos, lá tudo é lindo e bem cuidado. Os jardins, estonteantes! Não fosse o barulho dos carros, não pareceria estarmos no meio do Rio de Janeiro. Tudo chiquérrimo e elegantérrimo. De repente, olho para os lados e penso como me sinto à vontade neste lugar!... Sem dúvida, esse glamour combina muito com meu jeito de ser... Poderia muito bem ser uma herdeira rica que passaria suas tardes a galopar nas arenas (certamente o nome não é este, mas não tenho acesso a dicionário) da Sociedade Hípica Brasileira. Talvez até pudesse competir... Usaria aquelas roupas e aquelas botas de franjinha ultra-demais. Teria uma coleção de chapéus. Em cada rodada estrearia um novo. Provavelmente teria uma estante de medalhas e troféus, não!, um quarto inteiro dedicado ao hobby, cuidadosamente decorado, onde certamente exibiria várias pinturas de cavalos pelas paredes... e os campeonatos internacionais? Capítulo a parte. Sem contar as festas cheias de vips, dentre os quais, euzinha! Alguém me cutuca. Hã? Ah, minha filha tá com fome, quer biscoito. Tchau, vida vip!
Chegamos em casa, almoçamos e nos arrumamos para ir à praia, porque candango quando sai de Brasília, se não for ao mar, não viajou. Tudo bem que agora já não é a mesma coisa dos tempos de adolescência e juventude, quando ir à praia significava ficar o dia inteiro tostando que nem lagartixa ao sol. Um livro, uma cadeira, uma canga e protetor solar. Agora tem os baldinhos, bola e nem uma chance de poder deitar-me imóvel. A filha brasiliense, extremamente animada para chegar ao mar, logo se irrita com a areia grudando nos pés. Parece inútil explicar que praia é assim mesmo, que não é igual piscina! Pelo menos já se acostumou com o fato de a água ser salgada!
No intervalo, tomo um mate, como biscoito de polvilho doce, fecho os olhos por instante, ouço o mar e me sinto no Rio de Janeiro...

Continua em breve.