A idéia é refletir, meditar, discutir, desabafar... histórias, sentimentos, experiências, vivências... o cotidiano dessa vida urbana louca de uma mulher - mãe, profissional, esposa, dona-de-casa - em busca de viver e de ser feliz.
terça-feira, maio 22, 2007
Melancolia
O Dia das Mães passou há mais de uma semana. Eu gostaria de ter escrito algo sobre o tema. Mas nada me ocorreu na ocasião.
Não porque não sentisse nada.
Não porque fosse exatamente difícil falar sobre "ser mãe".
Mas, principalmente, porque não queria repetir o óbvio.
Além disso, não queria cair em estereótipos.
Não me agrada, por exemplo, nenhum tipo de mitificação da maternidade, comparações angelicais do papel materno.
Mãe é gente, é mulher. Que ama e odeia, erra e acerta, chora e ri, sofre e se recupera, cai e levanta....
Não é anjo, não é flor,... não é mais divina do que outras criaturas divinas.
O que faz dessa mulher - mãe, o que faz essa mulher diferente das outras mulheres, não é a maternidade, nem o filho, em si.
É o amor desse filho ou filha, o amor por esse filho ou essa filha que dão existência à mulher-mãe.
Falar desse amor...
isso sim é difícil prá danar.
Por isso não vou me atrever a isso.
Deixo para os poucos que o conseguem sem fazê-lo piegas.
Amor eu vivo, eu sinto. Isso me basta.
O que me deu vontade de falar aqui e agora é da existência desse amor e dessa mãe, ainda que na ausência do filho.
Talvez o cúmulo da ironia... Um amor, uma mãe, uma ausência...
Ausência porque esse filho se foi...
porque esse filho nunca veio,
porque esse filho veio um pouquinho, deixou um gostinho...
e se foi...
Queria falar dessa dor, dessa perda, desse luto que só conhece quem já viveu.
Que só sabe quem já sentiu, que só dimensiona quem já passou.
Essa dor que dói sozinha,
às vezes fininha,
às vezes latejante,
às vezes lancinante.
Às vezes faz chorar,
às vezes faz divagar,
às vezes faz paralisar...
Essa dor geralmente vivida a sós, no escuro do quarto, ao apagar das luzes, quando as vozes se calam, quando a noite se deita, quando estamos a sós com a gente mesma e nossos pensamentos e sentimentos mais profundos teimam em dar as caras.
Como se quiséssemos conhecê-los!...
Essa dor que não é única, mas sentida por tantas, que me dói mais...
Só sei que vi no monitor um coraçãozinho bater. Eu já sentia meu corpo diferente, já me preparava para recebê-lo. Por mais que não quisesse (o juízo me recomendava desconfiança e prudência), eu já fazia planos para o futuro, já reorganizava minha vida em função dele.
Mas ele teimou em deitar-se em local adverso.
Onde não era para ficar.
Onde não lhe cabia...
Onde não poderia continuar...
Foi extirpado, junto com parte de mim. Retirado à força...
Causando-me dor e sofrimento.
Deixando-me vazia...
Terminou tão rápido. Não deu tempo de despedir, não deu tempo de enterrar.
Por isso trago essa dor à tona. Por mais que não seja bom.
Para tentar olhar para ela, digeri-la, desvencilhar-me, acalentar-me e deixá-la ir...
Deixá-la virar saudade,
e a saudade virar lembrança...
Uma boa, serena e sublime lembrança...
A todos os filhos e filhas ausentes... e a suas mães.
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4 comentários:
Que mensagem linda!
Suas palavras revelam muito sentimento.
Quanta dor!
Quanta saudade!
Desejo que seu coração tenha se libertado dessa dor e esteja sendo sarado, tratado, restaurado.
Escrever pra mim tem esse efeito terapêutico, deixo aqui registrado fora de mim em forma de palavras, imagens e símbolos todos aqueles pensamentos perturbadores e doentios que me acompanham e me perseguem pela vida.
Sempre que volto a trás e releio o que já escrevi, percebo que sou renovada, nem parece que fui eu quem guardou aquela mágoa, aquela dor.
Obrigada amiga, estou amando esta oportunidade de me reaproximar de você, trago comigo a lembrança de momentos importantes que passamos juntas.
Deus lhe abençoe!
Ju, sou leitora do seu blog desde que o descobri através do tópico de endometriose. Amo seus textos e me identifico muito com eles. Sempre apareço por aqui para reler os meus preferidos e ver se tem novidade. Conheço bem essa dor que doi fininha porque o filho nunca veio...
Sou fã de Clarice Lispector, Lya Luft, Martha Medeiros, Ana Jácomo e... Juliana Werneck. Rs!
Beijos, querida.
Oi Luciana! Obrigada por suas visitas!! Tenho escrito pouco ultimamente, não por falta de assunto, mas por falta de energia e de organização. Quando chega a hora que eu normalmente fazia isso, mais tarde da noite, já me rendi à preguiça.
Confesso que fiquei espantada com seu elogio, não sabia que tinha visitantes como você! Mas fiquei mais espantada quando me colocou na mesma frase junto a Clarisse, Lya e Martha!! Aí descobri outras afinidades entre nós, como uma certa tendência ao exagero! :-)
Brincadeiras à parte, entendi o que quis dizer, com encontrar alguém com quem nos identificamos de alguma forma e cujos sentimentos e palavras fazem sentido em nosso coração. E isso não tem a ver com estética, nem poesia.
Espero que sua dor fininha logo pare de doer e que venha algo novo, algo muito bom, o que quer que seja...
Um beijo grande, com todo o carinho,
Ju.
Rss... Você é realmente uma querida!
Que assim seja!!
Postei parte deste texto ontem em minha página do Facebook. Se quiser ver e me conhecer um pouco, aí está o endereço.
Obrigada pelo carinho!
Beijos.
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