quinta-feira, novembro 20, 2008

Mulher, trabalho e independência financeira

Muitas mulheres que são mães e trabalham fora vivem um dilema constante entre a dedicação às suas carreiras (quando têm uma carreira e não apenas um emprego!) e o cuidado com suas famílias. Carregam uma culpa existencial por não saber se estão sendo suficientemente boas mães, se sua ausência acarretará algum trauma psicológico à criança, se não seria melhor que ficassem em casa até as crianças terem determinada idade (drama que não sei se acompanha igualmente os pais).

O fato é que quanto mais os homens compartilharem as atividades domésticas e exercerem de fato a paternidade, menos as mulheres necessitarão sentir-se assim e poderão curtir plenamente cada papel de suas vidas. Também é fato que isso só é possível quando de alguma forma o Estado possibilita, de alguma forma, que as crianças sejam cuidadas em centros de educação infantil ou quando exista a instituição 'empregada doméstica'.

Entretanto, ainda que existam boas babás, considero a tarefa de cuidar de uma criança em tempo integral muito exigente, portanto me parece salutar a criança ficar um tempo em casa e outro na creche ou em alguma creche em que as cuidadoras não trabalhem dois turnos seguidos.

Isso tudo porque verdadeiramente acredito que as mulheres, solteiras ou casadas, tendo ou não tendo filhos, sempre devem trabalhar. Casamento definitivamente não é profissão e nem sempre o que parece eterno será. E quando termina, nem sempre termina bem e ainda que termine essa mulher, mais cedo ou mais tarde terá que cuidar de sua vida e, quanto mais tarde, pior.

Sou parte de uma família com muitas mulheres. Minha avó materna tinha 6 irmãs. Seu pai não chegou a ser exatamente um incentivador de que elas estudassem e se formassem. Morreu cedo e deixou uma esposa e sete filhas em situação difícil. Praticamente todas tiveram que ir à luta. A mais velha, que já era casada, nunca trabalhou fora. Viveu um divórcio após quarenta anos de casamento e hoje, aos 80 anos, sobrevive com uma pensão apertada. Outra foi impedida pelo marido de trabalhar. Ele era advogado e tudo parecia uma mar de rosas. Separaram-se após vários anos e a ela, aos 70 anos, só restou uma pensão de salário mínimo do INSS e tentar arranjar um emprego. Coisa nada fácil para uma pessoa dessa idade, ainda que competente, num mercado que privilegia o novo e o belo.

Minha mãe era dona de casa e estava o tempo todo por perto. Nem por isso creio que pudesse nos dar mais atenção. Quem conseguiria com quatro filhos e fazendo todo o serviço de casa?



Portanto, chega a me dar um arrepio na espinha quando ouço uma mulher jovem dizendo que não trabalha fora. A meu ver, todo adulto tem que ter sua independência financeira. Se, atualmente, há esforços para que deficientes físicos e mentais possam exercer uma profissão e serem responsáveis pelo seu próprio sustento, por que uma mulher saudável não deveria fazer o mesmo? Não apenas por satisfação pesoal, mas também para sua própria segurança e tranqüilidade futuras.

Um comentário:

Anônimo disse...

A independência financeira é, acima de tudo, liberdade.
Quem muito se preocupa com ela, geralmente sente-se preso e sem coragem de se libertar.
Temos de nos sentir independentes independentemente da independência financeira.
É bem verdade que os nossos pensamentos, por mais "pecaminosos" que sejam, são nossos maiores tesouros. É a riquesa da qual ninguém pode se apropriar.
Também é verdade que os sonhos, como pensamentos independentes de nossas próprias vontades e consciências, são ainda mais valiosos que os próprios pensamentos conscientes e, portanto, "pecaminosos".
Há muito que penso sobre os pensamentos, conscientes e inconscientes. Ainda não encontrei respostas. Mas também pudera, nem sei qual é a pergunta!...
Mas, uma coisa é certa, a necessidade de independência (liberdade), inconscientemente, decorre da justeza dos grilhões que nos prendem na sensação de dependência (aprisionamento).
Poucas são as pessoas que têm coragem de se libertar.
Seboreaux