Hoje fui surpreendida quando meu marido, de férias, aproximou-se de mim, deu-me um beijo e disse que estava saindo. Saindo? É, resolver umas coisas. Tinha que ver umas coisas para a obra que estamos fazendo na casa. Pegou a bolsa e saiu.
Fiquei pensando quando havia sido a última vez que, simplesmente, peguei a bolsa, dei um beijo e ... saí. Talvez esse tenha sido o grande choque que a maternidade me fez experimentar. De repente, eu não podia mais, só e simplesmente, ... sair. Embora teoricamente já soubesse da abdicação que me esperava, na prática ela me seria muito mais dramática e cara. Após o nascimento da minha primeira filha, senti-me alheia à minha identidade, desapropriada de meus quereres, desprovida do direito de escolher. Sim, não podia mais tomar as decisões mais simples do meu dia-a-dia. Quando dormir, quando acordar, quando ir ao banheiro, quando comer. Passei um bom tempo meio atônita, meio autômata. Fazia o que tinha que fazer. O que achava que era certo fazer. Nos primeiros sete dias já tinha perdido 13 dos 14kg ganhos durante a gravidez (aquele um me acompanharia para todo o sempre depois). Perdido peso, mas nunca mais reencontrado a forma original, que eu também prezava de uma maneira inocente, como fazem os jovens que acreditam que assim o serão por toda a vida.
Toda essa sensação de perda de liberdade, de perda de individualidade, de desapropriação do próprio corpo e da própria vida, somava-se à ansiedade de talvez não conseguir ser a mãe que a minha filha merecia. Era o tal sentimento de inadequação que mais uma vez me atormentava e me fazia desejar não estar ali, sumir no mundo, sumir do mundo.
Dessa vez tem sido diferente e até tenho buscado ficar grudada com a minha filhinha, numa simbiose gostosa, sentindo aquele minúsculo corpinho delicado e quente que parece se moldar ao meu colo e ao meu abraço. A ansiedade e a angústia finalmente cederam lugar à tranquilidade e ao aconchego. Pude sentir o prazer de maternar.
Um comentário:
Ai, Ju... ás vezes queria que a gente só aceitasse a vida, sem muito questionar. Talvez fosse mais fácil e talvez conseguíssemos aproveitar o mais prazeroso... Bjos. Érika
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