sexta-feira, fevereiro 27, 2009

Coisas que eu gosto

Gosto do prazer das pequenas coisas. De olhares, sorrisos, abraço apertado, beijo na boca, borboletas coloridas, cafuné, bilhetes inesperados.
Gosto de parar no meio da tarde e tomar uma coca-cola muitíssimo gelada no gargalo ou um café espresso de qualidade, saboreando o prazer sublime de cada pequeno gole.
Gosto de olhar para o céu azul e sorrir para ele, agradecendo por ele estar lá, todo grandão só para mim.
Gosto de dormir tarde e não ter hora para acordar. Gosto de não ter hora... Fico feliz em almoçar às 5 da tarde nos sábados e domingos...
Gosto de deitar em lençóis recém-lavados e ficar sentindo aquele cheirinho de coisa limpa.
Gosto de cheirinho de bebê e de bolo de avó. Minha avó fazia bolo de caixa. Mas era bom também. E cobria com calda de laranja com açúcar. Era o céu! Minha outra avó ainda faz em ocasiões especiais um rosbife de fatias milimétricas acompanhado por creme de milho. Rosbife de avó também é céu...
Gosto de dormir depois do almoço e dirigir ouvindo música alta. Gosto de abrir as janelas do carro e sentir o vento quando passo no Parque da Cidade. Gosto de respirar ar puro. Gosto de barulho de cidade, mas não gosto de cidade barulhenta. Gosto de ouvir o silêncio. Gosto do dia e da noite, mas não gosto quando anoitece nem amanhece. Gosto de mudança, mas também gosto de constância.

Também gosto do prazer das coisas complexas e bem elaboradas. Gosto de orquestras sinfônicas e de uma representação de Shakespeare. De ouvir um discurso bem elaborado e de gente inteligente e articulada falando. Gosto da maioria dos avanços científicos e tecnológicos, embora deteste a poluição, a degradação ambiental e a exploração de pessoas que muitas vezes os acompanham.
Gosto de viagem de navio e de aviões que me levam rapidamente aonde quero chegar. Não gosto de escalas nem conexões. Não gosto de esperar. Gosto de tomar café e comer pão de queijo no aeroporto (e isso é simples).
Gosto de palavras complicadas (embora elas não pertençam ao meu vocabulário). Gosto de poemas e de Fernando Pessoa. Gosto de Graciliano Ramos a despeito de seu mau humor. Também gosto de Machado de Assis e Chico Buarque. Gosto de Guimarães Rosa e Nietzsche, mas eles ainda são 'demais' para mim.
Gosto de entender as pessoas e buscar a origem dos problemas, mesmo que doa e que eu não saiba o que fazer com as descobertas.
Gosto de flores. Elas são complicadas e simples.
Gosto de aprender todo dia e pensar nos porquês da vida e do mundo.
Gosto da vida.

segunda-feira, fevereiro 16, 2009

Mamotomia 3 - O retorno

Faço questão de abrir nova postagem para responder ao prezado anônimo que me escreveu e celebrar a terceira vez que compareço a meu blog para falar de um assunto que pensei que estaria encerrado da minha vida a partir da primeira vez que terminasse de escrever livremente sobre ele, como num momento de catarse. Ledo engano.

Abaixo está a mensagem dele (suponho que seja ele, mas pode ser ela):

“Trabalho com mamotomia há alguns anos, vejo muitos casos de mulheres jovens que fazem o exame e infelizmente tem seu diagnóstico confirmado como um cancer, o que se sente faz vc esquecer todo o resto, vc devia só agradecer a Deus, achei seu depoimento desencorajador mesmo depois de seu segundo depoimento, ainda creio que vc nao tem consciencia da importancia que esse exame tem na vida das pessoas. Ja conversei com muitas pessoas que fizeram o exame e nenhuma delas relataram que nem puderam levantar os braços durante algum tempo, pedimos isso por uma prevençao que nao haja sangramento uma vez que vc nao toma pontos e realmente nao fica com cicatriz, achei um exagero, e digo mais, a maioria das pessoas que vao realizar esse exame estao tao apavoradas com a possibilidade de um cancer que preferem nem saber como é o exame e mesmo assim explicamos (sem exageros) o que normalmente acontece, se o seu caso foi uma excessao por favor nao assuste ainda mais quem precisa realizar o exame. Vc ja parou pra pensar se vc voltasse depois de 6 meses e de b3 evoluisse para b5? Vc tb nao ficaria brava sabendo que perdeu tanto tempo? Pense nisso”

Gostaria de responder por partes:

“Trabalho com mamotomia há alguns anos, vejo muitos casos de mulheres jovens que fazem o exame e infelizmente tem seu diagnóstico confirmado como um cancer,”

Sim, você tem razão e isso não é novidade. Conforme comentei e conforme tem sido amplamente anunciado na mídia os casos de cânceres, sobretudo de mama, em mulheres jovens tem crescido vertiginosamente. Aliás, pouco se tem comentado sobre possíveis causas e seu grau de influência sobre a doença – Stress moderno? Tabagismo? Agrotóxicos? Hormônios? Poluição? Pílula anticoncepcional? Radiação (inclusive proveniente de exames)? Substâncias cancerígenas presentes em alimentos, medicamentos, solventes e em centenas de produtos industrializados?..

“o que se sente faz vc esquecer todo o resto, vc devia só agradecer a Deus,”

Não entendi bem se quis dizer que por ter o resultado negativo eu deveria esquecer todo o resto ou se eu tivesse o resultado positivo eu esqueceria todo o resto. De uma forma ou de outra, não cabe a mim.
Quanto à segunda parte, supondo que eu seja uma pessoa cristã eu até poderia agradecer a Deus pela minha saúde (enquanto a tenho) e de forma alguma isso excluiria o meu direito de cidadã em um país democrático de dizer como me sinto em relação a qualquer coisa ou procedimento. Incomode a quem incomodar.

“achei seu depoimento desencorajador mesmo depois de seu segundo depoimento,”

Discordo totalmente. Meu depoimento não é - nem pretende ser - encorajador ou desencorajador. É simplesmente uma história - a minha história. A história que eu vivi e que pode ser única e completamente diferente de todas as outras, mas que nada muda o fato de ter sido vivenciada por mim.

Ademais, qualquer pessoa que esteja realmente desconfiada de ter câncer não vai desistir de fazer uma biópsia simplesmente porque é desagradável. Assim como as pessoas não desistem de amputar suas pernas gangrenadas mesmo sabendo que a recuperação será dolorosa e que haverá vários outros riscos porque sabem que correm risco de morrer se não o fizerem (o que deve ser pior!). O que não dá é para encorajar na base da mentira, tipo “vamos lá tomar essa injeção, filhinho, é igual a uma picadinha de formiga”. Estamos tratando de tomada de decisão por pessoas adultas e conscientes dos riscos de suas escolhas.

“ainda creio que vc nao tem consciencia da importancia que esse exame tem na vida das pessoas.”

Prefiro não comentar...

“Ja conversei com muitas pessoas que fizeram o exame e nenhuma delas relataram que nem puderam levantar os braços durante algum tempo, pedimos isso por uma prevençao que nao haja sangramento uma vez que vc nao toma pontos e realmente nao fica com cicatriz,”

Como eu te falei, essa era só a “minha” história. Acho que não deve corresponder a 100% dos casos, mas não é a única, nem a pior. Vou colar aqui trecho de um depoimento de um marido que me escreveu falando da situação da esposa após o exame: “minha mulher está sofrendo com muitas dores: efeito da mamotomia e já faz quase 40 dias. Ainda sente muita, mas muita dor. (...) Ela está desesperada e sente muitas dores. Já foi várias vezes ao médico que diz que está tudo bem. Vai hoje de novo.(...).”

Quanto à cicatriz, ela é bem pequena, mas acho que não pode afirmar que “não fica com cicatriz”. Ainda mais se a pessoa tem tendência a formar queloide.

“achei um exagero, e digo mais, a maioria das pessoas que vao realizar esse exame estao tao apavoradas com a possibilidade de um cancer que preferem nem saber como é o exame e mesmo assim explicamos (sem exageros) o que normalmente acontece, se o seu caso foi uma excessao, por favor nao assuste ainda mais quem precisa realizar o exame.

Olha, eu confesso que acho uma ousadia de sua parte afirmar (sem ter qualquer condição de saber) que a dor de alguém é “exagero”. Aliás, eu acho que essa é uma conduta preocupante quando parte de um profissional de saúde. Imagino que seja um quando diz “trabalho com mamotomia há muito tempo”. Só sei que é por desconsiderar os sintomas referidos que muita gente é mal diagnosticada por aí....

Sim, existem pessoas que preferem não saber como é o exame, a cirurgia, ou o tratamento a que vão se submeter. Mas há aquelas que querem saber tudo, detalhe por detalhe. Então como saber a que classe pertence a pessoa sem perguntar? A mim não me foi perguntado se eu queria saber. Simplesmente foram minimizados os sintomas pelo médico solicitante (nem sei se intencionalmente ou por ignorância) e, na clínica, provavelmente por incompetência e falta de profissionalismo. Pois em qualquer livro ou manual de procedimentos você verá lá escrito que deve-se orientar o paciente sobre o que ele vai experimentar e fazer o adequado preparo psicológico. Outra coisa que acho que deve se tomar muito cuidado é entre o tênue limite entre “explicar (sem exageros)” e “minimizar” ou “enfeitar”.

Ok, meu caso pode ser exceção. Mas o fato irrefutável é: minorias existem e exceções acontecem!

Outra coisa que me assusta é esse “apavoramento” que existe em relação ao câncer e a outras doenças e situações. Toda vez que se cria uma cultura de medo em torno de alguma coisa, corre-se o risco de alguém ser explorado ou de se ver decisões estapafúrdias (vide as leis criadas pós 11 de setembro). Novamente pergunto “quantos exames diariamente são feitos porque as pessoas estão “apavoradas” e não questionam seus tratamentos???”

Quanto ao seu pedido final, eu sinto muito mas não consegui entender.... A sua idéia é que eu retire meu depoimento do ar? Que eu ignore o que me aconteceu? Que eu apague o registro histórico dessa “exceção”?? Como assim, não assuste mais quem precisa realizar o exame?? Eu acho que quem é tão suscetível assim para se deixar influenciar não deve sair pesquisando coisas na Internet, pois como se sabe a gente pode achar todo tipo de coisa... Agora se a sua idéia é continuar "trabalhando com mamotomia" sem ter que ter a chateação de ter que ficar respondendo pergunta de quem acha que vai sentir dor pelos próximos dias, não conte comigo para ajudá-lo.

Vc ja parou pra pensar se vc voltasse depois de 6 meses e de b3 evoluisse para b5? Vc tb nao ficaria brava sabendo que perdeu tanto tempo? Pense nisso”

Olha, se eu voltasse em 6 meses e o exame tivesse evoluído de B3 para B5, a primeira coisa que pensaria é que um dos dois laudos deveria estar errado. Ou um ou outro responsável técnico deveria ter pisado na bola. Se os dois estivessem rigorosamente certos, eu ia pensar que eu era muito azarada – realmente uma exceção na humanidade e certamente iria escrever para todas as sociedades médicas contando o caso e alertando para que se fosse repensada a padronização de Birads e os protocolos de conduta.

Por fim, pela sua recomendação final, caro anônimo o que posso concluir é que você não entendeu definitivamente nada do que eu escrevi e eu sinto muito – por você e por suas pacientes.

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Respondendo um Meme

Ai, adorei essa história de Memes. Recebi um. Foi da Luelena, minha cara amiga Luiza Helena.

A tarefa era a seguinte:

1-Agarrar o livro mais próximo;
2-Abrir na página 161;
3-Procurar 5ª frase completa;
4-Colocar a frase no blog;
5-Repassar pra 5 pessoas.

Aqui vai. A quinta e também as seguintes.

O livro é "Memória Póstumas de Brás Cubas", do nosso genial Machado.

Era uma dessas figuras talhadas em pentélico, de um lavor nobre, rasgado e puro, tranquilamente bela, como as estátuas, mas não apática nem fria. Ao contrário, tinha o aspecto das naturezas cálidas, e podia-se dizer, que, na realidade, resumia todo o amor. Resumia-o sobretudo naquela ocasião, em que exprimia mudamente tudo quanto pode dizer a pupila humana.

Tenho que confessar: não peguei o livro mais próximo. Tentei, o primeiro próximo, e o segundo, e o terceiro,... mas nenhuma frase trazia a emoção, o sentido ou a informação que eu queria que tivesse. Acabei chegando nessa acima. Há punição para desobedecer ordem de Meme?

Para não perder o trabalho e em caso de haver algum curioso passando por aqui:

- Se, pois, se. (Primeiras Estórias, Guimarães Rosa)
- Pelo contrário, amava-o, mas era demais, sexual demais. (Alegria, Alexander Lowen)
- Olhar o curto prazo é bem diferente de olhar a longo prazo. (A organização por trás do espelho, de Fela Moscovici e cols.)
- No ambiente informático haveria "memórias de acesso aleatório dos computadores, bem como os dispositivos de armazenamento não lineares (disquetes, discos rígidos, CD-ROMs, CD-Is, laserdiscs), que permitem disponibilidade instantânea de todas as possibilidades articulatórias, inclusive conceber obras como inacabadas, em estado potencial" (Cruzes!! Dormi. Era uma citação de Silva, M.O.S, no livro Complexidade e Aprendizagem - A dinâmica não linear do conhecimento, de Pedro Demo).

Como já cometi um deslize, vou cometer o segundo. Nâo vou repassar. Tenho que confessar: não tenho coragem. Sinto vergonha! Como se fosse dar trabalho extra prá alguém...
Vou tratar na terapia, depois volto... Enquanto isso, é melhor não contarem comigo, sou quebra-correntes!!

terça-feira, fevereiro 03, 2009

Curtindo a última semana de férias

Segunda e última semana de férias. Que vontade que se estendesse até o fim do ano!. O sol continua firme, o céu e o mar azuis e a nossa pele cada vez mais bronzeada. Nem um pingo de saudade da cidade. O colchão é bom, o ar-condicionado silencioso e os coqueiros combinam com o céu. Não tenho que me preocupar com o supermercado, nem com a lavagem de roupas. Posso sobreviver com dois biquines e um par de havaianas. Acho que estou no paraíso.



Alguns acontecimentos inusitados ou incômodos me tiraram desse estado de êxtase e harmonia:

- Não consegui assistir aos episódios inéditos dos meus seriados imperdíveis: Law and Order e Law and Order - SVU (Special Victims Unit). Segunda-feira às 22 horas em ponto estava eu lá quase pulando com o marido que não encontrava o canal. Rodamos aquele seletor umas sete vezes e nada! Telefono para o número de informações do hotel. Reclamo que a Universal não está mais lá. Como assim, estava antes?, pergunta o moço. Sim, afirmo, mas agora não está mais. Todos os canais estão normais menos o que eu quero assistir. Bem, não detectamos nenhum problema, mas vou dar uma olhada, avisa o solícito atendente. De repente, cai a ficha e me lembro que, na verdade, não foi neste hotel que assistimos à TV na última semana. Realmente o canal não sumiu, ele nunca estivera lá.

- topei em três diferentes ocasiões com três iguanas diferentes (quem disse que eu queria tanto contato com a natureza?).


Essa foi a primeira. Uma moça disse que estava grávida.


Que meiguinha comendo flores.

- fui parar no médico por causa de uma amigdalite (bem branda felizmente, não comprometeu a programação)

- fui parar no médico após um ataque de água viva (acho que era apenas um tentáculo solto, que se prendeu nas minhas pernas e foi o suficiente para causar uma queimação e uma ardência horríveis. Não imaginava que era tão forte! Saí do mar correndo e pulando. O marido prestativo retirou todos os filamentos presos. Os locais me arrumaram uma papa de farinha que aliviou bastante. Mas depois fui enxaguar na água corrente e o negócio não prestou. Começou a arder e queimar muito. Formou-se um vergão pontilhado em todo o trajeto em que o negócio encostou. Depois começou a subir uma dor pela coxa e abdômen inferior. A coisa mais esquisita. A dor ficou tão intensa que tivemos que sair às pressas para encontrar um posto de saúde ou hospital. Lá aplicaram bastante soro fisiológico para lavar e depois muito vinagre, o 'antídoto'. Bom saber! Tomei dipirona e hidrocortisona na veia e logo estava sarada. Pena que com toda a agonia não deu prá pensar em tirar foto das pernas! Ficou bem legal! Depois consultamos na Santa Net que a lavagem deve ser feita com soro fisiológico, água do mar ou água com sal, nunca com água doce. Confirmo.)

- fui parar no médico após um dia inteiro de viagem e programação, às duas da manhã porque a filhotinha teve uma terrível dor de ouvido após a viagem de avião. Felizmente melhorou após medicação e pude dormir em paz por cinco horas.

Acho que estou precisando de férias!