A idéia é refletir, meditar, discutir, desabafar... histórias, sentimentos, experiências, vivências... o cotidiano dessa vida urbana louca de uma mulher - mãe, profissional, esposa, dona-de-casa - em busca de viver e de ser feliz.
terça-feira, agosto 23, 2011
10 anos e 10 meses
Esse é um mês especial. Tenho uma filha de 10 anos. E outra com 10 meses.
A situação é desafiadora e igualmente mágica e nunca mais irá se repetir. Não posso prescindir de fazer o registro histórico das muitas coisas que aconteceram nessas primeiras semanas de agosto.
A de 10 anos começou a fazer aulas de inglês. A de 10 meses comeu uma minhoca.
A de 10 anos ganhou um cachorro e está aprendendo a cuidar dele. A de 10 meses entrou na creche e passou bem o período de adaptação.
A de 10 anos está gostando de um menino da escola. A de 10 meses está sofrendo com o nascimento de seu quarto dentinho.
A de 10 anos colocou aparelho. A de 10 meses perdeu a chupeta preferida.
A de 10 anos foi a festas todos os últimos fins de semana. A de 10 meses acordou de três em três horas todas as últimas noites.
A de 10 anos começou a usar meus sapatos. A de 10 meses comeu um de meus sapatos.
A de 10 anos quer dormir e acordar tarde. A de 10 meses quer dormir e acordar cedo.
A de 10 anos não quer desgrudar de seu Nintendo DS, está preocupada com seus Puffs e com a decoração de seu iglu no Club Penguin. A de 10 meses faz uma dancinha quando nos entrega alguma coisa em mãos e gosta de ouvir (e dramatizar) Meu Pintinho Amarelinho.
A de 10 anos curte Justin Bieber, Selena Gomez, Drake and Josh e I-Carly. A de 10 meses se amarra na Dona Aranha.
A de 10 anos não gosta de ser contrariada. A de 10 meses também não.
A de 10 anos acha que tudo é pagar mico. A de 10 meses lambe a parede do restaurante.
A de 10 anos está fazendo operações com frações. A de 10 meses se diverte atirando objetos diversos no chão.
A de 10 anos fez um lindo cartão no dia dos pais e assinou pelas duas. A de 10 meses descobriu como fazer bocas e bicos divertidos.
A de 10 anos dá boa noite e diz que nos ama. A de 10 meses sorri seu sorriso quase banguela, dá seus gritinhos e estende seus bracinhos.
As duas gostam de abraços!
segunda-feira, agosto 01, 2011
Não há silêncio que não termine
Acabei de ler nesse fim de férias o livro-relato de Ingrid Betancourt sobre os seus seis anos e meio de cativeiro na selva amazônica, como refém das FARC. A leitura levou meses. Quando comecei minha filha acabara de nascer, terminei às vésperas de seus 10 meses. Isso porque não me foi possível fazer uma leitura contínua e regular, precisava de pausas, que duravam semanas ou meses, pois não era todo dia que eu tinha a coragem de conhecer e compartilhar dos detalhes sombrios dessa história real e cruel.
Pessoas que de repente foram privadas de suas vidas, apartadas bruscamente de suas famílias, seus trabalhos, suas casas e desprovidas de qualquer conforto e, pior, submetidas a tratamento desumano e degradante, sob todos os aspectos físicos, psíquicos, sociais e morais. E o pior sob a desculpa de ser um movimento revolucionáro, de libertação do povo. Pura balela!! Me surpreende e me enoja saber que há gente que ainda defenda um movimento com essas características, que se chama de social, mas que é puro terrorismo.
Dormindo em abrigos improvisados, muitas vezes sob chuva, nem sempre protegidos, numa mata inóspita em que não faltavam mosquitos, carrapatos, formigas, aranhas, que invadiam seus espaços e aumentavam sua tortura. Mal alimentados, não raramente adoeciam e nem sempre tinham o adequado e necessário tratamento. Obrigados a fazer caminhadas que duravam semanas e até meses para mudar de acampamento e restringir o risco de serem descobertos pelo exército colombiano, viam seus corpos sofrer em feridas, bolhas e pústulas e seguidamente definharem. Muitas vezes amarrados por correntes, presos pelos pescoços como animais, observando impotentes seus pertences serem subtraídos pela guerrilha, impedidos de conversar uns com os outros, vestindo farrapos, obrigados a fazer suas necessidades em lugares inóspitos, muitas vezes em frente uns dos outros, ameaçados de morte.... enfim, uma infindável lista de horrores impossível de resumir e que simplesmente me impede compreender como esses homens e mulheres conseguiram manter-se fortes para continuar lutando pela vida, como venceram o desejo de entregar-se e deixar-se levar...
É um livro lindo, muito bem escrito, que contém não apenas uma história, mas várias histórias de vidas que se cruzaram em um momento peculiar e penoso e inacreditavelmente tão perto de nós. Um livro que fala do sofrimento, da angústia, da dor, do medo e da fome, mas também da fé, da esperança, do amor, da família, do que é essencial e do que é supérfluo ao humano. Faz a gente repensar nossa vida, nossos valores, nossas prioridades. Certamente vale a pena ser lido.
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