sábado, setembro 15, 2012

15 dias

Você chegou! E agora, dormindo tranquilo em meu colo, aconchegado como se ainda fosse parte de mim, nem parece que foi capaz de causar tanta consternação.

Há quem não entenda, que apegado ao mistério e à beleza da vida, não consiga compreender os dilemas da mulher (ou do homem) frente à uma gravidez indesejada, não planejada, ou fora de hora. Postura essa que não apenas não ajuda, mas acentua a angústia e a culpa comuns numa cena dessas.

Gestar, parir, educar não são ações triviais. Transformam a vida e a existência. Abandona-se um estar no mundo para um outro, bem diferente. Que pressupõe uma nova forma de ser, de agir, de situar-se, de viver. Por isso é tão recomendado que sejam escolhas. Escolhas de coração e mente. Pois um filho necessita de todo amor e razão que um pai seja capaz de fornecer.

Verdade é também que, uma vez o fato consumado, por assim dizer, restam poucas alternativas. Uma delas, a escolhida, é assumir a não escolha e tomá-la como sua. Identificar sentimentos e resistências, compreendê-los e ressignificá-los. Lidar passo-a-passo com cada desafio que a novidade apresenta, buscar o melhor, esperar o melhor.

E foi assim, no meio dessa busca pelo melhor, que você nasceu. Tinha apenas 37 semanas, mas achou que não devia mais esperar. E numa manhã de sexta-feira, após a explêndida lua azul, iniciou seu processo de partida (e chegada), intencionalmente abreviado pela cesariana. Às 14h15 você chorou. Que alívio saber que tudo estava bem. Que delícia ver suas bochechinhas e seu cabelinho preto e farto, como os meus!

Sim, você é meu filho, meu novo amor e, com todo o carinho e dedicação cuidaremos de você! Para que se torne uma pessoa íntegra, feliz, capaz de contribuir positivamente para um mundo melhor e que saiba viver plena e intensamente a vida que escolher. Estou convicta que foi para isso que veio.

A palavra

E a palavra fez-se verso
criou vidas e formas
transformou ideias
ampliou caminhos.

Sentindo-se livre,
ganhou o mundo.

E conheceu inimigos.

Pois há quem não suporte o verso livre,
o pensamento solto, o diverso, a dúvida,
as múltiplas possibilidades.

E quiseram prender a palavra
e matar o verso
e impedir a fala
e limitar o ser.

Mas a palavra reinventa caminhos
e renasce o verso
e liberta a fala
e transcende o ser.

quarta-feira, agosto 22, 2012

Quase 36 semanas

Essa espera aparentemente longa vai chegando ao seu fim. Daqui a algumas semanas você deve estar se juntando a nós num novo tipo de contato – de cara para o mundo. Conheceremos seu rostinho, poderemos carregá-lo, ouviremos seu choro. Estamos nos preparando para sua chegada. Reorganizando espaços, expectativas e tempos. A barriga pesada do final da gravidez vai me forçando naturalmente a desacelerar, a sair do ritmo da vida moderna e urbana, e entrar na cadência da pequena vida que requer cuidado, atenção, vagareza.

No começo, você apareceu como susto, espanto. Um ponto fora da curva estatística. Uma exceção, uma provocação às probabilidades. Decidido, virou-me do avesso. Encontrou fortes aliados. Como a irmã maior que há tempos ansiava sua presença.

Lentamente tive que me acostumar à ideia. Lentamente comecei a gostar...

Agora te abraço em meu ventre. Curto o momento em que está em mim. Sei que em breve partirá. Nossa relação mudará. O abraço deixará de ser exclusivamente meu. Você conhecerá outros braços, e sorrisos, e cores. O mundo se revelará fascinante a seus olhos, ouvidos e mãos. Você experimentará infindáveis e indescritíveis sensações. Não se lembrará desse início, nem sentirá falta disso (que bom!). Mas eu sentirei sua falta em mim!

Quando você chegar, saiba que estivemos te aguardando e que estaremos prontos para te amar. Intensamente!



quinta-feira, maio 31, 2012

A favor de lei que proíba violência física contra crianças

"Os castigos corporais a adultos estão proibidos em mais da metade dos países do mundo; no entanto só 15 dos mais de 190 Estados existentes proibiram todos os castigos corporais a crianças, inclusive na família."

Como assim? Direitos humanos, direito à integridade física e à dignidade só valem para adultos??

"O Comitê dos Direitos da Criança após sua discussão sobre "violência contra crianças na família e nas escolas", em 28 de setembro de 2001 considerou inaceitável a violência contra as crianças, sejam quais forem as circunstâncias. Reconheceu que as diferentes formas de violência contra as crianças (como castigos corporais, intimidaão, assédio e abuso sexual, assim como abuso verbal e emocional) são interligadas e que a violência no contexto da família e a violência no contexto da escola reforçam-se mutuamente. Que as medidas contra a violência devem partir de uma abordagem holítisca e enfatizar a intolerância por todas as formas de violência. A violência física e outras formas mais graves de violência são mais prováveis onde a hostilidade cotidiana é tolerada. Tolerar a violência numa esfera torna mais difícil resistir a ela em outra."

"Num seminário do Conselho da Europa, realizado em Estrasburgo em novembro de 2002, o vice-secretário-geral do Conselho concluiu que "é de vital importância que todos os que se preocupam com as crianças, tanto coletiva quanto individualmente, trabalhem para acabar com os castigos corporais impostos a elas (...) Por isso, eu gostaria de aproveitar essa oportunidade para exigiri dos governos dos Estados-Membros do Conselho da Europa que parem de defender - ou disfarçar como disciplina - a violência deliberada contra crianças e aceitem que as crianças, como os adultos, têm o direito humano fundamental de não serem agredidas. (...) Não pode haver linhas divisórias no respeito aos direitos humanos." (De Boer-Buquicchio, 2002).

"Na Itália e em Israel, o Supremo Tribunal declarou que todos os castigos corporais, inclusive no lar, são ilegais: a sentença do Supremo Tribunal da Itália, proferida em 1996, em Roma declara: (...) o uso da violência com finalidades educacionais não pode ser mais considerado legal. Há duas razões para isso: a primeira é a importância monumental que o sistema jurídicio (italiano) atribui à proteção da dignidade do indivíduo. Isso inclui "os menores" que agora têm direitos e não são mais simplesmente objetos a serem protegidos pelos pais ou, pior ainda, objetos à disposição dos pais. A segunda razão é que, como objetivo educacional, o desenvolvimento harmonioso da personalidade de uma criança, que assegura que ele/ela adote os valores da paz, da tolerância e da coexistência, não pode ser alcançado com o uso de meios violentos que contradizem esse objetivo."

E no Brasil, quando isso se tornará uma realidade?

Já conseguimos avanços no campo da punição e prevenção da violência doméstica com a lei Maria da Penha e os esforços que vêm sendo travados no sentido de efetivamente aplicá-la. Precisamos ainda muito avançar no sentido de melhor proteger nossas crianças. Educação não se faz com violência!!

Fonte: O caminho para uma disciplina infantil construtiva: eliminando castigos corporais/ Stuart N. Hart... (et al.) - São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2008.

quinta-feira, maio 24, 2012

Dilema materno essencial

Às vezes o coração de mãe dói apertado diante de alguma situação e a gente se pergunta tomada de angústia e culpa se está fazendo a coisa certa, tomando as decisões certas...

Mas quem poderá fornecer a resposta certa?...

terça-feira, maio 22, 2012

Gestando e amamentando

Tive a oportunidade de vivenciar uma experiência interessante - amamentar enquanto grávida. Se amamentar um bebê de mais de um ano já causa algum incômodo em algumas pessoas, que acham que criança com dente não tem que mamar (engraçado que não há preconceito contra leite em pó, nem de garrafinha, ou longa vida com conservantes para adultos com ou sem dentes), imaginem se a mãe está, além de tudo, grávida. A lista de mitos é ainda maior.
Felizmente, minha médica compreende a importância do aleitamento materno e orientou a apenas a cuidar da alimentação bem balanceada, da ingesta hídrica adequada e prestar atenção se em algum momento havia a ocorrência de contrações decorrentes do estímulo da sucção, o que nunca aconteceu.
Com isso a filhotinha mais nova, que logo perderá o reinado de caçula, teve a chance de aproveitar um pouco mais dos benefícios do leite materno. Agora, aos 19 meses e meio (e aos cinco meses e meio de gravidez), ela está iniciando o desmame, num processo bem natural, espero que tudo corra bem, para que em breve comecemos tudo de novo, numa nova história.


quinta-feira, maio 10, 2012

Considerações sobre racismo e sexismo

Conforme a biologia, a ciência taxonômica, não faz sentido falar em subdivisões da raça humana. Segundo a ciência, não há divisão de raças. Que maravilha! Uma vez provado que não existe raça, não existe racismo! Quem dera fosse fácil assim. Por não ser assim, por as pessoas literalmente sentirem o peso do preconceito na pele, ainda que o termo cientificamente não seja consistente, ainda é válido e por isso utilizado no senso comum, no discurso corrente em nosso dia a dia.

E talvez exatamente porque sejamos todos tão humanos, tenhamos tantas dificuldades em nos olharmos uns aos outros e simplesmente nos identificarmos como semelhantes. Nos olhamos e nos vemos baixos/altos, gordos/magros, homens/mulheres, masculinos/femininos, masculinizados/feminilizados, pretos/brancos, de cabelos lisos/encaracolados/ondulados/alisados, com olhos redondos/com olhos puxados, ocidentais/orientais, católicos/evangélicos/judeus/muçulmanos... e por aí vai... Temos o olhar treinado para reconhecer a diferença. Isso não é um problema, a priori. Somos iguais em nossa essência, em nossa substantividade de seres humanos e diferentes em nossa adjetividade, em tudo isso que nos faz diversos e únicos. O problema surge quando hierarquizamos as diferenças, quando agregamos valor e não valor ou menos valor a essas características que são intrínsecas ao ser de cada um. E, infelizmente, é isso que fazemos. É isso que aprendemos a fazer, sem nem perceber, naturalmente, como resultado de nosso processo educativo e de socialização. E no nosso processo de aculturamento aprendemos, sobretudo, a valorar o gênero e a valorar as cores, em todo o seu degradê possível.

Vamos pensar então nesse nosso Brasil, que de seus 500 anos de história (já que se considera a nossa história apenas após a invasão e colonização portuguesa), 350 anos foram de convivência e conivência com a escravidão, a opressão e o extermínio de índios e negros. Podemos ser ingênuos a ponto de achar que não somos produtos desse processo histórico de racismo? O fato é que somos constituídos, em nossa formação, por uma ideologia sexista e racista. Assim fomos educados, assim ainda educamos as nossas crianças. Só podemos sair dessa condição também por um processo de reeducação, de ressignificação de valores e crenças, de um olhar para dentro, a partir de uma reflexão profunda, de uma tomada de consciência, quando conseguirmos criticamente avaliar quais são os nossos modelos mentais que orientam o nosso discurso, o nosso modo de ver e pensar o mundo e consequentemente de agir e nos relacionar.

Já perceberam como o nosso repertório linguístico é repleto de expressões estigmatizantes e preconceituosas? "Preto é f., quando não faz m. na entrada, faz na saída.", "fulano tem o pé na cozinha", "Tinha que ser preto!" "Tinha que ser mulher", "Mulher no volante, perigo constante", "Lugar de mulher é na cozinha", "Essa aí é mulher para casar (em contrapartida à mulher apenas para a diversão), "é um preto de alma branca".....

Alguns acham que destacar a raça ou a cor da pessoa pode estimular a discriminação. Ora, que falácia! Não é assim, a discriminação está aí posta. O que precisamos fazer é justamente abrir os olhos para ela. Não podemos negá-la, sob o risco de nunca podermos dirimi-la. O primeiro passo para a cura é assumir a doença - não é assim na medicina? Nos males sociais, como o racismo, o sexismo, a homofobia... é assim também. E se assim é a constituição da nossa sociedade, podemos achar que nas organizações, nas empresas, nas instituições públicas, tudo isso fica da porta para fora? Que nossas relações de trabalho, que os processos de relacionamento e gestão nas organizações não são pautados por toda essa rede de significações que fazem parte do que somos, acreditamos, pensamos, falamos? O racismo e o sexismo estão presentes na rua, no trabalho, dentro das casas. O número aviltantes de casos de violência contra a mulher, que recentemente estão sendo mais bem divulgados, felizmente, estão aí para confirmar essa afirmação.

O fato de se poder segmentar os grupos sociais em gênero e raça, por exemplo, permitiu a obtenção de dados que hoje são valiosíssimos para compreender a realidade e estabelecer políticas públicas de correção. Uma vez tendo o IBGE mapeado (ainda que a duras penas e com algum grau de imprecisão) o Brasil, por gênero e raça/cor, pudemos ver que em 2011, as mulheres representam a maior parte da população, têm nível de formação igual ou superior, mas não tem inserção correspondente no mundo do trabalho - nem em acesso a emprego (o nível de desemprego feminino é maior que o masculino), nem em acesso a cargos de alta gerência (o que contribui para levar ao quadro de menor nível de renda, juntamente com o fato de que as mulheres estão expostas aos postos de trabalho mais precários. Quando se observa o recorte de raça/cor, vê-se uma realidade ainda mais cruel. Os negros (sobretudo as negras) são menos escolarizados, tem o menor padrão de emprego, os piores níveis salariais. Por isso é tão importante termos informações segmentadas. Diferenciar não é estimular o preconceito, é possibilitar evidenciar as distorções e assim, estabelecer políticas para corrigi-las.

De modo geral, podemos dizer que no Brasil quando se fala em gêneros e raça/etnia/cor, existe isonomia (igualdade na norma, que a constituição e os estatutos brasileiros prevêem e teoricamente garantem). É verdade. Nossa constituição cidadã nos garante isso: todos são iguais perante a lei e toda forma de preconceito é repudiada. Entretanto não podemos dizer o mesmo sobre a isotopia (igualdade na divisão dos espaços, na divisão do poder). Se pararmos para pensar que praticamente 50% dos brasileiros são negros e pardos e uma parcela semelhante é composta por mulheres e olharmos em qualquer espaço de poder - o parlamento, os ministérios, as secretarias de estado, as empresas... enxergaremos essa mesma proporção??? A pluralidade que é defendida no preâmbulo de nossa constituição não se efetiva de fato. E é isso que precisa ser corrigido. Se não, podemos dizer que estamos apenas brincando de ser um país democrático.

sexta-feira, abril 20, 2012

Novos tempos requerem novos homens

Estamos cansados de ouvir e de saber que a vida em sociedade vem se transformando rapidamente nas últimas décadas. Intensas mudanças no campo da tecnologia, da ciência e da informação. Do tranporte e do trânsito não quero nem falar. Mudanças também no mundo do trabalho - novas profissões, novas relações e a inserção da mulher em um espaço antes exclusivamente masculino.

Hoje já temos uma situação em que cerca de 50% da força de trabalho é feminina. Não quero agora mencionar o fato de que apesar disso elas ocupam muitíssimo menos cargos de direção, que recebem menos que homens e que estão muito mais relacionadas às profissões do cuidado (educação, saúde e assistência social) e muito menos às das ciências exatas (engenharias, informação, finanças).

Quero falar simplesmente que esses novos tempos requerem novas relações. Pois essas mudaram muito pouco ao longo dos últimos anos. Simplesmente não acompanharam o ritmo das inovações tecnológicas. Ainda vivemos numa sociedade marcada pelo sexismo, pela divisão de papéis sexuais, pela ideia de que é da mulher o ônus do trabalho doméstico, da administração da casa e da família.

Ora, já não nos basta a sensação de vitória por termos obtido o direito ao estudo, ao voto, à cidadania. Queremos o direito, ou melhor, queremos a prática cotidiana de compartilhar lado a lado os espaços de poder e de trabalho disponíveis no mundo e no lar. Se a nova mulher sai de casa para o trabalho é preciso um novo homem que adentre e divida o cuidado com a casa e a família.

Tenho a felicidade (e o orgulho porque não dizer) de partilhar a minha vida com um novo homem. Não, não é um novo marido, faz 13 anos que estamos casados, nem estou falando de idade, ele já passou dos 40! Um novo tipo de homem, desse novo tempo. Não é um homem que ajuda na casa, que ajuda a cuidar dos filhos. Ajuda é algo que se faz de favor, mesmo entendendo que a responsabilidade é do outro. Ajuda é algo provisório, eventual, que se faz quando se pode, quando se tem disponibilidade. Falo de um homem que compartilha. Compartilhar significa fazer quando necessário, quando a situação requer, ainda que se esteja cansado, que não se esteja a fim, porque entende que é assim que deve funcionar.

Esse novo homem não é menos macho, nem menos masculino. Sabe o que significa ser homem, sabe o significado de ser marido e de ser pai. Sabe que masculinidade não está relacionada à opressão do feminino, à valorização da força física, a expressão de fúrias ou a agressão. Sabe que sua masculinidade se apresenta no contato amoroso e equilibrado com o feminino, no cuidado terno, delicado e firme com os filhos, na possibilidade de demonstrar suas forças e fraquezas, de amar e ser amado, de apoiar e ser apoiado, de confortar e ser confortado. Sabe que pode ofertar seu ombro e querer colo. Que pode se emocionar, rir e chorar. Compreende que não existe emoção feminina ou masculina, mas que simplesmente existe o humano.

Sim, novos tempos requerem novos homens. Que as mulheres ajudem a pari-los, criá-los e educá-los.

segunda-feira, fevereiro 06, 2012

Brinquedo de menino, brinquedo de menina

Todas as vezes que preciso ir a uma loja de brinquedos (coisa não rara quando se tem filhos, sobrinhos, amiguinhos dos filhos aniversariando quase toda semana) me sinto irritada.

Quando você entra e diz que precisa de um presente, a primeira coisa que o/a vendedor/a te pergunta é se é para menino ou menina e, depois, que idade a criança tem. Ora, no atual mundo em que vivemos em que mulheres e homens ocupam os mais diversos espaços sociais e laborais e precisam cada vez mais aprender a dividir todos os espaços e funções domésticas, que sentido faz dividir as brincadeiras por sexo? E pior: por sexo e cor!! Então você vai na seção feminina e encontrará todos os tipos de bonecas cor de rosa e miniaturas de utensílios domésticos, todos cor de rosa. Sim, porque os aparatos domésticos - fogãozinho, vassourinha, maquininha de lavar roupas, pratos, secador de louças, conjunto de pratos, xícaras e colherzinhas, TUDO impreterivelmente cor de rosa e situado no lado feminino. E os nossos futuros chefs e maridos e donos de sua própria casa não precisam treinar a manipular brinquedinhos dessa natureza? Não terão mais tato com os filhos se puderem brincar de boneca e boneco? E nossas meninas não sairão de seu papel de princesa à espera do príncipe encantado e entenderão mais cedo e de uma forma melhor se tiverem a oportunidade de enfrentar monstros e dragões desde a tenra idade?

Por que então não fazem todos os brinquedos de todas as cores para que meninos e meninas escolham independentemente o que estão a fim de fazer? Por que as próprias empresas não tomam a dianteira e têm uma atitude menos reacionária e produzam brinquedos que representem melhor o mundo que vivemos e que está à espera de nossas crianças. Que simplesmente não reproduzam modelos sexistas que contribuam para visões de mundo distorcidas, para a ideia de que os homens são fortes, ativos, aventureiros e responsáveis e as mulheres são frágeis, passivas, submissas e incompetentes para se defender do e no mundo.

Por isso que sempre me recusei a comprar esses brinquedos cor de rosa (embora simplesmente AME rosa!!) e incentivei a que minha filha tivesse acesso a todos os tipos de brincadeiras. E assim ela pôde ter tratores, caminhões, aviões, bichos do imaginext, arminhas, espadas, todos os tipos de dinossauros e também bonecas, geladeira, carrinho de feira e tudo o mais. Porque é brincando que se aprende e se apreende o mundo e eu faço questão de mostrar que o mundo é vasto e que ela merece todas as oportunidades que o mundo tem a oferecer.

quarta-feira, janeiro 11, 2012

Filhotinha pré-adolescente



Filhotinha tem 11 anos e começa a apresentar alguns males da idade: irritabilidade fácil, mania de querer ficar trancafiada no quarto, aversão a regras, dever de casa e aula de história, crença de que tudo é mico, principalmente os comportamentos paternos e revelia a qualquer demonstração de afeto em público, inclusive e sobretudo a revelação de apelidos fofos e carinhosos.

Nisso, ela se parece com as típicas meninas de sua idade, mas em outros aspectos é bem diferente. Como assim?

Não gosta de rosa, de ti-ti-ti de meninas, princesas nunca e nem pensar (já avisou sobre a irmã mais nova: 'mãe, se a Marina gostar de princesas, eu vou vomitar!') e não é chegada a roupas (nem que sejam novas), compras e acessórios. Recentemente, encontrei uma sacola com roupas que eu havia comprado para ela e deixado para que experimentasse (a rotina tem que ser essa uma vez que não suporta ir a lojas e mais ainda ter o trabalho de tirar uma peça de roupa ou um pé de sapato para colocar outro). Quando fui conferir a etiqueta: maio de 2011!!!

Ontem estávamos na papelaria vendo os últimos detalhes de material escolar. Avistei uma fila de bolsas e sacolas em promoção. Quase enlouqueci! 'Filha, olhe que lindas, vamos comprar?' E aí a pergunta inesperada: "Para quê?" Como assim, para quê? Precisa uma razão para ter uma linda bolsa nova em seu guarda roupa e a possibilidade de usá-la a qualquer momento nas próximas semanas ou meses? "Ué, filha, para usar no dia-a-dia, colocar suas roupas quando você for dormir na casa de sua prima, qualquer coisa..." "Hmmm, (se virando para os vendedores) tem alguma com caveira?" O rapaz da loja gentilmente vai verificar e nos leva para o estoque que ficava na sala ao lado. Achamos algumas fofas com pequenas caveirinhas. Toda preta com caveirinhas rosas. Vem a exclamação: "Rosa?! Hmmm, mãe, acho melhor não, vou acabar não usando." Pelo menos não posso reclamar de falta de consciência e de excesso de consumismo.

A última da semana foi o comentário espontâneo enquanto estávamos em algum silêncio: "mãe, não gosto mais de ir ao dentista!" Tadinha, pensei. Deve estar cansada dessa história de aparelho desde que tem 5/6 anos. E agora, aparelho fixo, visitas mensais ao consultório, aquele incômodo chato durante três dias após apertar os arames... "É, filha? Por quê?, pergunto em tom de compaixão, o coração apertado de solidariedade e dó. E a resposta vem objetiva e imediata: "Ah, não aguento mais essa coisa de ter que escovar os dentes toda vez!"

terça-feira, janeiro 10, 2012

Tchau, natal!

No último sábado fomos desmontar toda a decoração de natal. Árvore, com seus laços dourados e tons de vermelho bordô, papais noéis, bonequinhos de biscoitos, corações e, claro, luzinhas e luzinhas; panos de mesa decorados; vasos de flores; enfeites artesanais criativos e até uma vestimenta típica para o vaso sanitário do lavabo.

De repente estava tomada por uma profunda nostalgia.

Era o natal e tudo o que ele representa indo embora - as cores, luzes, o espírito solidário, a fraternidade, o clima de festa, o encontro, o perdão, a esperança...

O ano novo estava irremediavelmente começando. O cotidiano, a rotina, o trabalho, o trânsito, as notícias de enchentes, o descaso do poder público, o descompasso familiar, o vai-e-vem caótico de passos, pessoas, pensamentos e vidas apressadas. Vidas tantas vezes desprovidas de poesia. De sentido, de amor, de paz, de paixão. Vidas sem vida.

Que saudade do natal! Do amor de Cristo, do nascimento, dos presépios, das manjedouras, da comilança, da família reunida... Queria fazer tudo de novo! Queria um ano inteiro de dezembros!