terça-feira, março 25, 2008

Rapidinhas

Esses dias tenho estado bastante ocupada (afora o período de viagem no feriadão para conhecer os dois novos sobrinhos - coisas mais fofas!!!), sem tempo de me dedicar aos meus prazeres virtuais. Então faço uma breve pausa, no meio da preparação de um material para a aula que darei amanhã de manhã, só para contar duas historinhas do dia de hoje.

1) PNL para crianças

Já no carro, no caminho para a escola, a filha se lembra que esqueceu de colocar na mochila o chaveirinho de Super-Poderosa que havia recebido num ovo de páscoa. Faz um drama. Tento consolá-la:
- Filha, não se preocupe, quando chegar em casa à noite, você coloca o chaveirinho.
- Mas à noite eu vou esquecer!!, em voz melancólica, quase chorosa.
No intuito de dar uma luz para o seu problema, resolvo principiá-la nos rudimentos de programação neurolinguística, vulgo PNL:
- Não, filha, não necessariamente. É só você não ficar falando que 'vai esquecer' ou que 'não pode esquecer de fazer tal coisa'. Ao invés disso, você deve falar que 'à noite, ao chegar em casa, vai se lembrar de pegar o chaveiro e pôr na mala'. Assim vai dar certo! Prometo, otimista.
Três segundos de pausa.
- Ah, vou ter que tampar os ouvidos então!
Acho a resposta estranha, será que ela não quer ouvir as minhas dicas?!, penso. Para esclarecer a dúvida, resolvo perguntar:
- Ué, filha, por que está dizendo isso?
- Porque se eu não tampar, quando eu falar entra por um ouvido e sai pelo outro!
:-p

2) Nem tudo é Murphy

Após estacionar o carro e sairmos apressadas, pois começava a pingar e ameaçar uma chuva, vou correndo atravessar a rua, subir as escadas, até deixar a pequena na sala de aula. No caminho, encontro uma amiguinha dela separada de todo o restante do grupo, paro para conversar com ela um pouco. Quando volto, tenho duas felicidades ao constatar que não só a porta, mas tambem as janelas do carro haviam ficado abertas:
- A chuva havia parado e os meus bancos continuavam secos.
- A bolsa com tudo dentro ainda estava lá, linda e faceira, como eu a havia deixado!

quinta-feira, março 13, 2008

Festa de Família

A avó vai fazer 80 anos. Muitas famílias ficam em alvoroço. Com um ano de antecedência alugam salão, fazem economia para proporcionar a festa memorável. Essa não. Até houve uns comentários, vamos fazer, vamos fazer, mas nada saiu do discurso. Muitos filhos, muitos netos, mas cada um na correria de sua vida, caçando seus próprios leões.

Mas havia uma nora. Vinha de outra cultura familiar. Era acostumada ao encontro e ao festejo. Dada à porta aberta e à mesa posta. Acha que a ocasião merece regalia e decide tomar uma decisão. Olha salão, faz orçamento de buffet, aluguel de mesa, toalha e louça, contratação de garçom e o escambal. Procura o e-mail de todos, redige a mensagem, elabora uma a proposta de divisão, escolhe um título animador "Festa!!!!" (considera que as quatro exclamações conseguirão simbolizar adequadamente a alegria e o entusiasmo e contagiar os convidados), solicita que seja lida com carinho, envia aos destinatários e aguarda ansiosamente o retorno.

Surgem respostas de apreço de Goiânia a Nova York. Uma grande folia! Primos distantes comemoram a possibilidade do reencontro há tanto esperado. Espantosamente ninguém reclama do preço, motivo comum de discórdia e desavenças. Eis que no meio de tantas respostas de congratulação surge um e-mail com conteúdo diferente. Para alguns, seria daquele tipo que se lê e não acredita que foi escrito, se relê, para certificar-se da correta interpretação e depois conjectura se não fora enviado por engano, como parte de outro contexto. Mas o título é o mesmo. E tem o "RES:" anterior. É, deve ser isso mesmo!:

RES: Festa!!!!

"Li com carinho. Porém, gostaria de saber o motivo da iniciativa da convocação ter sido sua."

Se fosse num programa de perguntas e respostas, poderia ter recebido uma campainha "péin!! Resposta errada!". Ou ter ouvido "Pegue seu banquinho e saia de mansinho". Ou talvez ter sentido abrir um buraco abaixo da cadeira e ser despejado numa bacia cheia de água.

Mas essa história se passa em Tão, Tão Distante. Lá as coisas são diferentes, os ogros têm uma maneira particular de perceber o mundo. São muito preocupados com a origem das idéias e, portanto, essas perguntas e dúvidas são muito comuns, não causam espanto ou chateação a ninguém. Até abrilhantam o clima de festa!!!!

quarta-feira, março 12, 2008

Da mamografia à mamotomia - um relato pessoal

AVISO (incluído em 10/4/09)
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Caro visitante que chegou aqui por meio do amigo google,

Advertências:

1) Este não é um blog de ajuda.
2) Nesta postagem você não encontrará informações técnicas sobre o exame, nem talvez os detalhes que procure ou queira saber.
3) Este é apenas o relato de minha história. Seu propósito não é esclarecer ninguém que vá fazer o exame, é apenas o de compartilhar uma experiência.
4) Quem desejar informações sobre mamotomia deve perguntar a seu médico assistente, à clínica em que fará o exame ou procurar em sites especializados.

Atenciosamente,
Juliana.

p.s: Se continuar a leitura e se aborrecer, não adianta reclamar ao autor. Assuma o risco.

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Tenho andado meio retraída, subtraída. Há dias não consigo escrever. Já comecei vários textos. Interrompi-os todos. Não sei se tem a ver com a lua, com o meu ciclo de energia ondulatório, com a maré (do lago Paranoá). O fato é que desde que me submeti a um raio de um exame que não me conformo de ter feito, me sinto alterada. Vou contar pela segunda vez a minha história e ver se isso me tranquiliza de alguma forma e muda o meu astral, numa espécie de cura pelo desabafo! :-)

Ano passado fiz minha primeira mamografia, a chamada "de base" - a que era para ser normal e servir de padrão comparativo para as próximas. Pena que o final não foi bem assim. Fui chamada para complementar o exame (ao chegar lá, a técnica me falou 'não se preocupe, isso é normal'. Eu nem tinha perguntado nada! Eu nem estava preocupada! Só a partir do comentário dela!). No exame apareceram "microcalcificações". Nem pensei que qualquer coisa "micro" pudesse gerar tanto alvoroço. Foram classificadas como Bi-Rads-3. Ou seja, havia uma pequeniníssima chance de serem malignas. Por isso fui encaminhada para um mastologista. Pacientemente, fui.

Normalmente a conduta nesses casos é aguardar 6 meses e repetir a mamografia, mas por algumas questões - histórico familiar com alguns relatos distantes, desejo de engravidar em breve, desencargo de consciência (consciência de quem? seria a minha pergunta em breve), a médica achou conveniente solicitar uma mamotomia (mais um nome para adicionar ao meu dicionário de procedimentos médicos esdrúxulos a que venho sendo submetida ao longo dos últimos anos).

Sobre o exame, ela me informou que eu deitaria numa maca, minha mama seria comprimida como no exame da mamografia, levaria uma anestesia local, haveria uma pequena incisão de alguns milímetros (que nem deixaria cicatriz!) e por sucção poderiam se obter os pequenos fragmentos para biópsia. Em seguida eles fariam um curativo compressivo e pronto.

A Mamotomia
No site, por exemplo, do Instituto do Câncer do Ceará - , podemos obter as seguintes informações sobre o procedimento:

"Mais segurança, menos cirurgia

A Mamotomia é um Sistema de Biópsia de Mama minimamente invasivo que alia em uma sonda especial um cortador tecidual rotativo de alta velocidade e um aspirador controlado por computador responsável pela fixação da lesão à fenda de corte e o transporte dos fragmentos seccionado até a bandeja de coleta.

O Procedimento é realizado em regime ambulatorial, sob anestesia local, com preparo mínimo. Uma pequena incisão permite a inserção mamária da sonda. Com uma única inserção é possível a biópsia completa da lesão, com ressecção de mútiplos fragmentos. Não há necessidade de sutura e a cicatriz é mínima.

A mamotomia fornece amostras teciduais de excelente qualidade, comparáveis às obtidas por cirurgia aberta. O sistema quando comparado com as biópsias por agulhas tradicionais acionadas por mola gera amostras 08 vezes maiores. A sensibilidade da mamotomia é 03 vezes maior que a biópsia por agulha tradicional e iguala-se a biópsia cirúrgica aberta no câncer em fase inicial."


Acho que posso dizer que foi com esse mesmo positivismo que o exame me foi indicado. Ressaltem-se as expressões "minimamente invasivo", "regime ambulatorial", "preparo mínimo", "pequena incisão", "cicatriz mínima" em contraposição a "cortador de alta velocidade", "múltiplos fragmentos", "amostras de excelente qualidade", "8 vezes maiores", "sensibilidade 3 vezes maior".

Infelizmente, essa não foi a minha impressão!!!

A Mamotomia, por mim
Marquei meu exame. Fui orientada a levar os exames anteriores, ir de blusa folgada e levar um acompanhante, pois não poderia dirigir na saída.

Chego para o exame com a antecedência recomendada. Aguardo, preencho meu cadastro, sou chamada, entro na sala. Ao entrar, o médico me pergunta imediatamente e com certa surpresa, 'quantos anos você tem??" 35. 'Ah, parece menos" "Coisa boa de se ouvir", brinquei.

Me deram o avental com abertura frontal para vestir, me disseram para deitar com a mama a ser examinada no orifício da maca, que seria elevada (e eu ficaria em posição similar a dos carros quando vão fazer troca de óleo na oficina) para o médico efetuar os procedimentos por baixo. Não sei se foi neste instante ou quando tive minha mama fortemente comprimida, ficando presa como uma vaca leiteira pela teta e sentindo forte dor, começou a me dar um pânico e uma vontade de sair dali correndo. Achei que pareceria louca ao fazer isso, pensei em tantas pessoas que conseguem suportar tantas dores, os motivos que me levaram a estar ali e fiquei.

A compressão contínua que é feita na mama é MUUUIIITO dolorosa (me senti numa cela do DOPS). O constrangimento que se sente com o exame é muuuitto grande. A raiva de não ter sido devidamente orientada sobre a quantidade de desconforto que eu sentiria foi MUUIIIITA. Mas ela seria ainda maior quando, ao final (que durou dez minutos além do prazo, pois tive que continuar sendo "comprimida" para estancar uma hemorragia causada por uma perfuração em um "vasinho importante"), após ser libertada da maca de tortura, fui informada que eu teria 5 dias de atestado médico, poderia sentir dificuldade de movimentar o braço e não poderia fazer exercícios por 20 dias ("Isso é uma biópsia, ora!" me disse o médico, após o meu estranhamento). Chorei à beça após o exame - de dor e de raiva.

Passei dois dias sem conseguir elevar os braços. Nesse período, meu marido teve que lavar meu cabelo, não podia fazer nada que me requeresse as duas mãos. Somente três dias depois do exame, é que consegui sentar para digitar. Não somente pela impossibilidade física, mas pela falta de condições emocionais. Até hoje, passado quase um mês, ainda sinto uma incômodo no local, que piora em alguns momentos. E o que me deixou indignada foi que: nada disso me foi informado antes!!! Me senti enganada. Parecia que meu corpo tinha sido violentado.

Se eu soubesse EXATAMENTE tudo o que me esperava, teria outros elementos para tomar minha decisão. Sabendo exatamente como era, eu esperaria os 6 meses (com a MINHA consciência bem tranqüila!). Para os MEUS parâmetros, o exame é sim MUITO invasivo. Pode ter evoluído bastante da biópsia convencional, pode ter evitado o centro cirúrgico e deve, sim, ser indicado para pessoas que tenham lesões bastante suspeitas e que poderão evitar um procedimento ainda mais invasivo. Não uma pessoa jovem, que possa esperar para comparar por mamografia e possivelmente se verificar que eram lesões benignas, fisiológicas, decorrentes da passagem do tempo, da gravidez, da amamentação...(como dias depois, após o resultado, foi constatado).

E aí neste ponto é que nos perguntamos dos 'efeitos colaterais' da própria mamografia. Ela foi pensada para se detectar precocemente lesões malignas. Mas acaba que se detectam também lesões benignas que acabam gerando dúvidas e outros procedimentos médicos, muitas vezes desnecessários. Então me pergunto - até que ponto vale a pena fazer este exame aos 35 anos??

Não vou entrar aqui na questão da medicalização da saúde e da sociedade, da cultura do intervencionismo, do custo da medicina, isso dá muito pano para manga. Mas quero falar do DIREITO À INFORMAÇÃO.

Acredito firmemente no MEU direito de tomar decisões que digam respeito ao MEU corpo com base em INFORMAÇÕES COMPLETAS E CONFIÁVEIS. Não é possível que nos sejam passadas APENAS as informações convenientes. Não é possível que os resultados de pesquisas circulem apenas em meio restrito e em um vocabulário ininteligível para os reles mortais. Não dá!!


Nota da autora: Diante de comentários vários que foram deixados aqui, escrevi posteriormente outra mensagem sobre o assunto. Se tiver interesse, clique aqui.