* A idéia era ser breve, mas a coisa foi indo, foi indo... quase que não parou! Seguem alguns comentários e fotos, sem muita ordem.
Nossa viagem foi deliciosa. Pena não poder fazer uma dessas a cada três meses. Seria o ideal!
- Murphy até que nos deu descanso, mas voltou um pouco antes da gente. Com isso nossos vôos praticamente não atrasaram, em compensação nossas malas não chegaram conosco. Só não consigo entender o porquê de, apesar do prévio conhecimento da companhia de que os nossos 5 volumes juntos de mais 8 de 2 outros passageiros - todos devidamente identificados - não foram embarcados, deixarem a gente esperando de frente àquela esteira giratória iguais bobos, até todo mundo retirar suas malas e a gente perceber que já pararam de descarrregar os carrinhos e sermos informados de que teremos que ir a não sei aonde, dois corredores, depois de não sei o quê, fazer a reclamação oficial. Depois não querem que os clientes se irritem! Mas como diria Polyana, pelo menos foi no retorno, pior se fosse na ida!
- Optamos viajar de avião já que sairíamos de Brasília, passaríamos pelo Rio, Santa Catarina e Rio Grande do Sul e, após os 30 anos e com uma criança, nosso espírito aventureiro já não é o mesmo de outrora. Alugamos um carro em Santa Catarina, mas de Gramado a Floripa, achamos melhor (economicamente falando) irmos de ônibus. Confesso que já fazia algum tempo que não pegava um. Fomos à rodoviária comprar as passagens portando cartões de crédito, nem lembrava que isso só se fazia em dinheiro. Como assim? Morta de ansiedade com a viagem (haveria criança chorando de madrugada, gente comendo tangerina e farofa...) e já enjoando de véspera, chegamos para a viagem com alguns minutos de antecedência. Felizmente, o ônibus era excelente, daqueles grandões de dois andares, com filme passando na televisão, geladeira com água, todo chicão. Como nem tudo são flores, não conseguimos cadeiras juntos, tivemos que comprar as últimas, todos os 3 separados, mas pelo menos próximos uns dos outros e no corredor (odeio ficar perto da janela, sentir vontade de ir ao banheiro, ficar com vergonha de acordar o vizinho, não saber se aguardo até a barriga doer, se pulo a pessoa ou se acordo mesmo...). Estava preocupada com quem sentaria ao lado da filhinha, essas coisas. No início do trajeto, várias cadeiras estavam vazias, mas à medida que o ônibus ia parando em cada cidade que tivesse mais de duzentos habitantes e uma rodoviária, ele ia se enchendo. Até que entrou um casal com três filhos, sendo que os dois menorzinhos deveriam ter dois e três anos. Eles tinham comprado três assentos para os cinco(já tinha esquecido também como era isso!) e, claro, um deles coincidia com o nosso. Conferimos tudo - destino, partida, horário, assento - tudo igual! Questionei se o ônibus deles por acaso não seria o outro, que viajava junto e cujo horário era de cinco minutos mais tarde. Eles afirmaram que não. Aguardamos o motorista (que tinha saído e deixado os passageiros trancados no ônibus). Assim que ele entrou, reportei o problema, ele confirmou a duplicidade, nos informou que não tinha como saber o que tinha acontecido porque não tinha a listagem de passageiros, mas que ficássemos tranquilos que na outra cidade ele pegaria a lista e que tudo daria certo. A partir do momento que ele pediu tranquilidade, fiquei mais preocupada. Com minha experiência de vida, sei que isso não é um bom sinal. Já comecei a imaginar que o ônibus iria ficar lotado e eu teria que viajar em pé ou com a filha de quase trinta quilos no colo, ao lado da mãe com outra criança no colo, minhas pernas ficariam dormentes ou eu teria uma trombose ao chegar ... Mas tudo bem, não tinha muito o que fazer, então aguardei. As criancinhas dormiram, eles se acomodaram em outras cadeiras que estavam vazias, a filhota dormiu e eu fiquei vendo filme. Chegamos à cidade, veio a listagem e realmente era o que eu previra, eles estavam no ônibus errado. Aí tiveram que sair com duas crianças no colo dormindo quentinhas, o mais velhinho carregando parte das bagagens juntamente com o motorista que, pelo menos, ofereceu-se para ajudar. Como muitas coisas são flores, ninguém chegou a ocupar o assento vizinho da filhota e pude viajar tranquila ao seu lado, acordando de tempos em tempos para cobri-la e protegê-la do ar condicionado gélido.
- Gramado é a cidade mais fofa que já visitei. Conhecia sua beleza por imagens de revistas, televisão, internet e relatos de amigos, mas ainda assim, ela pareceu-me ainda mais bela ao vivo. Era início de janeiro e ainda período do "Natal luz", os postes floridos tocavam músicas natalinas ou canções tranquilas tipo 'Enya e companhia' e que, junto com aquela arquitetura maravilhosa, faziam parecer que estávamos em um outro planeta, onde não existiam problemas, maldade ou pobreza.
- Mal sabia que não demoraria muito a descobrir que existiam outro tipo de desgraças por ali. Um belo dia em que a filha ia sozinha para a recepção (brincar no computador), volta logo em seguida meio assustada: Mãe, tem um girino lá na escada! Girino, filha? Girino mora na água, o que é que você viu? Um filhote de sapo. Hmmm? Fui lá averiguar. Para os meus padrões já era um sapo criado e estava descaradamente no meio do caminho, impedindo a passagem de humanos para qualquer lugar do hotel. Voltei ao quarto, telefonei para a recepção, avisei do problema. Imediatamente o solícito rapaz veio e expulsou o monstro para algum outro habitat que eu não quis nem saber e muito menos ver. Depois, ligou de volta e avisou que podíamos deixar o esconderijo. Infelizmente, não seria o nosso único contato com a natureza. Teve Micha, a lagartixa, que entrou no quarto e se escondeu atrás da minha mala, em Penha; e Tato, o lagarto de quase um metro, cujo rabo devia ter uns 8cm de diâmetro e parecia primo de algum dinossauro e cruzou o nosso caminho para o quarto na pousada na Praia do Rosa. Contra os mosquitos, levamos na bagagem um inseticida de tomada para 45 dias, para não correr risco.
- Aliás, em relação à bagagem, merece destaque o kit de acessórios do marido tecnológico:
- Fizemos um tour, que passou por grande parte dos bairros da pequena cidade de pouco mais de 30 mil habitantes, inclusive - ao contrário dos de outros locais - mostrando os de classe média baixa e dos operários. Todos com casas muito bem arrumadas, com jardins, sem grades, e acesso a saneamento básico. O guia nos informou que a cidade não aceita pretendentes a moradores que cheguem sem emprego (estes são convidados a regressar a seu ponto de partida), que praticamente não há violência, que quem mais trabalha na delegacia é a copeira e como sugestão disse que visitássemos um banheiro público na cidade. Fui ao da rodoviária e era verdade, parecia o de um shopping - com piso de granito, muito bem limpo e decorado. Trocentas vezes melhor que o do aeroporto de Florianópolis! Gramado é bom para ver, para fazer compras (roupas, móveis, cristais e, claro, chocolate!), para comer fondue na pedra ou para sentar num banquinho da Av. Borges de Medeiras, ouvir música e ver gente passar.
- Falando em comida, venci meus preconceitos culinários e comi ostra pela primeira vez na vida, em grande estilo, gratinada e bem temperada, num restaurante eleito pela revista Veja, como o melhor de Florianópolis no quesito - Ostradamus. Decorado como se fosse um barco e com seus garçons trajando uniformes de marinheiro, a atmosfera está totalmente propícia para um deleite nos frutos do mar.
- Lá em Floripa, também merece destaque a Paella que comemos num restaurante à beira-mar em Jurerê Internacional:
- Aliás, em Jurerê Internacional, reduto de ricos e famosos, não vi nenhum desses tipos, mas me senti em casa! :-) Demos um passeio pelo bairro, que parece uma Beverly Hills tupiniquim, com sua renca de mansões enfileiradas. Ali, uma diária de uma casa em alta temporada, está por volta de dois mil reais, para desespero dos moradores que sofrem com as festas e algazarras de madrugada, conforme notamos no jornal do bairro.
- Filha e marido desceram de 'skibunda' (esse é o nome que conheci em Natal e deixo aqui na falta de outro melhor) nas belíssimas dunas da praia da Joaquina.
- Não posso negar que tinha expectativas maiores e melhores de Floripa. Embora sua geografia seja maravilhosa, com morros cobertos de verde, vegetação exuberante, praias lindas e aquela lagoa que parece encantada, a ocupação desordenada parece que quer levar o paraíso ao caos. A ilha não tem infra-estrutura para receber tanto turista. E aí está um dilema, pois ou se constrói mais ou se preserva a natureza que ainda resta. Diversos dos manguezais estão ameaçados. Uma tristeza! Fiquei chocada ao saber que apenas cerca de dez por cento da Ilha tem esgoto tratado, situação não muito diferente do restante do estado. Fico me perguntando qual será o seu destino e quanto tempo vai durar sua magia, até que suas praias e fontes de água estejam completamente poluídas, seus cultivos ameaçados e o trânsito, absolutamente insuportável.
Me decepcionei também com a praia de Jurerê, quase não tem areia e fica apinhada de gente. O bom é o mar morninho e com ondas mansas, ideais para as crianças se divertirem bem à vontade. Sua orla é completamente tomada por pousadas e condomínios. Acho uma pena que se permitam, no Brasil (ou em qualquer lugar do mundo) construções à beira-mar. Acho que as praias deveriam ser todas completamente públicas. Nada de resort, nem hotel, nem casa ou qualquer coisa impedindo o acesso, por mais que isso seja maravilhoso para quem está hospedado ou queira viver diariamente por ali.
- Voltando a lazer, fizemos o nosso pit stop no Beto Carrero World, em Penha, cujo idealizador morreu esta semana, que pena! A filhotinha adorou os dois dias de parque, sob sol escaldante, mesmo com algumas filas desanimáveis. Bezuntamos os corpos de protetor solar e lá fomos nós. Ela não se intimidou nos brinquedos radicais - foi duas vezes na montanha-russa (nós duas estamos lá, na primeira fila) e no elevador que escorrega, só ficou triste quando foi barrada na Big Tower, cadeirinhas que despencam em queda livre de uma torre de 100m. Só tinha 1,25m e precisava de 1,30cm. O papai teve que ir sozinho, já que a mamãe tinha que ficar e fotografar a façanha. Acabou indo duas vezes. Contou que a vista das montanhas e de mar em ambos os lados era deslumbrante. Para mim, que estaria de olhos fechados, não teria muita graça mesmo!
- Em Penha, passeamos de caiaque numa prainha bem tranquila de pescadores, chamada Trapiche. É uma pena que na cidade as casas ocupam a frente de praticamente todas as praias, o que dificulta a visão e o acesso livre.
- Na primeira noite, fomos jantar num restaurante chamado Pirão D'Água, especializado em culinária açoreana. O ambiente é super aconchegante, decorado com artesanato local, cascos de tartaruga, fósseis de tubarões e similares. A comida é deliciosa e o atendimento muito simpático. O marido mineiro se deleitou com uma cachaça com chá de ervas e eu, com meia dúzia de bijus e um suco de maracujá com leite condensado que parecia um frapé.
- Lá, também merece uma visita a prainha da Ponta da Vigia e a Praia Vermelha, cujo acesso é mais difícil, tem que ir de carro por uma estrada de terra, nada muito complicado, pois chegamos. O chato é que não tem muita estrutura se quiser comer alguma coisa. Havia um restaurante bem próximo, mas o atendimento era tão ruim, o responsável tão grosseiro que desistimos. Seguem algumas fotos, inclusive do alto do morro e da praia ao lado, cujo nome desconheço e fiquei com preguiça de procurar.
- Passamos cinco dias na Praia do Rosa, reduto de surfistas e outros praticantes de esportes marítimos. O lugar preza por respeitar a natureza (a maioria das ruas é de areia batida e as construções buscam adequar-se à flora nativa) e respira juventude, balada e saúde.
- A Pousada em que ficamos - Caminho do Rei - fica numa localização privilegiada no alto de um morro, de onde tiramos essas fotos. O ambiente é muito aconchegante, cercado de natureza, muito verde e muitos bichos, claro.
- Lá, pudemos relaxar bastante, cada um a sua maneira...
- Tudo é tão inspirador que até uns brasilienses resolveram tirar uma onda, quer dizer, pegar uma onda!..
- Andando pela areia da praia, nos deparamos com algumas marcas de pegadas. Perguntei à filhotinha que animal as teria deixado ali.
A menina da cidade, especialista em pegadas, não titubeou: são de urso!
Ainda bem, que a essa hora eles deviam estar hibernando, por causa do calor ardente!
- A praia do Luz e a Barra do Ibiraquera, também pertencentes ao município de Imbituba são um sonho. A primeira é uma praia meio selvagem, com um mar bem calmo na beira, em que as crianças podem brincar com tranquilidade e os amantes dos esportes aquáticos, esbaldar-se.
- A Barra de Ibiraquera é onde as três Lagoas (de Cima, de Baixo e do Meio) se juntam com o mar e formam um filete em que a água doce mistura-se com a salgada e a leve correnteza dá um toque divertido ao tranquilo banho, ideal para a criançada.
- Após deixar entristecidos este paraíso, levamos 6 horas para percorrer os 100 (cem) quilômetros que separavam as pousadas no Rosa e em Florianópolis, devido a um acidente na estrada (um motorista foi ultrapassar em um trecho de pista única e bateu de frente a uma carreta. Sua imprudência causou sua morte imediata, um engarrafamento de mais de vinte quilômetros, muitos atrasos de vida e de mercadorias e muito prejuízo a particulares e ao Estado).
- O tempo de espera era tanto, que houve quem não conseguiu esperar até uma parada. Deixou a família no carro e foi resolver o problema por ali mesmo.
- O nosso carro, povoado de gente menos descolada, preferiu dar a volta, andar alguns muitos metros para trás e parar num boteco, cujo lavatório e o banheiro estavam meio esbagaçados, mas se via uma tentativa de melhoria - detergente para lavar as mãos, retrovisor para retocar o visual e toalhinha para enxugar as mãos.
- Conversando com os donos da birosquinha da estrada, um casal muito simpático de catarinenses, que tinha deixado tudo para serem madeireiros no Pará e havia retornado há pouco mais de um ano, quando o negócio da madeira começou a não dar mais. Compraram o estabelecimento totalmente degradado e ainda estavam tentando arrumá-lo, com muita dificuldade. Nos contaram um pouco sobre a situação da floresta naquela região do Pará. Acreditavam que a imprensa tinha feito muito alvoroço e culpado os madeireiros pelo desmatamento e que nada se comparava ao trabalho feito pelos pecuaristas. "Eles chegam lá e nem cortam, nem aproveitam a madeira. Simplesmente botam fogo em tudo. E não são duas mil, cinco mil cabeças de gado, não. Chegam com quinze mil cabeças de gado." E o nosso presidente ainda fala que é só uma coceira... Essa coceira deve ser de rabo preso, isso sim!
Falar nisso me faz lembrar que é hora de voltar a realidade e que as férias acabaram. Que pena!
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