Hoje tomei um banho, me arrumei e me dirigi a um encontro,
de improviso, comigo mesma. Fiquei tentando lembrar há quanto tempo isso não
acontecia. Deixar-me levar pela água quente do chuveiro, passar lentamente meu creme preferido, respirar o aroma do meu perfume mais querido...
Achava que queria sair de casa, ver gente, fazer algo. Queria
uma vitrine para observar, um filme no qual viajar, um livro com personagens nos
quais pudesse me diluir, um seriado no qual me perder. Mas tudo isso também estava
me cansando. Ademais, já tinha olhado vitrines demais, tomado café demais e comido
chocolate demais. Precisava ser mais original. Deixar as velhas soluções de
lado.
Acabei percebendo que não havia mesmo vontade nem propósito. Não havia um destino desejado, nem um porquê
especial, que o objetivo obscuro era simplesmente afastar-me de mim, dos meus
medos, das decisões por tomar e dos milhares de pensamentos desagradáveis que
me afligiam. Era perceber como é difícil viver... Como me sentia impotente, incompetente, carente.
Aproximei-me de minha escrivaninha, sentei no meu banquinho, respirei fundo, olhei para a folha
em branco e esperei virem as respostas que trariam conforto às minhas dúvidas.
Traíras! Não vieram.
O papel não sabia o que me dizer. O lápis não sabia o que escrever. Teria mesmo
que me encontrar sozinha.