domingo, junho 24, 2007

Trinta e cinco


Uma grande amiga, quando completou 35 anos, recebeu uma mensagem de felicitações de um outro amigo, que a congratulava pela série de coisas que ela poderia, a partir de então, passar a fazer - como candidatar-se a senadora, vice-presidente ou presidente da República.

Fiz 35 anos este mês. Também recebi uma lista, não de oportunidades de atuação profissional, mas de procedimentos médicos que deveria começar a fazer:

- A primeira mamografia. Ela será chamada de mamografia de base (até o nome é especial!), pois servirá de parâmetro para as outras (que confortante saber disso!). Pelo menos a médica me assegurou que agora existe a tal da mamografia digital, um exame praticamente indolor, ao contrário da analógica, bem desconfortável.
- Uma colonoscopia. Devido à informação genética herdada é altamente recomendável a inspeção periódica preventiva, a fim de detectar, no início, possíveis formações tumorosas em meu intestino.
Compartilho essa necessidade com meus familiares mais próximos, o que não diminui a ansiedade com o preparo desagradável da véspera, nem o constrangimento com a invasão de privacidade.
- Aliás, falando de invasão de privacidade, some-se uma histerossalpingografia. Nome chique, exame nada elegante: após a introdução de um catéter pelo orifício de entrada do colo uterino, injeta-se certa quantidade de contraste pela tuba uterina, ou trompa de Falópio, cuja evolução será acompanhada por uma seqüência de raios X, a fim de verificar se a passagem está pérvia. Se estiver e o líquido chegar à cavidade abdominal, significa que tudo está bem e que haverá bastante dor.
O consolo dado pela minha médica é que eles fazem um preparo que tende a minimizar o desconforto e que, na clínica sugerida, há sempre um anestesista na sala, caso seja necessário.
Não sei por quê, essa observação não conseguiu exatamente me deixar tranqüila!

Devo ressaltar que a indicação desse exame não se relaciona à idade, mas à necessidade de se avaliar a permeabilidade da trompa e, com isso, identificar o risco de outra gravidez tubária. De qualquer forma, como a solicitação surgiu este mês, achei justo constar na lista.

Se o critério foi esse, não devo então considerar a endoscopia digestiva (mais câmeras, tubos, analgésicos, sedativos e intromissão) feita há alguns meses, em decorrência de queixas de desconforto gastro-esofático. Os resultados apontaram gastrite leve e esofagite de refluxo.

Pausa para recordar o momento:
- Refluxo? Que estranho, nunca tive isso!! Pergunto e exclamo, surpresa.
- Isso é normal nessa idade, quando começa a haver relaxamento dos esfíncteres - responde a médica, com naturalidade.
- NESSA IDADE??!!! Como assim, nessa idade?? Penso, indignada. Preparava-me para ouvir essa expressão quando entrasse nos 70, não chegando aos 35!!!
Começo a pensar em todos os meus esfíncteres corporais. Em todos que conheço ou consigo lembrar, pelo menos. Não consigo imaginar nada mais antipático do que a idéia de meus esfíncteres tornando-se progressivamente relaxados.
Devo ter ficado olhando para ela meio catatônica, por alguns segundos, enquanto me passava a prescrição.
Comprei uns remédios, carésimos - diga-se de passagem - que resolvi não tomar - diga-se de passagem - após ler a lista de reações adversas. O problema acabou se resolvendo (1) com a aquisição de novos hábitos (evitar jantar e refeições pesadas à noite, não deitar antes de 4 horas após as refeições e, em caso de fazê-lo, posicionar-me em decúbito lateral direito) e (2) com a aquisição de uma almofada anti-refluxo. Na verdade, uma rampa, que inicia na coluna lombar e vai até o topo da cabeça, provocando uma elevação corporal de uns 30º - que me causou vários dias de dor nas costas, até a completa adaptação.

Será que estou mesmo ficando velha??!! Recuso-me a acreditar nisso!!

Meu avô dizia a todo o tempo que ficar velho era uma "m...". Repetiu isso durante anos. Na época, eu achava que era exagero, coisa de velho rabugento (o que ele era realmente, de uma maneira muuito especial). Mas hoje não estou tão certa disso e sou capaz de compreendê-lo melhor.
Lia Luft escreveu muito bem sobre as perdas e, especialmente, sobre os ganhos da velhice. Consigo reconhecer diversos. Como a própria maturidade, que traz serenidade, tolerância, racionalidade, experiência, sabedoria (em alguns casos)...
Talvez a velhice em si não seja essa "m", se estiver sendo bem vivida e aproveitada.
Mas não tenho dúvidas de que estar doente é. Sentir-se limitado ou incapaz de fazer coisas que se gostava é. Assistir a seu corpo enrugar, enfraquecer, definhar... é.
Por isso, não mais condeno seu ponto de vista. Por isso, sou hoje muito mais condescendente, mais compreensiva, mais paciente do que já fui. Por isso, hoje rezo para viver - com saúde, com qualidade, com plenitude - muitos outros anos.

Quem sabe até mais duas outras vezes trinta e cinco??!!...

3 comentários:

Keiko disse...

É...diriámos que uma das coisas da vida, é a vida mesmo...que passa. Triste realidade com tantos exames (Ai!) Mas feliz com tanta vida pra viver, FELIZ ANIVERSÁRIO!

beijinho,
Keiko

Luiza Helena disse...

Parabéns pela comemoração da sua data natalícia!
Confesso que fiquei um tanto quanto assustada ao ver sua longa lista de exames do check-up dos 35, não tanto por me preocupar com sua saúde, pois eu sei que é muito boa graças a Deus!
Pra falar a verdade, fiquei apavorada, foi ao imaginar o que me espera na próxima primavera em que deverei completar a revisão dos 41!
Beijos e sucessos!

Juliana Werneck disse...

Obrigadas pelos parabéns e desejos de felicidades!! Estou sentindo-me, sim, muito feliz (e saudável, apesar de tudo!) aos 35!
É, Luíza, tomara que essa lista não seja progressiva, senão vai ser duro ser feliz!!
Bjs carinhosos a vocês!
Juliana.