Minha filhinha completou três meses e meio e estou bastante interessada em perder os últimos e abominaveis quilinhos remanescentes da gravidez desregrada. Não preciso dizer que eles se encontram concentrados onde não deveriam, né? Subentende-se.
Notem que estar interessada nem de longe significa estar disposta. Ainda não sei se tenho realmente a expectativa de que essas gorduras - que definitivamente não pertencem ao meu corpo - simplesmente desapareçam, a despeito da quantidade irracional que como de doce a cada tarde. Tolice! Claro que tenho! Os preferidos são o doce de leite Viçosa (felizmente a ´ultima lata acabou) e nhá benta da Kopenhagen. Nao passo uma tarde sem um ou outro.
Nessa tarde de sexta-feira eu estava decidida a tomar vergonha na cara e controlar meus impulsos dulciferos. A cada vez que lembrava da vontade de comer doce bebia água. Estava enganando bem. Eram quase 18 horas e eu estava orgulhosa de mim mesma, da minha serenidade e autocontrole. Viu, não é tão difícil assim, dizia em pensamento para mim mesma enquanto amamentava meu bebê.
Comecei a ler a última edição da Vida Simples, revista deliciosa (tanto quanto um brigadeiro da Maria Amélia), e me deparei com a reportagem 'Doce deleite', na seção 'Guia'. Para minha surpresa, o subtitulo inicial era 'Brasil melífluo', logo seguido pela citação de Gilberto Freyre, grande sociólogo brasileiro, autor de Casa Grande e Senzala e Açúcar – Uma Sociologia do Doce, que, eu, pasmem, nunca ouvira falar!!!! Voltando a citação. Dizia ele assim: “o açúcar adoçou tantos aspectos da vida brasileira que não se pode separar dele a civilização nacional.” Construída na confluência das três culturas formadoras do país – portuguesa, indígena e africana -, nossa arte do doce floresceu à sombra dos engenhos de cana. Com tanto açúcar disponível, foi natural que a arte do doce se desenvolvesse por aqui. Nossos quitutes sempre foram mais doces que os dos europeus. O que parece enjoativo para quem é de fora, para o paladar brasileiro é normal, afirmava a reportagem. Ainda segundo Freyre, “pode-se falar de um paladar brasileiro histórico (...), ao que parece, predisposto a estimar o doce e até o abuso do doce”.
Difícil descrever como essas palavras soaram doces em meus olhos. De repente parecia que eu tinha sido absolvida de meu pecado original. Sim, meu desejo por doce era ancestral. Quem seria eu para lutar contra tamanha força histórica??? Certamente, ao longo desses quinhentos anos, a compulsão por doce já deixara de ter raízes históricas e culturais e tornara-se fisiológica, quiçá até genética. Poderia sentir-me completamente tranqüila. Estava livre de toda culpa. Meu corpo brasileiro pedia doce.
Fui até a cozinha, servi-me e deletei-me com algumas fatias de bolo de chocolate com bastante cobertura. Acompanhadas de um bom café, bem brasileiro.
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