segunda-feira, novembro 10, 2008

Voltando a falar da mamotomia

Há vários meses escrevi um post do qual mal me lembrava sobre uma mamotomia que realizei. De repente, num prazo de uma semana recebi três mensagens comentando o assunto. Levei até um susto. Como a questão é séria, e como escrevi num tom também de brincadeira, resolvi colocar minha resposta aqui, abrindo um outro post sobre o assunto.

Não sei se de repente fui tão dramática nas minhas colocações que pareceu que sou "contra" a mamotomia e não reconheço sua importância no diagnóstico precoce do câncer de mama. Quero deixar bem claro que não é isso.

O ponto de vista que defendo é o do direito à informação completa e de se poder fazer as próprias escolhas. É fundamental que num consultório médico se explique totalmente o que a pessoa vai (ou pode) experimentar. Não somente em relação a esse procedimento, mas com qualquer um.

Quando um médico vai indicar uma injeção intramuscular de benzetacil para alguém que está com amigdalite, é preciso que se explique que a injeção é dolorosa, deverá ser feita necessariamente no glúteo, existe um índice de X porcento de pessoas hipersensíveis e que a grande vantagem desta terapêutica é que, após administrada faz efeito em tantas horas. Daí a pessoa vai poder optar em tomar a dolorida, mas eficiente injeção ou preferirá tomar um antibiótico oral indolor e penar com a garganta por mais uma semana. O paciente é o sujeito do seu processo terapêutico, cabe a ele a palavra final em seu tratamento ou processo diagnóstico. O papel do médico ou dos outros profissionais de saúde é orientar, é fornecer informações para subsidiar escolhas conscientes. É, ainda, informar o que ele, como profissional técnica e eticamente responsável, pode e não pode fazer e, obviamente, registrar tudo bem certinho no prontuário.

Porque também não quero dizer que o profissional de saúde deverá fazer qualquer coisa que o que o paciente escolha. Se esse paciente da benzetacil diz que quer tomar a injeção no músculo deltóide ou que se nega a deitar na maca, o auxiliar de enfermagem pode se negar a efetuar o procedimento, porque isso vai contra a técnica e ele tem uma responsabilidade profissional a cumprir e a zelar. Assim como o médico pode desistir de acompanhar um paciente que se nega a seguir um tratamento que ele acredite ser essencial para sua plena recuperação e isso vá contra suas crenças ou valores.

Certamente há situações em que as escolhas são poucas. Muitas vezes se fará uma mamografia e o resultado será altamente indicativo para um câncer. A mamotomia irá auxiliar no diagnóstico, permitindo colher os fragmentos para o exame histopatológico que indicará o tipo de neoplasia e o estágio de desenvolvimento. E daí o médico informará as opções, solicitará outros exames e explicará as conseqüências do tratamento ou do não-tratamento, caso isso surja como possibilidade. E a pessoa, às vezes junto da família também, escolherá o que fazer.

Por isso, mulheres, não estou fazendo campanha contra a mamotomia. Esse exame, como disse em meu primeiro texto e como Vanessa e Sabris bem salientaram em suas mensagens, cumpre um importante papel diagnóstico numa doença que é cada vez mais prevalente e incidente e acomete cada vez mais mulheres jovens. Portanto, é preciso que estejamos bem informadas e atentas à saúde de nossos corpos (em todas as partes dele, não somente das mamas!!). Leiam, se informem, discutam.

Por outro lado, não me furto de querer chamar atenção ao fato de que, justamente por esse aumento de incidência, os médicos ficam cada vez mais inseguros e temem errar um diagnóstico (com razão, claro) e isso gera um onda de indicação de exames invasivos em situações em que poderia se optar por alternativas mais conservadoras. É um fenômeno parecido com o que ocorre nos EUA pós 11 de setembro, tanto medo que gera uma paranóia social e muitas decisões que escapam do bom senso.

Eu não tenho dados, mas gostaria de saber o percentual de exames dessa natureza em que se têm resultados normais. Essa informação nos ajudaria a saber se está havendo exagero, ou não. O meu caso era um desses - a mamografia indicava BI-RADS 3 (alta probabilidade de benignidade), poderia aguardar e repetir a mamografia em 6 meses. É completamente diferente de alguém que tem um resultado de mamografia com BI-RADS 4 ou 5 (achados suspeitos ou altamente suspeitos).

Portanto, cada caso é um caso e cada pessoa, junto do profissional ou equipe que a acompanha, deverá estar bastante consciente de seu estado para que possam juntos tomar as melhores decisões.

Abraços e obrigada pelas oportunas considerações.

8 comentários:

Flavinha disse...

Oi Ju!
Eu já tinha lido o seu primeiro post sobre a mamotomia (que eu nem sabia o que era!): um post de desabafo sim, mas eu não achei que era campanha contra, não, entendi muito bem sua raiva, seu sentimento... Acho que você tem razão, bem como estão certas Vanessa e Sabris (voltei lá e li o comentário). Prevenir é importante. Diagnosticar é importante. Mas informar é o princípio de tudo! Senão a gente escapa do cancer, mas desenvolve uma ulcera nervosa ou cai em depressão! Ainda bem que você conseguiu desabafar e saiu (quase) ilesa, visto que já tinha até se esquecido do antigo post! De quebra ainda alertou muita gente!

Beijocas,
flavinha.

Anônimo disse...

Querida Juliana; hoje, 04 de novembro de 2009, me deparei com seu blog pq estava pesquisando sobre mamotomia. Fiz uma cirurgia em dezembro, para a suporta retirada de 2 nódulos Bi-Rads 4 em fevereiro/09. Quando acordei da cirurgia, estava tão revoltada quanto vc - sim, é óbvio que a gente vai fazer a cirurgia, MAS eu queria ter sido informada de todas as circunstâncias que a envolviam! Escutar da médica, estando eu aos prantos, que a cirurgia é muito, muito simples, e ser negligenciada quanto à explicação de ebentual cicatriz foi demais pra mim. Pq Não, MÉDICOS DO MUNDO, eu não sei que uma cicatriz cirúrgica pode demorar anos pra ser minimizada; pq eu NÃO sabia e NÃO fui informada de que poderia levar um cirurgião plástico junto comigo... e, o pior: eu não sabia que o 2o. nódulo não havia sido identificado quando da mama aberta e, portanto, a médica retirou bastante tecido da região indicada PORÉM existia o risco (e foi o que aconteceu)do nódulo continuar ali! Assim, depois de muito sofrimento, depressão profunda, kilos a mais em excesso e 8 meses depois, descobri que um dos nódulos continua ali, e terei que ou extraí-lo com mamotomia ou nova cirurgia! enfim to arrasada. NÃO PELA NECESSIDADE DOS PROCEDIMENTOS, É ÓBVIO QUE SEI QUE TERIA QUE TIRAR, COM CICATRIZ OU NÃO, mas queria ter sido informada disso devidamente! não é possível que os médicos acreditem que cuidar de alguém resume-se ao trato físico. EU SÓ QUERIA TER TIDO TEMPO, antes e depois da cirurgia, pra lidar com essa cicatriz e pior, para lifdar com outra intervenção. to inconformada, e é muito provável que processe a médica por danos morais. Cintia.

Anônimo disse...

Boa tarde, Juliana. Minha mamotomia estava marcada para o dia 19.04.10 e antes de realiza-la resolvi fazer uma pesquisa no google. Nesta busca encontrei o seu relato e sou sincera em dizer que me deixou APAVORADA. Mas como seria necessário fazê-la... lá fui eu.
Enquanto aguardava a minha vez conversei com outras 3 mulheres que já haviam feito o procedimento e estavam guardando, com gelo sobre o seio, um determinado período de repouso. Nenhuma delas me relatou nenhum desconforto a não ser a imobilidade que é necessária para que tudo corra a contento.
Fui realizar o exame bastante tranquila e não passei por nenhum tipo de dor.
Hoje, um dia após a realização do exame, não tenho dor, o seio não está com hematomas e movimento o braço normalmente. Sequer precisei tomar analgésicos.
Sei que cada pessoa sente de maneira diferente, mas achei importante deixar o meu relato para que outras mulheres leiam depoimentos positivos a respeito de um exame tão importante. A sua experiência foi traumática, mas a minha e a das outras que estavam no laboratório junto comigo não o foi.
Um abraço,
Valquíria - 21/04/2010

Anônimo disse...

JULIANA, FIZ UMA MAMOGRAFIA EM 2006 AOS 37 ANOS. QUANDO CHEGUEI NO HOSPITAL PARA REALIZAR O EXAME ESTAVA TRANQUILA. A TÉCNICA ESTAVA MAU HUMORADA. ELA FEZ O PROCEDIMENTO NORMAL, MAS QUANDO FOI FAZER NO SEIO ESQUERDO EU NÃO CONSEGUIA FICAR NA POSIÇÃO CERTA ELA SE IRRITOU ME POSICIONOU DE MODO RISPIDO E COMPRIMIU MEU SEIO E DOEU PEDIA PARA PARAR MAS ELA CONTINUOU E COMECEI A GRITAR E ELA CONTINUOU SENTI UM ESTALO E UMA DOR HORRIVEL. SAI DO HOSPITAL CHORANDO. FIQUEI COM UMA NECROSE NO SEIO E FAÇO TRATAMENTO NO HOSPITAL PARA DOR. ABRI UM PROCESSO CONTRA O HOSPITAL. A MAMOGRAFIA É IMPORTANTE CONTANTO QUE SEJA FEITA POR UMA PROFISSIONAL RESPONSÁVEL. ANÔNIMA 2

Juliana N disse...

Não se preocupe, vc foi clara como água. Só que sempre tem algum negativista para pentelhar, é assim mesmo. Uma pena...

Encontrei sua página pesquisando sobre mamografia. Fiz uma hoje. Doeu muito! A técnica disse que se não apertasse bastante, daria errado o exame. Engraçado que minha ginecologista disse que não é para este exame doer, mas, enfim, fiz o bendito.

Como com vc, a técnica voltou dizendo que a médica havia solicitado um exame complementar (repetir aumentando uma determinada área). Não fiquei otimista e resolvi procurar respostas no google e te achei.

Seus textos foram bem esclarecedores. Obrigada! Minha mãe teve câncer de mama a primeira vez aos 30 anos (estou com 32) e depois de alguns anos teve outra vez. Retirou as duas mamas. Brabo...

To meio neurótica. Espero que dê tudo certo. Seja lá o que for, é melhor saber logo no início, né?

Mais uma vez, obrigada por seu texto super mega ultra power informativo.

Bjão e fique com Deus.

Harobed disse...

Boa noite queridas parceiras de mais uma luta! Só gostaria de tirar uma dúvida: Por que não dão um sedativo na hora do exame? Como em uma endoscopia? Por que será ???
Abraços
Harobed

Deby's disse...

Oi, Juliana! Entendi seu ponto em ambos os posts, mas achei interessante dividir contigo uma opinião diferente. Em 07/12 procurei um masto por ter identificado em auto exame um nódulo palpável. Fizemos ultrassom, a classificação das minhas imagens também foi BIRADS 3 e após uma punção de agulha fina, que também resultou em característica de benignidade, a opção do médico foi aguardar por 4 meses p/ fazer novas imagens via ultrassom. Passado esse tempo, repetimos a eco mamária e constatamos um crescimento que o levou a crer, c/ quase certeza, e por todas as outras características, que se tratava de um tumor benigno, mas que deveria ser retirado. Para a confirmação, fizemos uma biópsia por punção de agulha grossa (procedimento um pouco menos complexo que a mamotomia). Resultado: estou c/ câncer de mama, aos 30 anos. Meu câncer era "totalmente difarçado", em termos de imagem. Nem a punção de agulha fina foi capaz de detectá-lo de forma conclusiva. Assim, acho que, sim, os médicos devem insistir nos exames mais precisos, ainda que mais invasivos/dolorosos, em prol do diagnóstico. Não deixo de concordar contigo, quanto ao direito à informação, de fato. Mas, veja: se mamografia (dolorosa e um pouco invasiva) e ressonância magnética das mamas fosse um procedimento de rotina em mulheres mais jovens (como o é o preventivo papa nicolau, por exemplo), provavelmente eu teria tido um diagnóstico mais precoce e meu tratamento não implicaria em quimio neoadjuvante (com a possibilidade de ter prejudicada a minha fertilidade, sendo que ainda não sou mãe), seguida de mastectomia na mama esquerda (já que meu diagnótico é de carcinoma ductal infiltrante). Em algumas horas, vou fazer uma mamotomia em um nódulo com baixo grau de suspeição na mama direita. Achei ótimo ler as suas impressões sobre o exame, porque também sou da turma que prefere a informação à surpresa. Mas também achei importante dividir contigo a minha opinião, que difere um pouco da sua, quanto à necessidade e importância da realização de procedimentos de diagnósticos, ainda que invasivos, mesmo que se corra o risco de pecar pelo excesso. Seu resultado final dos exames foi feliz, graças a Deus. No meu caso, meu médico talvez tenha tido a prudência que você desejava que o seu tivesse tido, mas ela foi indevida, entende? Postei apenas para reflexão. Grande abraço, Débora.

Anônimo disse...

Olá, tive que realizar um exame de mamotomia a 21 dias atrás, meu médico avisou como seria e que era dolorido, fui morrendo de medo, ainda mais porque pesquisei no google sobre o exame.
Na hora estava super nervosa e realmente para mim foi demais!!!Extremamente dolorido deve ter sido devido ao meu nervosismo, realizei nas duas mamas e quem realizou tanto o médico como as enfermeiras foram super atenciosas. O pós está sendo pior ainda apesar de todos os procedimentos realizados com gelo, e faixa, fiquei totalmente dolorida, inchada e roxa, agora tive que realizar um ultrasom onde o resultado foi que no local teve um trauma muito grande que formou um coagulo não se sabe se de pus, agua ou sangue, estou sofrendo todos esses dias e vou ter que realizar uma punção.
Graças a Deus os exames foram todos negativos para cancer, e hoje me pergunto se haveria necessidade de ter realizado já que as minhas microcalcificações apareceram em 1998 e não teve nenhum tipo de alteração até hoje.
Com certeza foi bom ter investigado já que com tantos casos de cancer de mama em pessoas cada vez mais jovens. Tenho 47 anos e não tenho nenhum caso de cancêr na família nem por parte de mãe e pai.
Espero em breve me recuperar e nunca mais ter que realizá-lo.
Somente um desabafo.
Obrigada
Lilian