domingo, dezembro 27, 2009

Conversando a gente pode se entender



Estava de bobeira, relaxando num riacho de águas rasas e cristalinas, que a alguns metros a frente, após seu caminho deliciosamente sinuoso, chegaria ao seu destino final, uma linda praia. Meu momento mágico de contemplação da paisagem e reflexão sobre a delícia do instante é subitamente interrompido pela voz alterada de uma avó que reclama com a netinha, de cerca de 2 anos, que acabara de bater na irmã mais velha por algum motivo bobo.

A avó, uma jovem senhora, que até poderia passar por mãe dela, gritava com a bebê, que ria em desdém da bronca. O tom da conversa me fazia pensar que ambas tinham a mesma idade. O fato é que a atitude da menininha estava deixando a avó cada vez mais irritada. Seus dedos em riste movimentavam-se mais intensamente, até que veio a previsível, barulhenta e desnecessária palmada. Seguiu-se das palavras raivosas: 'você não pode bater na sua irmã, está ouvindo?!".

Em seguida, choro e mágoa. Do lado de cá, angústia e suspiros.


Pergunto: como ensinar a não bater, batendo? Como ensinar a não-violência, violentamente?

Parece que alguma coisa não faz sentido.



2 comentários:

Flavinha disse...

Oi Ju!

É impressionante a minha sintonia com você! Vira e mexe, quando eu passo aqui me surpreendo com você escrevendo sobre coisas que eu estava refletindo! Desta vez foram três assuntos numa única visita: a agressividade com as crianças, o episódio duplamente vergonhoso de um jornalista de peso e as leituras recentes (sobre isso eu estou devendo um post a mim mesma no meu blog). Isso sem falar no Haiti, que na verdade me choca e abala tanto que eu não consigo comentar...

Mas vou fazer um comentário de cada vez, tá?

Beijocas.

Flavinha disse...

Já faz um tempo que eu também estou incomodada em ver como as pessoas têm tratado as crianças... além das palmadas, que definitivamente não ensinam a não bater (isso é tão óbvio! como as pessoas não entendem?), ando horrorizada com a agressividade verbal, a grosseria como as pessoas lidam com as crianças. É triste... Ontem vi uma mãe aos berros com um menino de uns 4 anos porque ele apanhou no asfalto, junto ao meio fio, a tampinha da garrafa d'água que ela deixou cair: -LARGA! ISSO É SUJO! VOCÊ NÃO ESTÁ VENDO? ISSO É SUJO! Ela foi incapaz de reconhecer que ele estava fazendo aquilo por ela, para ela... Ele ficou olhando, tristeza e confusão estampados no rosto, sem entender porque ela brigava tanto, se ele acabara de lhe prestar uma ajuda... E ela simplesmente não explicou nada para ele, apenas esfregou a mão dele na sua calça para limpar, depois segurou seu pulso e atravessou a rua como se estivesse puxando um saco pesado. Eu não gosto de julgar, sei que todo mundo erra e que vez ou outra todo mundo perde a cabeça. Mas o que me entristece é que eu vejo cenas como esta cada vez com mais frequência... Muito triste...