
Filhotinha tem 11 anos e começa a apresentar alguns males da idade: irritabilidade fácil, mania de querer ficar trancafiada no quarto, aversão a regras, dever de casa e aula de história, crença de que tudo é mico, principalmente os comportamentos paternos e revelia a qualquer demonstração de afeto em público, inclusive e sobretudo a revelação de apelidos fofos e carinhosos.
Nisso, ela se parece com as típicas meninas de sua idade, mas em outros aspectos é bem diferente. Como assim?
Não gosta de rosa, de ti-ti-ti de meninas, princesas nunca e nem pensar (já avisou sobre a irmã mais nova: 'mãe, se a Marina gostar de princesas, eu vou vomitar!') e não é chegada a roupas (nem que sejam novas), compras e acessórios. Recentemente, encontrei uma sacola com roupas que eu havia comprado para ela e deixado para que experimentasse (a rotina tem que ser essa uma vez que não suporta ir a lojas e mais ainda ter o trabalho de tirar uma peça de roupa ou um pé de sapato para colocar outro). Quando fui conferir a etiqueta: maio de 2011!!!
Ontem estávamos na papelaria vendo os últimos detalhes de material escolar. Avistei uma fila de bolsas e sacolas em promoção. Quase enlouqueci! 'Filha, olhe que lindas, vamos comprar?' E aí a pergunta inesperada: "Para quê?" Como assim, para quê? Precisa uma razão para ter uma linda bolsa nova em seu guarda roupa e a possibilidade de usá-la a qualquer momento nas próximas semanas ou meses? "Ué, filha, para usar no dia-a-dia, colocar suas roupas quando você for dormir na casa de sua prima, qualquer coisa..." "Hmmm, (se virando para os vendedores) tem alguma com caveira?" O rapaz da loja gentilmente vai verificar e nos leva para o estoque que ficava na sala ao lado. Achamos algumas fofas com pequenas caveirinhas. Toda preta com caveirinhas rosas. Vem a exclamação: "Rosa?! Hmmm, mãe, acho melhor não, vou acabar não usando." Pelo menos não posso reclamar de falta de consciência e de excesso de consumismo.
A última da semana foi o comentário espontâneo enquanto estávamos em algum silêncio: "mãe, não gosto mais de ir ao dentista!" Tadinha, pensei. Deve estar cansada dessa história de aparelho desde que tem 5/6 anos. E agora, aparelho fixo, visitas mensais ao consultório, aquele incômodo chato durante três dias após apertar os arames... "É, filha? Por quê?, pergunto em tom de compaixão, o coração apertado de solidariedade e dó. E a resposta vem objetiva e imediata: "Ah, não aguento mais essa coisa de ter que escovar os dentes toda vez!"
