quarta-feira, agosto 01, 2007

Cenas do cotidiano de um casal de padrinhos brasileiros viajando

Nota preliminar: Escrevo, logo existo.
(NT: sobrevivi aos vôos)

Cena 1: Acordando para viajar
O despertador histérico toca às 5 da manhã. A esposa finge que não é com ela. O marido atende ao chamado e o desliga. Em seguida inicia o lento processo de despertar. Resolve ligar no aeroporto para saber se o vôo está no horário. A esposa esquece o pedido feito na véspera e reza de última hora para o vôo estar pelo menos uma hora atrasado. Pedido negado.

Cena 2: Tentando beber água
Após chegarem ao aeroporto de Belzonte, o casal decide parar num quiosque para tomar um café. Resolvem também comprar uma garrafa d'água para levar n viagem de carro que se iniciaria em breve. Lancham, passam na revistaria, não compram nada, pegam o carro na locadora de automóveis - após extensa burocracia, registre-se - e dão partida. A esposa lembra que esqueceu da água. Volta ao quiosque, explica a situação para a atendente, que diz que não pode dar a água. Como não? Eu paguei a água e não peguei! É verdade, ela pagou uma água, intromete-se oportunamente a caixa com memória boa. Mas você tinha que ter pego na hora, responde a atendente programada para executar procedimentos. (Então você tinha que ter me dado na hora, penso.) Tudo bem, mas acontece que deixamos para pegar depois que lanchássemos, para que não esquentasse, e acabamos esquecendo. Sinto muito, não posso fazer nada. Você acha que eu iria mentir para você e inventar essa história por causa de uma garrafa d'água, além do mais a sua colega confirmou que eu paguei. Não estou dizendo que você está mentindo. Bem, se eu não estou mentindo e eu paguei a água, eu quero levá-la! Eu não posso fazer isso porque você não tem a ficha, então eu vou ter que ligar para a gerente. Então ligue, por favor. Enquanto a outra ligava, a esposa, sob uma súbita onda de tranquilidade, tenta continuar argumentando - puxa, você não se lembra, vim aqui um pouco antes, com meu marido - um moço alto, loiro, de olhos verdes, camisa vermelha... seu rosto muda subitamente de expressão, aparece uma face de "hmmm, acho que sim..." A esposa aproveita o gancho, diz que então vai chamar o marido para que ela se recorde. Volta ao carro, "Amor, vai lá buscar a água, por favor, que a moça não quer me entregar porque não tenho o cupom e ela diz não se lembrar de mim, mas tenho certeza de que vai se lembrar de você". Dito e feito, mal o moço alto e loiro chega que a moça de memória recuperada lhe entrega pronta e facilmente a tão desejada garrafa d'água.

Cena 3 - Inspecionando o carro alugado
O casal entra no carro alugado e percebe que não há DVD-player, conforme fora combinado no momento da reserva do veículo. Volta e reclama - ué, nós havíamos solicitado um carro com DVD, vocês não têm? Temos, mas acabou.

Cena 4 - Testemunhando o casamento
O casal de padrinhos provenientes da capital federal, preocupado em fazer tudo certo, assegurou-se de chegar na véspera da cerimônia, ainda a tempo para o breve casamento civil no cartório, onde além de testemunhas, serviram de cinegrafistas e fotógrafos. Chegaram antes dos noivos, destaque-se. Entretanto, o mesmo não ocorreu na cerimônia do casamento religioso, que teria lugar em uma pequenina e singela cidade próxima a Cataguases, chamada Vista Alegre. O casório estava marcado para às 4 da tarde. 4h25 chegam à igreja. Noivos já no altar, cerimônia em andamento. O padre não tolerava atrasos. Certamente tinha muitos compromissos na grande congregação vistalegrense e não podia se dar ao luxo de aguardar convidados forasteiros que saem atrasados e se perdem no caminho. (Pausa para justificar o atraso:
1)manhã percorrendo o centro da cidade para comprar um sapato novo para a dama já que o dela foi esquecido em Brasília;
2)cabelereira resolve desmanchar todo o penteado da pequena dama - depois de pronto, porque não considera que ficara bom o suficiente
3) o salão não providencia uma manicure para trabalhar simultaneamente enquanto a cliente-madrinha preocupada escova o cabelo (e desiste de fazer um penteado, conforme anteriormente planejado). Aliás, a manicure que iria fazer a unha da madrinha tinha acabado de ser demitida e tiveram que aguardar chegar a outra, que estava fora da profissão há um tempo (tentando a vida de outra forma em Juiz de Fora) e que faria naquele momento sua reestréia (embora a cliente não soubesse de nada até então) e que levou simplesmente uma hora e vinte para terminar as 20 unhas!
4)vestido novo completamente amassado + nenhuma passadeira de plantão + necessidade de se fazer surgir uma na marra, usando-se a cama como tábua e sem passa-fácil
5)restaurante lerdo.
Enfim, pequenas coisas irrelevantes, impensáveis e imperdoáveis para um padre. Tudo bem! Que os noivos nos perdoem! Se boas intenções valerem de algo!!
Após tirar algumas fotos e fazer algumas filmagens do alto e por detrás da igreja, os padrinhos e a pequena dama são chamados para aprochegarem-se ao autar. Assim o fazem, ainda a tempo de assinar o livro de testemunhas (testemunhando o casamento visto pela metade!), cumprimentar os noivos e seus pais, pousar para fotos, desfilar na saída da igreja e jogar arroz nos noivos felizes, lindos e recém-declarados marido-e-mulher.

Cena 5 - Festa de casamento na fazenda.
Fazenda linda, vista linda, alto do morro, após 8 km de estrada de terra (o que é bastante para uma brasiliense nascida e criada no asfalto e no concreto). Paisagem bucólica, muito verde, sensaçao de paz e tranquilidade. Festa ao ar livre. Mesas belamente decoradas. Casal de padrinhos encantados, tirando muitas fotos com a família, inclusive com a irmã-cunhada grávida de 5 meses. A noite caindo, o clima esfriando. A madrinha precavida resolve trocar de roupa - levara calça, sapatos de saltos baixos, casaco de lã, tudo para não sentir frio nem cansaço. Leva a filha impaciente com o vestido chique e ansiosa para vestir suas calças jeans. As duas trocadas, já saindo do quarto, chega o pai-padrinho esbaforido. Vamos lá que vão tirar as fotos agora e estão nos chamando. A daminha imediatamente declina do convite, diz que não vai pôr o vestido de novo e que quer brincar com os primos. O paidrinho vai lá fora para ver o que faz. Volta correndo, diz que tudo bem, mas que está na nossa vez. A madrinha - the flash, tira os sapatos, meias, calça, blusa de manga comprida, casaco, põe o vestido, os brincos, passa batom, arruma a mala mais ou menos e sai correndo de volta para a festa. Encontra todos os convidados correndo para dentro da casa. O marido-padrinho explica 'começou a chover, tá todo mundo entrando, não vamos tirar fotos agora'. A madrinha desapontada resolve, então, ficar vestida para fotografia, ademais o clima já estava mais caloroso dentro de casa. O astral da galera continua supervibrante. Chove, pára, secam-se as mesas, voltam os convidados para fora, chove, entram de novo, decidem ficar. Música, dança, conversa fiada e, finalmente, para terminar com chave de ouro: doces, muitos doces, lindos e deliciosos!

Cena 6 - Voltando para casa
4 horas de estrada. Chegada aos Confins do mundo às 9 da noite. Vôo marcado para às 22:00. No painel, horário previsto para a partida: 23h45min. Cansados, com sono, com frio, na noite mais fria do ano, decidem lanchar. Felizmente acham lugar na única lanchonete com mesas internas do aeroporto. Cliente dorme em frente a um copo de cerveja. Canja, suco, sanduíche. Espera no chão carpetado do saguão. Vôo finalmente parte a 0h20min. Chegam em casa às 2 da madruga. Só o maracujá. Filha de 25kg (45 dormindo), no colo. Sensação de missão cumprida. Aliás, lembram os padrinhos displicentes, parcialmente cumprida, porque do presente os noivos esperançosos não sentiram ainda nem o cheiro!

3 comentários:

Keiko disse...

Eita cansera!!
Espero que todas as cenas não tenham sido em sequencia...e que o tempo de recuperação seja longo...

Beijinhho,
Keiko

Luiza Helena disse...

Jú, Obrigada!
Como eu fico feliz e orgulhosa em ler suas palavras!
Você está com um estilo refinado e delicioso de escrever, fico sempre aguardando, ansiosa, suas próximas aventuras, sempre com ótimo humor!
Parabéns!
Quando crescer quero ser como você!
Beijos

Juliana Werneck disse...

Luiza, você é exageradamente generosa! Obrigada, amiga!