terça-feira, junho 26, 2007

A auto-estima do brasileiro

A auto-estima pode ser definida como uma opinião, um conceito que desenvolvemos sobre nós mesmos. Este auto-conceito depende, por um lado, da maneira que nós nos enxergamos - quanto mais próximo o nosso eu-percebido estiver do nosso eu-idealizado, mas satisfeito conosco estaremos, mais estabelecida será nossa auto-estima. De outro lado, ela também dependerá da opinião que consideramos que os outros têm de nós. Assim, se acho que o outro tem um bom conceito sobre mim, isso fortalece o meu auto-conceito, ou minha auto-estima.

Tenho que admitir minhas dificuldades em me auto-avaliar positivamente. Não estou certa se sofro de baixa auto-estima mesmo, ou se tenho um senso crítico bem desenvolvido. Isso se verifica bem no campo cognitivo, da inteligência. Há muitas coisas que, por mais que me esforce, não consigo compreender. Exemplos: o pensamento de Nietzsche, a quarta dimensão, o infinito, os números irracionais. Quando o quesito é tecnologia, aí é que a coisa complica mesmo. Já estamos vivendo a era da televisão digital, interativa e eu ainda não compreendi o telefone. Especialmente agora, nas versões sem fio e celular. Simplesmente não consigo entender como as palavras saem do aparelho, "voam" e chegam - íntegras - ao outro lado. E com a mesma voz!!! Nem adianta vir com esse papo de ondas, que não entra. Como é que elas são quebradas e se juntam direitinho do outro lado?? Como que, no ar, as conversas não se embaralham???
Olho pela janela e fico pensando quantas palavras estão passando por aqui agora... Bate-papos de amigos saudosos, declarações de amor, discussões, acertos de contas... Como cada uma sabe direitinho para onde tem que ir??

Voltemos à auto-estima. À parte que depende da percepção que tenho da opinião do outro sobre mim. É nesse ponto, especialmente, que o bicho anda pegando para mim como cidadã brasileira. Se eu já tinha dúvidas sobre a minha inteligência, estão querendo me provar, de todas as maneiras, que realmente sou incapaz de raciocinar.
Só pode ser isso que pensam algumas autoridades por aí. Senão não falariam o que falam... Não, não falariam.... Sentiriam-se constrangidas... Ou ameaçadas...
- Um senador da República, não qualquer um, mas o Presidente da Instituição, acusado de usar recursos de uma empreiteira para pagar despesas pessoais, parece ter dito (ou sua esposa, ou seu advogado disse, não me recordo agora) que não fez isso, pois não precisava, pois tinha dinheiro para pagar as próprias contas.
(Meu Deus!!! Não tenho dúvida alguma sobre isso!! Algum político ou agente público corrupto desvia dinheiro, apropria-se de verbas porque não tem dinheiro para pagar as contas??
Alguém "precisa" de 169 milhões de reais para viver??
Mas isso é uma outra história!)
- No capítulo de hoje da novela, ele alegou que armaram um Esquadrão da Morte Moral que ataca, sem provas (nem piedade), a sua integridade e fere a sua honra (como se ela existisse!!??).
Aliás, se o tal esquadrão ainda não tiver sido fundado, gostaria de propor sua criação. Poderia ser um Esquadrão da Morte das Imoralidades. Imaginam como seria? Envenenem as falcatruas!! Destrocem a corrupção!! Condenem à forca as mentiras!! Injeção letal nos complôs e esquemas!! Ah, se encontrasse uma maracutaia dando sopa por aí... dava-lhe um pontapé!..
- Enquanto isso, o Presidente do Conselho de "Ética" (pasmem!), que renunciou há pouco ao cargo (felizmente!), parece que concordava com o Relator, que queria arquivar o caso porque não havia provas, apenas "indícios".
Engraçado que, na minha ignorância, indícios de roubo deveriam ser um motivo suficiente para alguém perder o mandato, por quebra de decoro. As provas? Guardemo-nas para os tribunais (infelizmente privilegiados), quando tramitar o devido processo penal e administrativo.
- Ainda no Senado, houve um outro que foi pego em conversas telefônicas estranhas. Já andou muito por essas bandas brasilienses o moço. Descontou um cheque de um Banco, no valor de dois milhões e duzentos mil, em outro Banco. Mas ele não precisava do dinheiro todo, não. O dono do cheque pagou CPMF à toa, porque ele precisava só de trezentos mil (já deve dar um embrulho grande para carregar, né?).
Engraçado que um vez eu quis pagar uma continha num banco diferente do meu e não aceitaram meu cheque. Noutra, quis sacar um dinheiro, no banco em que tenho conta, mas tive que esperar dois dias, pro banco se preparar, pro dinheiro "chegar", sei lá... Talvez se eu estivesse precisando tirar um milhão e meio fosse mais fácil. Nem importava o Banco, podia escolher o mais pertinho de casa! Se eu soubesse disso!.. Voltando à história, parece que ele disse que era para pagar uma bezerra... e para ajudar um amigo doente. E eu que já pensei tanto na morte da Bezerra, penso agora no preço da Bezerra e torço para ela continuar viva, senão que prejuízo, né? Coitado do Senador!
- Não bastasse isso, eu continuei ouvindo o rádio na hora do almoço. Aquilo não parecia um jornal, mas um circo dos horrores, registre-se. Era uma seqüência de aberrações e eu querendo chegar em casa para almoçar. Escuto a notícia dos cinco jovens de classe média do Rio de Janeiro que espancaram uma moça na parada de ônibus, uma emprega doméstica. Parece que não foram os cinco. Um deles só assistiu e ficou rindo e debochando. Puxa, que alívio saber disso! O pai de um deles teria dito que considerava uma injustiça "manter crianças que fazem universidade presas, na cadeia".
Mais uma vez defronto-me com minha ignorância. Descobri que também não devo ter noção nenhuma do que é justiça e injustiça. Aliás, tinha até achado uma grande injustiça eles serem presos em celas separadas dos "outros" presos. Achava que eles deveriam vivenciar a experiência de compartilhar espaços com colegas mais antigos nessa área de atuação que eles escolheram.

Roubo, agressão, covardia, descaso, desrespeito... à coisa pública, às vidas humanas. Na minha visão limitada e torpe, parecem todos crimes muito graves, parecem-me todos marginais muito comuns... que deveriam ser tratados como comuns, julgados como comuns, presos como comuns...
Assistir a isso contribuiria, indubitavelmente, para elevar minha auto-estima de brasileira.





Fontes: CBN Rádio - Notícias; http://www.estadao.com.br/ultimas/; http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG77748-5856-475,00.html.

Um comentário:

Anônimo disse...

Adorei o teu post. Paabens!