segunda-feira, agosto 01, 2011

Não há silêncio que não termine


Acabei de ler nesse fim de férias o livro-relato de Ingrid Betancourt sobre os seus seis anos e meio de cativeiro na selva amazônica, como refém das FARC. A leitura levou meses. Quando comecei minha filha acabara de nascer, terminei às vésperas de seus 10 meses. Isso porque não me foi possível fazer uma leitura contínua e regular, precisava de pausas, que duravam semanas ou meses, pois não era todo dia que eu tinha a coragem de conhecer e compartilhar dos detalhes sombrios dessa história real e cruel.

Pessoas que de repente foram privadas de suas vidas, apartadas bruscamente de suas famílias, seus trabalhos, suas casas e desprovidas de qualquer conforto e, pior, submetidas a tratamento desumano e degradante, sob todos os aspectos físicos, psíquicos, sociais e morais. E o pior sob a desculpa de ser um movimento revolucionáro, de libertação do povo. Pura balela!! Me surpreende e me enoja saber que há gente que ainda defenda um movimento com essas características, que se chama de social, mas que é puro terrorismo.

Dormindo em abrigos improvisados, muitas vezes sob chuva, nem sempre protegidos, numa mata inóspita em que não faltavam mosquitos, carrapatos, formigas, aranhas, que invadiam seus espaços e aumentavam sua tortura. Mal alimentados, não raramente adoeciam e nem sempre tinham o adequado e necessário tratamento. Obrigados a fazer caminhadas que duravam semanas e até meses para mudar de acampamento e restringir o risco de serem descobertos pelo exército colombiano, viam seus corpos sofrer em feridas, bolhas e pústulas e seguidamente definharem. Muitas vezes amarrados por correntes, presos pelos pescoços como animais, observando impotentes seus pertences serem subtraídos pela guerrilha, impedidos de conversar uns com os outros, vestindo farrapos, obrigados a fazer suas necessidades em lugares inóspitos, muitas vezes em frente uns dos outros, ameaçados de morte.... enfim, uma infindável lista de horrores impossível de resumir e que simplesmente me impede compreender como esses homens e mulheres conseguiram manter-se fortes para continuar lutando pela vida, como venceram o desejo de entregar-se e deixar-se levar...



É um livro lindo, muito bem escrito, que contém não apenas uma história, mas várias histórias de vidas que se cruzaram em um momento peculiar e penoso e inacreditavelmente tão perto de nós. Um livro que fala do sofrimento, da angústia, da dor, do medo e da fome, mas também da fé, da esperança, do amor, da família, do que é essencial e do que é supérfluo ao humano. Faz a gente repensar nossa vida, nossos valores, nossas prioridades. Certamente vale a pena ser lido.

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