Tive o privilégio de conhecer três das minhas quatro bisavós e poder tê-las em minha vida por um bom tempinho. Uma, era cega ao final da vida, consequência da diabetes desenfreada. Outra estava sempre elegante - os cabelos cuidadosamente pintados e bem escovados, os vestidos de tecidos finos (e caros), as unhas sempre feitas e, para complementar, belas jóias, que foram espalhadas por toda a família após sua morte. Outra tinha o hábito infalível de enviar cartões de aniversário pontuais, minuciosamente escritos e deliciosamente carinhosos a todos os membros de sua família de 7 filhas, 20 netos, muitos bisnetos e todos os respectivos cônjuges. Ao final, o dinheiro era curto, então mandávamos respostas já com selos, para contribuir com a tradição.
Hoje minhas bisavós já se foram, mas convivo com minhas duas avós, que já passaram dos 80, mas conservam a energia e a jovialidade que às vezes me falta.
Uma nasceu carioca, só teve um irmão que morreu moço. Casou-se, teve três filhos, separou-se. Sempre gostou de política e economia e de fazer festas em sua casa.
A outra nasceu na roça, numa fazenda em São Paulo, segunda filha numa prole de sete mulheres, cresceu no Rio de Janeiro, casou-se, teve seis filhos. Sempre gostou de dança e obras de arte.
Uma fazia o melhor rosbife e o melhor creme de milho que já experimentei. A outra, o melhor bolo de caixa com cobertura de laranja açucarada e um suco de caju (de garrafa) doce de doer as bochechas.
Uma teve uma carreira sólida de auditora, aposentou-se relativamente jovem, num cargo importante, por uma doença incapacitante. Outra foi dona de casa, costureira, vendedora de comésticos, fez concurso público quase aos 40 anos de idade e aposentou-se aos 70, na compulsória.
Uma separou-se após 25 anos de casamento e sofreu muito com isso. Outra enterrou o marido após 57 anos de convivência e também sofreu muito com isso.
Uma lê jornais diariamente e conversa de política, economia e relações internacionais. Outra conversa de coisas do agora e do passado, do que houve e do que talvez não tenha havido. Uma gosta de novela. Outra, da Hebe Camargo.
Uma me levou a Disney e dividiu comigo uma cabine em meu primeiro cruzeiro marítimo. Outra deixava a gente viajar no seu closet de roupas e sapatos e no seu armário de bijouterias e maquiagens.
Uma ía semanalmente à feira e nos comprava biscoitos deliciosos. Outra arrumava uma cama de edredons no chão, onde dormiam 7 netos para descanso de seus pais.
Uma me ensinou coisas do mundo, Outra, coisas de pessoas. Ambas me mostraram o valor do estudo, do trabalho, do caráter e da honra.
Uma tem angina pectoris há vários anos. Outra curou-se de dois cânceres e fez duas pontes coronarianas. Ambas são fortes e vencedoras.
Minhas duas avós são maravilhosas, moram em meu coração e são parte do que sou, do que acredito e do que vivo. A elas, meu eterno agradecimento e imenso afeto.
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