
Hoje estava numa loja e sobre o balcão havia uma revista mostrando a imagem de Cissa Guimarães na capa e anunciando uma reportagem com ela, em que dizia 'meu filho está mais vivo do que nunca, eu é que morri'.
Consigo imaginar exatamente o que é essa sensação, essa morte interior, esse vazio na alma, esse abismo no coração, esse oco em todas as entranhas. De repente, a paisagem perde a cor, você perde o rumo, o sentido e a razão. A vida vira fardo, acordar dói, respirar parece desnecessário. Só a vontade de não ser, não estar, não fazer. Desaparecer do mundo e de dentro de si. Só que até isso parece exigir esforço demasiado e impossível.
Mas morrer em vida exige renascer em algum momento, caso contrário enlouquece-se.
Aprender a viver demanda aprender a morrer e a nascer de novo. Ainda que doa, ainda que se parta cada célula do corpo. Só se supera a dor quando se consegue experienciar cada segundo dela, quando se choram todos os prantos e todas as lágrimas, quando se calam todas as palavras, quando se grita todo o desespero. Renascer exige humildade, resignação e paciência. Pois há de se esperar o tempo de cada coisa. O tempo necessário. Totalmente diferente do tempo desejado.
Já morri e renasci por razão diversa. Já morri de amor. Amor que não era de filho, mas que também era maior que eu. Perdi-me de mim e tive que me reencontrar. Como não era possível, precisei me reinventar. Leva tempo... mas é possível, porque o ser humano tem uma incrível capacidade de superação. Acho que porque carrega em si uma fagulha do fogo divino da criação.
Grávida, sinto em cada instante o milagre da vida e do amor que cresce dentro de mim. Anseio pelo dia em que verei seu rostinho, aconchegarei seu corpinho em meu colo, assistirei a seu crescimento e essa ideia abstrata de amor se materializará na forma de cuidado e convivência.
Por experiência prévia sei que sentirei esse amor visceral e inexplicável crescer a cada dia, mesmo quando parecer não ser mais possível, mesmo quando parecer já ter enchido o coração.
Filho faz crescer o coração da gente. E é capaz de levá-lo junto de si quando parte sem pedir licença.
