Ano passado descobri e me apaixonei pelas Memórias e Confissões de Nelson Rodrigues(crônicas diárias que eles escrevia para os jornais Correio da Manhã e O Globo no final da década de 60, início da de 70). Entrei em contato com elas por meio das recentes e maravilhosas publicações da Editora Agir. Tratam-se de reedições muito bonitas e bem acabadas de O Óbvio Ululante, O Reacionário, A Cabra Vadia, A menina sem estrela, crônicas selecionadas pelo próprio Nelson, que devorei seguidamente, uma após a outra, além de algumas de 'A vida como ela é...' e seu único romance - O casamento.
Agora estou lendo O Anjo Pornográfico, sua fantástica história de vida, escrita por Ruy Castro. E como falei há pouco de tristeza, dor e tragédia (coisas de que era mestre e que conheceu de perto), senti vontade de transcrever aqui um trecho do livro em que ele explicava a sua coluna diária "A vida como ela é...", que muita gente acusava ser de 'uma imensa tristeza'. Disse ele:
Na minha opinião, "A vida como ela é..." se tornou justamente útil pela sua tristeza ininterrupta e vital. Uma pessoa que só tenha do mundo uma visão unilateral e rósea, e que ignore a face negra da vida, é uma pessoa mutilada. Por outro lado, nego a qualquer um o direito de virar as costas à dor alheia. Sei que nenhum de nós gosta de se aborrecer. Mais importante, porém, que o nosso frívolo conforto, que o nosso alvar egoísmo - é o dever de participar do sofrimento dos outros. Há uma leviandade atroz na alegria!
Resta mencionar um episódio que marcou decisivamente essa seção. Dias antes de começar "A vida como ela é..." estive, acidentalmente, numa policlínica. Lá, numa sala apinhada, estava um menino de três ou quatro anos, no colo materno. Súbito, a criança começa a chorar. Mas seu pranto era diferente: ele chorava pus. Desejo ser sóbrio, mas permitam-me dizê-lo: viva eu cem, duzentos, trezentos anos e terei comigo, cravada em mim, essa lágrima espantosa. Durante meses, tive vergonha de minha alegria, remorso do meu riso, horror de minhas lágrimas normais e apresentáveis. Por vezes penso: rir num mundo tristíssimo é o mesmo que, num velório, acender o cigarro na chama de um círio.
Não acho que toda alegria seja leviana, nem que não tenhamos direito a ela porque alguém no mundo sofre. Acho até que a busca da verdadeira alegria é uma das grandes razões de nossa existência. Mas a alegria inconsciente, aquela alegria distraída, displicente, desconectada, irresponsável, que desconsidera ou nem percebe a dor alheia ou por vezes simplesmente ignora esse outro ao nosso lado o é. Essa alegria não desejo para mim, nem para ninguém.
A idéia é refletir, meditar, discutir, desabafar... histórias, sentimentos, experiências, vivências... o cotidiano dessa vida urbana louca de uma mulher - mãe, profissional, esposa, dona-de-casa - em busca de viver e de ser feliz.
quinta-feira, janeiro 14, 2010
Tristeza
Meu profundo lamento pela tragédia ocorrida no sofrido e maltratado Haiti. Minha tristeza pela dor de cada um e pela morte da incansável batalhadora e vitoriosa Zilda Arns. Há tanta coisa que não faz sentido para mim. Essa é uma delas.
Queria que, no mínimo, a ajuda dos outros países pudesse ser suficiente. Impossível. O que também não faz sentido.
Imagens: Terra
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terça-feira, janeiro 12, 2010
domingo, janeiro 10, 2010
Domingo no parque
Passeio no Parque do Ibirapuera. Olho, fotografo, contemplo. Sentada na grama, numa sombrinha gostosa. Aros de bicicletas, de carrinhos de bebês, rodas de patins, tênis diversos, pernas coloridas passam ao meu lado. Gritinhos de bebês, risos, conversas enamoradas, conversas animadas, silêncios.
Penso que é um bom lugar para ler um livro e ouvir música. É bom sentar de pernas cruzadas na grama. É bom domingo de sol no parque.
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Miro e admiro a paisagem ao longe. Sinto-me alada, acima. De repente vejo que de longe alguém também me vê. De repente, também sou paisagem. Só paisagem.
Penso que é um bom lugar para ler um livro e ouvir música. É bom sentar de pernas cruzadas na grama. É bom domingo de sol no parque.
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Miro e admiro a paisagem ao longe. Sinto-me alada, acima. De repente vejo que de longe alguém também me vê. De repente, também sou paisagem. Só paisagem.
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terça-feira, janeiro 05, 2010
É uma vergonha!!!
Foi assombroso, quase inacreditável, ouvir tal comentário de um jornalista que eu julgava sério e respeitável. Nunca imaginei que pudesse ser tão preconceituoso, tão soberbo.
Veja aqui
No dia seguinte, um insípido pedido de desculpas.
Interessante notar a construção frasal que escolheu utilizar: "ontem, durante o intervalo do Jornal da Band, num vazamento de áudio, eu disse uma frase infeliz, que ofendeu os garis ..."
Primeiramente, não vi necessidade de destacar o vazamento de áudio. O problema foi ter vazado? Ademais, não foi 'uma frase', foram várias! Uma sequência! Mas acontece que, além de simplesmente infelizes e preconceituosos, tais comentários são gravíssimos, inconcebíveis e requeriam uma responsabilização, uma culpa mais solenemente assumida. Talvez dizendo algo como "ontem, no intervalo do jornal, eu fiz comentários bastante infelizes e ofensivos aos garis e por isso queria expressar meu lamento, assumir a vergonha, o embaraço desse ato e aí sim) "pedir profundas desculpas aos garis e aos demais telespectadores". Do outro modo, quase deu a entender que foram os garis que se sentiram desnecessariamente ofendidos pela pobre frase infeliz.
É uma ver-go-nha!!!
Veja aqui
No dia seguinte, um insípido pedido de desculpas.
Interessante notar a construção frasal que escolheu utilizar: "ontem, durante o intervalo do Jornal da Band, num vazamento de áudio, eu disse uma frase infeliz, que ofendeu os garis ..."
Primeiramente, não vi necessidade de destacar o vazamento de áudio. O problema foi ter vazado? Ademais, não foi 'uma frase', foram várias! Uma sequência! Mas acontece que, além de simplesmente infelizes e preconceituosos, tais comentários são gravíssimos, inconcebíveis e requeriam uma responsabilização, uma culpa mais solenemente assumida. Talvez dizendo algo como "ontem, no intervalo do jornal, eu fiz comentários bastante infelizes e ofensivos aos garis e por isso queria expressar meu lamento, assumir a vergonha, o embaraço desse ato e aí sim) "pedir profundas desculpas aos garis e aos demais telespectadores". Do outro modo, quase deu a entender que foram os garis que se sentiram desnecessariamente ofendidos pela pobre frase infeliz.
É uma ver-go-nha!!!
segunda-feira, janeiro 04, 2010
Tentando
A proximidade da morte, o contato com nossa finitude nos coloca para pensar na vida. Estou vivendo da maneira certa? Minhas escolhas correspondem a meus valores? Se eu morrer hoje, morro feliz? Estou deixando algo para trás? Tenho pendências para resolver? O que me impede de dar cabo delas? Quais são meus medos? E meus objetivos? Tenho sonhos? O que preciso para realizá-los? Sou inteira? Conheço minhas verdades? Sinto alegria pulsando no meu corpo? Meus olhos brilham?
As perguntas são muitas e conhecidas, beiram o ordinário. As respostas nem tanto. Duas máximas repetem-se em mim, para mim, como um mantra: 'conhece-te a ti mesma', 'torna-te quem tu és'.
Darei conta disso nessa vida que ainda tenho para viver? Não importa, tentarei. Continuarei tentando.
Imagem: Camponesa Sentada, Georges Seurat, 1883.
Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/especial/416_Guggenheim/page6.shtml
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