A primeira vez para mim, para qualquer coisa, é sempre assim - ensaiada, milimetrada, calculada, medida e planejada (pensei um ano, antes de tomar a decisão de escrever publicamente). Cheia de ansiedades e angústias. Embaraço e timidez. Medo de errar. De não agradar. De ser demais ou de menos. De faltar o importante, de sobrar o dispensável.
Não sei se é assim com todo mundo, ou com a maioria. Ou se é mais um exemplo de perfeccionismo insensato do qual eu poderia perfeitamente abdicar em detrimento de mais tranqüilidade e qualidade de vida - coisa que ando procurando e que faz parte da temática central desse blog. Se alguém dispuser de sobra, aceito doações, sem qualquer pudor. Receitas alternativas ou milagrosas também são bem-vindas. Não tenho preconceitos, a priori. Se vou testá-las, não sei. Sou bem cética, às vezes.
Hoje quero falar do trânsito na capital federal.
Moro a 10km do meu trabalho, o que é uma distância relativamente curta, considerando-se as avenidas largas e retilíneas da cidade. Entretanto, as coisas têm mudado nos últimos anos. O número de habitantes e veículos aumentou expressivamente, bem como os antipáticos sinais de trânsito (que estão sempre fechados quando estou passando).
Hoje, por exemplo, uma ordinária terça-feira, demorei 50 minutos para voltar do trabalho para casa, após o expediente. Somando-se aos 25 minutos casa-trabalho, pela manhã, mais 20 minutos trabalho-casa, para o almoço e outros 30 (casa-trabalho), para o turno vespertino, cheguei a um total de 125 minutos – exatas 2 horas e 5 minutos! - do meu dia, dedicados, exclusivamente, ao t-r-â-n-s-i-t-o.
Há ainda para serem contabilizados 40 minutos investidos no percurso estacionamento-prédio-estacionamento e no transporte vertical (elevador, segundo aprendi recentemente) - necessário para chegar ao 16º andar do edifício onde trabalho, juntamente a outras centenas de pessoas, viventes de rotinas semelhantes.
Tudo bem que posso aproveitar o tempo reclusa na prisão de rodas para pensar na vida (não dá certo, acabo pensando na lista de coisas para fazer), para treinar o segundo idioma esquecido ouvindo CDs de cursos a distância (não dá certo, acabo ignorando a aula e pensando na lista de coisas para fazer), ou para meditar ouvindo uma música relaxante (não dá certo, fico entediada, prefiro mudar para o curso de inglês e acabo pensando na lista de coisas para fazer). Mas isso não muda o fato de que 2h45min – quase um oitavo do meu dia – são dedicados a uma atividade totalmente insípida e improdutiva! Se, além disso, por oito horas eu trabalho, seis eu durmo, três eu dedico a necessidades básicas – alimentação, higiene, vestuário (incluindo maquiagem e sessão de cremes), resta-me dispor de sabedoria suficiente para poder viver as 4 horas e 15 minutos restantes!
Um comentário:
Isso é triste...e disso eu não sinto falta. Em São Paulo eu chegava a gastar mais de 4 horas no trânsito por dia, isso mesmo, 4.Desenvolvi estratégias interessantes pra passar o tempo e não pensar em tudo que eu podia estar fazendo e não estava por causa do $%#@^& trânsito (pro perfeccionismo eu não tenho, mas pro trânsito, divido-as com vc): fazer a sombrancelha (enquanto o sinal está vermelho, é uma maravilha, vc fica até torcendo pro sinal não abir), brincar de "qual é a música" ouvindo rádio, decorar "Águas de Março" (essa me rendeu entretenimento por semanas, eu ouvia, voltava, verificava e sei de cor até hoje,útil não é, mas é divertido), ler um livro que vc possa ler em pedacinhos e não exija muita atenção (o meu era um que descrevia os capítulos de "Friends", as vezes o povo buzinava, mas tudo bem). Agora se nada disso funcionar, faça como minha cunhada (que mora aí em Brasília) vá trabalhar de bicicleta! :-)
Acho que empolguei nos comentários, mas é que eu sempre quis dividir minhas estratégias de entretenimento transital ;-)
até,
Keiko
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