quinta-feira, julho 31, 2014

Encontro casual



Hoje tomei um banho, me arrumei e me dirigi a um encontro, de improviso, comigo mesma. Fiquei tentando lembrar há quanto tempo isso não acontecia. Deixar-me levar pela água quente do chuveiro, passar lentamente meu creme preferido, respirar o aroma do meu perfume mais querido...

Achava que queria sair de casa, ver gente, fazer algo. Queria uma vitrine para observar, um filme no qual viajar, um livro com personagens nos quais pudesse me diluir, um seriado no qual me perder. Mas tudo isso também estava me cansando. Ademais, já tinha olhado vitrines demais, tomado café demais e comido chocolate demais. Precisava ser mais original. Deixar as velhas soluções de lado.

Acabei percebendo que não havia mesmo vontade nem propósito. Não havia um destino desejado, nem um porquê especial, que o objetivo obscuro era simplesmente afastar-me de mim, dos meus medos, das decisões por tomar e dos milhares de pensamentos desagradáveis que me afligiam. Era perceber como é difícil viver... Como me sentia impotente, incompetente, carente.

Aproximei-me de minha escrivaninha, sentei no meu banquinho, respirei fundo, olhei para a folha em branco e esperei virem as respostas que trariam conforto às minhas dúvidas.

Traíras! Não vieram.

O papel não sabia o que me dizer. O lápis não sabia o que escrever. Teria mesmo que me encontrar sozinha.