quinta-feira, junho 14, 2007

Diário de bordo -Rio de Janeiro e Petrópolis - pinceladas finais

Percebi que não sirvo para escrever diários de bordo. Um, deixo passar muito tempo. Dois, esqueço das coisas. Três, tenho vontade de falar de outros assuntos. Então, farei uma pincelada sobre um pouco de cada dia que se seguiu.

- Ainda no dia 2, à noite - encontro com amiga que está de mudança para o Rio (Snif, snif!!) no novo Shopping Leblon (mulher brasiliense que se preze não perde oportunidade de conhecer shoping novo. Claro, depois de dar uma volta no Rio Sul, que é básico). O Shopping está lindo, praticamente vazio, apenas uns poucos vips bem vestidos passeando por ali (contrariando a teoria de que carioca não liga para essas coisas...). Sinto-me de novo no Universo Hípico! Amo este lugar!!


- Dia 3 - praia logo de manhã. Eu, minha prima (ex-brasiliense-carioca, morando em Brasília), nossas crias e toda a tralha infantil. Praticamente nós na praia - porque carioca que se preze não vai à praia com aquele vento frio! Só almas desesperadas por um cheiro de maresia e uma onda salgada. Ah, havia também um gringo que chegou de calça comprida e camisa colorida com a mulher num maiô horrendo, uma dupla feminina treinando voley de areia e uma turma de 12 crianças e adolescentes, vestidas com o uniforme de um projeto social (Futuro Feliz), cuidadas por um monitor bem sarado, provavelmente membro da própria comunidade a que pertenciam.
Pausa para comentar as estratégias pedagógicas do monitor. Primeiramente, eles estavam na areia, jogando. Eram 10 garotos, que pareciam ter de 12 a 15 anos, uma garota de uns 13 e um menino menorzinho. Após brincarem na areia, correm animados em direção ao mar. O monitor berra lá de cima, perto da gente "Todo mundo junto e no raso! Se alguém sair de perto ou for pro pro fundo, vai levar porrada!" Devo ter olhado para ele com uma cara bem esquisita (talvez de surpresa-susto-pânico-choque), porque ele fez questão de comentar "tem que ser assim, senão eles não obedecem!". Sorri. O que dizer, diante de tais argumentos?
O pequenininho não foi, ficou sentado no lado dele, visivelmente com medo. "E aí, moleque, vai ficar aí sentado que nem um otário? Vai lá!..Vai se divertir!.."
Penso na rudeza dessas relações, na quantidade de carinho e afeto que essas crianças devem receber. Imaginar que talvez ele pudesse ser pessoa mais carinhosa com quem conviviam. Seu referencial de afeto. E não posso dizer que não o fosse mesmo, a seu modo.
Mas o pequeno não vai, fica por ali. Logo depois ele se aproxima do mar e fica olhando de longe a alegria dos outros. Eu já estava com minha filha ali na beirada, pulando ondas de mãos dadas com ela. Chamo ele, pergunto se não quer pular com a gente, de mãos dadas. Ele vem. Um pouco cabreiro, mas vem. Ficamos ali, pulando e nos divertindo em segurança. Daí um pouco, ele se solta e começa a dar estrelinhas sobre as ondas rasas. Era um ás. Fazia capoeira, tinha 8 anos. Um sorriso lindo, os dentes tortos. Uma criança, como qualquer outra. Seu nome? Negão. "Negão, mas você é tão pequenininho?! E qual seu nome de verdade?" Me conta seu nome completo, mas não consigo compreender na fala enrolada. Deixa quieto... Negão!... Qual será o seu futuro?..., penso com o coração apertado, torcendo por um futuro realmente feliz.
Nos separamos e mais tarde fico feliz ao ver o monitor com ele, de mãos dadas, pulando ondas, no rasinho, enquanto o resto do grupo se diverte, em distância segura.

Dia 4 - já tenho marido novamente, que chegara na véspera, tarde da noite. Vamos para Petrópolis. Nunca tinha ido lá. Uma delícia de cidade. Já tem muita arquitetura nova, mas ainda guarda seu ar imperial.


Andamos de charrete (sempre fazemos todo e qualquer programa para turista que caiba em nossos bolsos - ultra-leve em Prado, passeio de burro em Trancoso, esquibunda em Natal, mergulho em Fernando de Noronha, jet ski em Porto de Galinhas, triciclo em Maceió... Somos o típico casal turista brega!), passamos pela Catedral (lindíssima!), pela casa de Santos Dumont, pelo Palácio de Cristal (Conde D'Eu presenteou a Princesa Izabel com esse Palácio quando eles fizeram não sei quantos anos de casados, para que ela pudesse promover suas festas e recepções.



Dei uma cotovelada no marido desligado, para que ele percebesse a grandeza desse gesto de amor e carinho e pudesse se inspirar nos próximos aniversários).

Ah, esqueci de falar de um detalhe importantíssimo. Os cavalos usam umas sacolinhas presas em seus bumbuns, para evitar sujar a cidade. São super discretas e cumprem bem o seu propósito. Adorei isso! Mas não há nada para o número 1, e é uma verdadeira (e impressionante) cachoeira a cada vez que um resolve abrir a torneirinha.

Dia 5 - vou conhecer a famosa Rua Teresa. Descubro que não é uma rua, mas muitas ruas. 1200 lojas de fábrica, com preços módicos! Seria uma amostra do paraíso na Terra, não fosse as milhares de pessoas que se engalfinhavam por um pedaço de asfalto para caminhar. Caco Antibes diria que era a visão do inferno. Meu marido concordaria em gênero, número e grau. Tanto que não conseguiu durar até a metade do passeio. Felizmente encontramos um casal de amigos de BSB, os dois saíram para tomar cerveja, levaram a filha igualmente entediada e estressada e ficamos as duas, animadíssimas para caminhar naquele formigueiro humano.
Era sexta-feira, após um feriado. Havia sido ponto facultativo no Rio de Janeiro. Nem os lojistas esperavam tamanha demanda, ouvi dizerem que nem em dezembro aquilo ficava daquele jeito. Murphy sabia, aposto, era o dia que eu estaria lá e preparou uma surpresa. Bem, não preciso dizer que não deu para ver muita coisa e que tive que voltar no dia seguinte. Desta vez sozinha. Gastei 3 horas e 15 minutos, voltei com cinco sacolas cheias e pesadas, mas com um sorriso no rosto e nem um pouco cansada.
Realmente, fazer compras não me cansa. Só que percebi que não tem tanta graça comprar tanta coisa, assim, numa vez só. Porque o legal mesmo é sempre ter um motivo para sair (para as compras). Ali eu acabei esgotando minha cota de um ano (para meu marido), seis meses (para minha filha) e duas semanas(para mim). Acho que meu sonho era ser premiada numa daquelas promoções, "você acaba de ganhar R$ 15.000,00 para gastar em duas horas no melhor shopping da cidade". Ai que delícia!!! Com dinheiro dos outros é tão melhor!! Lembro, com nostalgia, da minha vida de herdeira milionária...

Dia 6 - visitamos o Museu Imperial. A filha de 6 anos gostou da parte de vestir as pantufas e deslizar no chão encerado, mas como alegria de pobre (e de criança) dura pouco, foi logo coibida e não se sentiu mais tão animada com o passeio. Quando já tínhamos passado da metade, estava em uma sala ampla em que havia expostas algumas ferramentas de tortura (essas coisas sempre me fascinam e angustiam, então tenho que ver). Concentrada, lia as histórias dos instrumentos, através da vitrine. Só ouço uma vozinha conhecida e nervosa, vindo lá da porta, em tom altamente imperativo: "Mãe, vamos LOGO!, que eu já estou CANSADA disso aqui!!! E não é só DEEES-SA sala, é de TUUU-DO isso aqui!!", fazendo um gesto com os braços apontando todo o prédio do museu. Risos de todos! Tadinha, para quem nunca ouviu falar de Império, nem de D. Pedro e não vê a menor graça em móveis e retratos, já tinha sido demais mesmo!

Dia 7 - volta pro Rio, almoço com avó e tia, peixe de água salgada, bem temperado com molho de camarão. Restaurante pequeno, comida deliciosa. Visita a família, sono à tarde, arrumação de mala (tinha que caber tudo o que veio mais o resultado do estrago de Petrópolis).
Coube! Fico satisfeita com minha competência! Vamos dormir.

Dia 8 - Retorno para Brasília. (É bom sair, mas é muito bom voltar para a nossa casa, o nosso quarto, a nossa cama!) Fila no aeroporto (o marido sistemático e a filha saltitante contaram 236 passos - dele! Praticamente um metro cada! Uma loucura!), uma hora e quinze de atraso (tudo bem que não deu para estressar, mas "relaxar e gozar" já era querer demais!!!). Chegamos em casa. Cansados e felizes.

Dia 9 - Último dia de férias. Tenho que aproveitar! Tenho que dormir! Tenho que ler meus e-mails! ai, o que eu faço??
A filha foi para a aula e voltou cheia de deveres atrasados.
- Mãe, tenho DOZE deveres!!
- Nossa, filha!
- E a tia já ensinou a família do ra-re-ri-ro-ru!
- Sério? Mas é fácil?, cê já aprendeu?
E com uma cara de puro desdém, cheia de si, responde:
- FA-CÍS-SI-MO!!

Dia 10 - Facíssimo é sair de férias, dificíssimo é acordar às 7 da matina para voltar ao batente!

4 comentários:

Anônimo disse...

Olá Juliana!!!!
Primeiro agradeço o convite para visitar se espaço de crônicas virtuais, fica mais bacana crônicas, né? rs...rs.
Olha, adorei sua pinceladas, percebe-se que vc têm bastante talento para artista plástica...rs...rs
Parabéns, continue a "pintar" seus pensamentos na tela virtual que o sucesso já está garantido.
Bjo.
Clerton.

Juliana Werneck disse...

Clerton, obrigada pela visita e pelo estímulo (nada como se ter amigos!!).
Volte sempre!
Bjs, Ju.

Cinthia Kriemler disse...

Quer dizer então que, além de Ceforiana e BSCiana - dotes revelados -, você tem dotes ocultos (agora também revelados) de escritora?!!??
Estou me deliciando lendo! Além disso, a página ficou leve, cores suaves. Exposta...e corajosa!!!

Muito bom!!!!

Beijocas

Cinthia

Juliana Werneck disse...

Oi Cínthia!
Delícia saber que passou por aqui! E que gostou!
Dotes de escritora seria demais, mas que estou curtindo esses momentos em que paro, penso e escrevo, isso estou, sim!
Bjs..