Às vezes me sinto culpada, pois deveria sentir-me feliz mas não me sinto.
Deveria sentir-me feliz pois tenho um trabalho legal, que me realiza, quando moro num país de exclusão em que tantos não têm nem algum que sirva para o sustento.
Mas não me sinto.
Deveria sentir-me feliz por ter uma família legal, que conversa, que se diverte junto, que tenta viver o presente e planejar o futuro.
Mas não me sinto.
Deveria sentir-me feliz por ter uma filha linda, carinhosa, inteligente, meiga, decidida...
Mas não me sinto.
Deveria sentir-me feliz por ter um corpo saudável, não precisar tomar medicamentos controlados, fazer dieta, nem estar ligada a aparelhos.
Mas não me sinto.
Tudo isso me faz pensar que o estado de felicidade independe muito menos de fatores externos do que internos.
Que se quisermos buscar um estado de felicidade - como já pregavam nossos sábios ancestrais - o olhar, o coração, o espírito devem voltar-se para dentro ... e para cima.
Por outro lado, percebo que pensar em todos os motivos externos que tenho para estar feliz me deixa mais feliz.
O que me faz questionar se muitas vezes não temos (tenho?) uma tendência para focar nos outros mil motivos que temos (tenho) para não estar bem.
No sonho de infância que não realizei, no que poderia-ter-sido-mas-não-foi, nos amigos que já não tenho, no que queria fazer mas não posso, na banheira de hidromassagem que não possuo (e que se possuísse provavelmente não usaria), no tempo que passou, no corpo que já não é o meu, no filho que não nasceu, no dinheiro que perdi,...
De repente, minha filha passa aqui literalmente dando pulos e gritinhos de alegria porque conseguiu passar para a próxima fase do jogo eletrônico - feito nunca dantes realizado. "Estou tão emocionada!", ela dizia, com um sorriso radiante como quem acaba de quebrar um recorde olímpico.
Penso que a felicidade é realmente algo muito simples, que quando a gente cresce complica muito e acaba por perdê-la de vista.
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