sábado, abril 17, 2010

Viajando com crianças - Natal e Manaus

Continuo expressando minha paixão pelas cidades, pela vida urbana. Acredito, contudo, que para mantê-la saudável é necessário vez em quando escapar de sua rotina. Esse é um princípio que tentamos sempre exercitar. Nas férias do fim do ano passado escolhemos dois destinos diferentes e deliciosos para ir com duas crianças, de 6 e 9 anos – Natal e Manaus.

Queríamos praia e queríamos contato com natureza. As crianças queriam brincar e encontrar bichos. Conseguimos isso nos dois lugares e pudemos, além de espairecer e nos divertir, curtir seus sorrisos e olhos brilhantes. As brigas eram cotidianas e fizeram parte da paisagem. Algumas viraram conversas, outras risos, algumas aprendizagem ou remédio contra a monotonia. Não é de perfeição que somos feitos ou de que vivemos, tolice pensar que nas férias é diferente.

Em Natal, nos hospedamos na praia da Ponta Negra e fizemos alguns dos passeios básicos para quem vai à cidade, que, aliás, está bem diferente do que havíamos visto há quase dez anos. Altos edifícios contrastam com o relevo plano e cortam a passagem livre dos ventos. Vêm atender à necessidade do ‘progresso’ da capital potiguar e acomodar a classe média emergente que quer morar com vista pro mar (não posso julgar, eu também quereria! Mas que se deveria ter melhor senso e proteger a natureza, a costa e o acesso livre e democrático ao mar e à sua vista e, claro, se preservar o adequado e necessário trânsito dos ventos, isso deveria).



1. Visita ao forte dos Reis Magos, sob um calor escaldante, às 8 da manhã. Bom para aproveitar a vista da nova ponte, que uniu os municípios antes separados pelo rio Potangi

Ponte Newton Navarro

Interior do Forte 3 Reis Magos:


2. Visita ao maior cajueiro do mundo, que hoje ocupa uma área de 20000 m² e continua impavidamente a crescer, gerando um impasse – deixá-lo, ou não, seguir sua natureza gigantesca.



3. Praia de Pirangi – meio sem graça, mas para quem está a mil e poucos quilômetros de qualquer mar é uma maravilha. Ademais, a calmaria e as águas mornas de seu mar são ótimas para crianças.



4. Banho de rio em Punaú, passeio de quadriciclo pelas areias de praias maravilhosas até Maracajaú, e mergulho para quem é de mergulho. Eu, que já fiz o primeiro, único e último da vida, em Noronha, com direito a encontro com barracuda e inesquecível dor nos ouvidos, aguardei tranquilamente na plataforma, aonde chegamos após divertido trecho de 7 km em uma lancha rápida.

Vista Ponta Punaú:

Vista da Praia de Punaú:




Parrachos de Maracajaú - maravilhosos!!


Filhotinha mergulhadora


Maridão mergulhador:


5. Roteiro esquibunda-aerobunda-emoções-de-buggy em Genipabu. Imperdível!! As paisagens são realmente belas, valia mesmo a pena ver e fazer tudo de novo! Filhotinha em sua primeira derrapada no skibunda:

E seu primeiro mergulho:

Sobrinho também quis se aventurar pelas montanhas de areia:

Filhotinha corajosa em aerobunda de Pirangui:


Vista da lagoa


6. Fotos divertidas nas dunas e lagos de Genipabu. Não podemos negar que a malandragem e o jeitinho brasileiro parecem não ter fim e têm lá a sua graça. Não é qualquer um que inventa tanta forma inusitada de garantir seu sustento. Fotógrafo de duna!? :-) Lá vão eles com seus apetrechos, convencendo os turistas a deixarem-se fotografar, em troca de uns alguns recheados trocados.


7. Filhotinha e seus animais. Tudo ela achava lindo e fofo, tinha que contemplar e se possível pegar e adular. E a gente dava o maior apoio, registrando tudo e aguardando o tempo para chamegos, que ela nunca considerava suficiente. Depois, já no Amazonas, viemos a descobrir que não é uma conduta correta apoiar as pessoas que usam os animais para demonstração. Tarde demais, já tínhamos dado nossa contribuição ao turismo anti-ecológico.


8. Almoço no Camarões Potiguar e no Mangai. Porque camarão nunca é demais, especialmente quando se está em Natal. No Camarões há pratos especiais para crianças (com preço de adulto) e no Mangai, há de tudo para comer e parquinho para brincar, embora tenhamos que admitir em todos os aspectos o de Brasília é muito melhor.



9. Banho de mar em Ponta Negra. A praia não é das mais calmas, há ondas e vento para a prática de surf e kite surf. Não para nós, claro, que preferimos uns poucos e despretensiosos mergulhos e muito descanso ao sol, em busca de alterar a cor branco- escritório habitual, cultivada com ardor ao longo do ano. Maridão e filhotinha também não dispensavam uma oportunidade de espetinho de queijo coalho. Também houve tempo para desenhos na areia e contemplação de animais.



10. Caminhada na Ponta Negra. É uma diversão à parte. Encontra-se de tudo, em termos de gente e de artigos para compra – cangas, óculos, CDs piratas (foram minhas carrocinhas prediletas, confirmem o vídeo. Os ritmos eram os mais variados – sertanejo, funk, MPB, pop rock, reggae...).





Na parte de comidas, croquete, tapioca, salgados, crepes, queijo coalho, cachorro quente, sanduíches, espetinhos diversos (heart, meat, fish, shrink...) E o slogan do 'Camarão do Chef' - “é fresquinho porque vende mais, ou vende mais porque é fresquinho?” Remete a algo ou algum produto?



Manaus

Após findo o roteiro, passado o natal, com direito a Papai Noel vindo dos céus de parapente, uma parada em Brasília, para lavar a roupa suja (literalmente) e refazer as malas. Optamos, primeiramente, por um hotel básico e recém-inaugurado, no Centro da cidade, próximo ao teatro Amazonas. Assim, pagávamos menos e guardaríamos para os passeios que desejássemos. Acomodamos os filhotes numa cama só, porque só havia quarto triplo e lá fomos nós. Felizmente, a cama Box era bem espaçosa e eles dormiram tranqüilos e sem reclamar, achando até divertido brincar de bicho de monte.

1. Teatro Amazonas. É realmente lindo e a visita, imperdível. Com a iluminação de natal, fica ainda mais belo quando visto à noite. Lá dentro, nos sentimos importantes, sentados nas imponentes cadeiras dos camarotes. As crianças adoraram passear de pantufas pelo salão de festas. A filhotinha perguntou ao guia se os convidados também usavam pantufas para proteger o piso, na época que lá havia festas. Coisa fofa! Nos impressionou a pintura da mulher que nos segue com o olhar e o corpo.



Próximo dele, a Igreja de São Sebastião e o monumento em homenagem à abertura dos portos.



A praça é deliciosa, cheia de barzinhos e restaurantes aconchegantes e charmosos.



Árvore de natal


2. Encontro das águas. Este foi o único dia que pegamos chuva. Literalmente. Chegamos encharcados ao barco e, com o vento, passamos frio. Passar frio em Manaus, por essa não esperávamos! É lindo ver as lindas águas escuras do rio Negro lado-a-lado com as águas barrentas do Solimões. Lá vão elas quilômetros a fio fazendo charme uma com a outra, num namoro sensual até, enfim, deixarem seus brios e orgulhos bobos e unirem-se totalmente e formando o poderoso, imponente Amazonas.





Durante o passeio, pudemos admirar a construção da ponte sobre o rio Negro. Como tudo lá tem proporções gigantescas, não seria diferente com a nova construção. Vejam como os humanos ficam ínfimos em relação a parte de seus pilares, elevados de modo a suportar as alterações absurdas do nível do rio.





Palafitas à beira do Rio Negro


Com um trânsito tão intenso de veículos aquáticos, não poderiam faltar opções para abastecimento



Pausa para curtir o artesanato




3. Gente do rio. Andando de canoa pelos igarapés, vemos aquela gente simples que mora e vive do rio e nos mostra como precisamos de pouco para viver e nos faz pensar até que ponto a nossa sofisticação nos torna melhores ou mais felizes.








4. Samaúma. O encontro com a maior espécie de árvore da Amazônia nos faz lembrar a nossa insignificância neste mundo. Dá vontade de prestar reverência a tamanha majestade. Dá vontade de chegar perto dela, abraçá-la e respirar sua sabedoria. É difícil compreender como alguém pode destruir um ser vivo estupendo e maravilhoso como aquele.



5. O rio. É fantástico também notar a marca da água nos troncos das árvores. Como um rio daquelas dimensões pode subir e baixar tanto? Parece que lá tudo é vivo. O ar, o chão, o rio. No meio de toda aquela exuberância verde é possível darmos conta da força da natureza e nos sentirmos mais integrados a essa coisa toda - e se fôssemos um pouco mais aventureiros, vivenciarmos mais plenamente esse nosso lado bicho, em contatos mais íntimos com a selva. Mas isso fica para a próxima.

6. Os peixes. Camarão está para Natal, assim como peixe está para Manaus. Nos fartamos de tambaqui, tucunaré e pirarucu. Que delícia! Confesso que tenho pena dos bichinhos, até gostaria de ser vegetariana, por questões ideológicas. Mas confesso também que amo carne e esses peixes são divinos. O pirarucu, que é um ser vivo extraordinário e lindo, tem, para seu martírio, um sabor estupendo. Foi o peixe mais gostoso que já experimentei na vida. Pudemos saboreá-lo em diversas ocasiões - em restaurante flutuante de igarapé, em restaurante simples do centro da cidade, junto com refrigerante em copo de boteco e em restaurante fino de hotel – e em todas, a experiência gastronômica foi maravilhosa. Aliás, os cozinheiros de Manaus estão de parabéns.

7. O Hotel Tropical. Depois de nossa estada econômica no centro da cidade, cedemos aos impulsos e à beleza e às possibilidades de lazer do Hotel Tropical. Há dois. O Business, com maravilhosas suítes para curtir a dois a vista para o rio Negro. Não era a melhor opção para um casal com duas crianças, já que só há quartos duplos e sem comunicação. Seu maior charme é a piscina com borda infinita que parece nos colocar dentro do rio.



O Hotel Tropical. tradicional é imenso e ideal para curtir com as crianças. A piscina é ampla e possui um minizoológico incrível, onde há até onça. Tudo bem que a piscina de ondas estava quebrada, não vimos um monitor da prometida recreação e clubinho ambiental, a ponte suspensa que dava para um passeio na mata estava interditada, bem como vários outros espaços de lazer do hotel, o que foi lamentável, sobretudo quando se pensa nas tarifas astronômicas do período de réveillon.

Vista da área externa posterior

Passeando no hotel

No parquinho


Filhotinha com a macaquinha Nina, do filme Tainá


8. Natureza. Passeamos pelo Bosque do IMPA, pelo zoológico de não sei quem, pelo zoo do hotel, pelo Museu de Ciências Naturais e vimos muitos bichos e espécimes vegetais muito legais. Alguns vivos, outros não, alguns livres, outros não. Pudemos captar alguns olhares muito impressionantes também.

Passeio no bosque


Filhotinha e as tartarugas



Hora do rango
Arara vermelha comendo laranja

Cotia

Macaquinhos

Filhote de peixe boi


Hora do passeio
Cotia

Poraquê

Cágado

Ariranha equilibrista

Macaco

Tartaruguinhas

Arara azul


Hora do descanso
Sucuri

Espécie de passarinho

Borboleta

Pantera negra


Olhares de bicho
Jacaré


Ariranha

Macaco aranha

Gavião real

Jaguatirica (essa foi minha foto preferida)


Bichos estranhos








Grandes vegetais
Tamanho da folha (maridão tem 1,93m)

Diâmetro do tronco de assacu: 2,07m


Os dias foram poucos e curtos para conhecer Manaus e um pouco da floresta. Esperamos voltar em outra ocasião e poder fazer outros passeios mais radicais à selva, ver a focagem noturna de jacaré e pairar sobre a mata voando num hidroavião. Amazônia, espere por nós!!