Trabalho há algum tempo com desenvolvimento humano nas organizações e por isso estou sempre estudando uma ou outra coisa relacionada ao autoconhecimento, às interações humanas, ao desenvolvimento de competências intra e interpessoais. Participo de cursos e faço psicoterapia, o que também me mantém sempre em processo de reflexão e aprendizagem.
Mas essa não é uma rotina para todos. Vivemos numa sociedade racionalista, que valoriza o pensamento, o lógico, o cognitivo, a mente e rebaixa, rechaça ou ignora a emoção, o sentimento, o corpo. Por desconhecer, por não compreender, chegamos a temê-los. Acreditamos que se uma decisão é baseada em emoção é equivocada, duvidamos de que um problema de fundo emocional possa levar ao adoecimento físico, como se fôssemos compostos de partes independentes e desintegradas.
Agora estou lendo um livro que tenho gostado muito - Fundamentos da Educação Emocional, de Juan Casassus, publicado pela Unesco. Coloco aqui alguns pontos que considero bastante relevantes.
"É importante reconhecer o poder das emoções no que concerne a sua capacidade de nos revelar a nós mesmos e fazer com que sejamos pessoas melhores, vivendo uma vida mais plena e consciente. A educação emocional trata disso. É possível aprender experimentando, analisando e compartilhando. Mas o conhecimento das emoções não é adquirido somente pelas palavras. Aprende-se muito mais por meio das ações, vivendo num contexto de apreço verdadeiro, de tolerância, vendo bons exemplos de interrelações, vivendo essas interrelações."
Considerar isso é particularmente importante para pais. Não basta educar os filhos em relação a bons modos e etiqueta social, não basta fornecer meios de aprendizagem focada em competências cognitivas e que levem posteriormente à realização de ofícios e à inserção no mundo do trabalho. É preciso educar co-viver, para viver com o outro, para respeitar o outro e o ambiente vivo que habitamos, que é a nossa casa e que também é parte de nós.
"As emoções são a chave de nossa sobrevivência. Sempre o foram. Se estamos aqui hoje como espécie, é porque, desde o início de nossa evolução, se desenvolveu em nosso cérebro (reptiliano) a capacidade de sentir e nos adaptar ao entorno. O medo nos permitiu reagir diante do que nos ameaçava, enquanto o desejo nos permitiu alimentar e reproduzir a espécie. As emoçõe estiveram no centro de nossa capacidade de sobreviver. A capacidade emocional é a força que nos impulsiona a adaptar e transformar nossos entornos externos e internos: está no centro de nossa capacidade de evoluir. (...) As emoções representam o campo vital para cada um. O que sentimos sobre nós mesmos determina em grande medida quem somos."
Por isso somente quando começamos a perceber o que sentimos (tomar consciência), a reconhecer o que sentimos (saber nomear as emoçoes) é que podemos chegar a terceira etapa de domesticar a emoção. Esses são processos internos que caracterizam a regulação emocional. Para Casassus, as emoções não são negativas ou destrutivas, nem positivas, ele as considera como neutras. O que não é neutro é o que pensamos e fazemos quando estamos emocionados.
Como pais, precisamos desenvolver nossa competência de regulação emocional. As crianças muitas vezes exibem comportamentos que nos levam a sentir raiva. Não precisamos sentir culpa por isso. Precisamos reconhecer que não somos as nossas emoções. Preciso tomar consciência da emoção da raiva, identificar as circunstâncias em que sou tomado por ela (isso permitirá mudar o meu padrão de resposta e me libertar de comportamentos inadequados) e, assim, escolher como agir. Não é porque sinto raiva ou mágoa ou indignação é que vou agredir o meu filho. Se ele demonstrou um comportamento inadequado, mesmo que isso me desencadeie emoções fortes, como raiva, preciso ter consciência de que o importante no momento é controlar minha emoção, para poder tomar uma atitude coerente com minhas crenças e meus valores - educo pelo diálogo, educo pelo exemplo, educo com amor e com afeto. Depois posso continuar meu processo de autoconhecimento e regulação de minhas emoções com tranquilidade...
É assim também que ensino a minha filha a entender o que sente, a expressar o que sente, a pensar e refletir sobre o que sente, a escolher como agir a partir de uma ou outra emoção. É fácil? É um treino constante...
Sugestão de outros títulos sobre o tema:
- Desenvolvimento Interpessoal: Treinamento em Grupo, de Fela Moscovici, Editora José Olympio, 2008.
- A Inteligência Emocional, de Daniel Goleman - Editora Objetiva
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