segunda-feira, outubro 22, 2007

Tropa de Elite




"Tropa de elite, osso duro de roer,
Pega um, pega geral, também vai pegar você."

(Tropa de Elite, Tijuana)

Adoro filmes policiais, adoro seriados policiais.
Qual não foi minha satisfação ao assistir, pela primeira vez, um verdadeiro exemplar do gênero - brasileiro!
O gosto foi tanto que vi duas vezes na mesma semana - no cinema, registre-se!
A discussão na mídia está intensa. Uns criticam a violência. Outros a possibilidade de a população mitificar a ação truculenta da polícia de elite, considerando-a legítima.
Particularmente, não creio que o filme seja exatamente violento, infelizmente a realidade na qual ele se baseia o é. E talvez muito mais do que a que está ali retratada. Numa das cenas sórdidas em que dois bandidos decidem se vingar dos mauricinhos maconheiros metidos a engajados em movimento social (não por algo que eles tivessem feito, claro) certamente está muito aquém do que talvez se visse na vida real. Talvez a bela mocinha não recebesse somente um quase benevolente tiro na testa. Talvez eles tivessem a idéia de 'divertir-se' antes. Talvez o rapaz não fosse rapidamente incendiado, talvez o fizessem sofrer mais antes disso, como fizeram com Tim Lopes.
Noutra, em que se mostra uma cena de tortura policial que pretendia obter uma informação preciosa de um garoto, além da fatídica técnica "do saco", o grupo ameaça violentá-lo com um cabo de vassoura. Felizmente - para ele e para os expectadores angustiados - o menino acaba cagüetando o paradeiro do "dono do morro". Talvez, na vida real, a barbárie não parasse por aí.
O fato é que - querendo ou não, gostando ou não - a polícia existe para exercer a força, o poder de coerção e garantir o Estado de Direito. A pergunta que me faço é se haveria e quais seriam as alternativas do Capitão Nascimento ao lidar com bandidos inescrupulosos e sanguinários, da laia dos narcotraficantes cariocas.
Nos seriados americanos a que eu gosto de assistir, aqueles em que não há a figura do policial machão estilo Capitão Nascimento (que, aliás, está um gato!), os policiais têm que seguir regras rígidas (assim como os brasileiros) e se, por acaso ou por opção, saem do manual têm a Corregedoria em seu encalço - que parece não dar mole por lá (por aqui aparenta bem mais maleável). Então, após um longo período de investigação, infiltração, toda sorte de técnicas de inteligência, eles prendem os bandidos, lêem seus direitos e os levam para a prisão. Há uma audiência em que, dependendo do caso, será negociada uma fiança. No caso de bandido rico, a fiança nunca é inferior a 500 mil dólares. No caso de bandido que apresenta perigo à sociedade e risco de fuga, a fiança nunca é concedida e ele aguarda preso. Depois (mas não tão depois), haverá um julgamento com júri popular e ele pegará prisão perpétua e, pasmem, ficará preso até o fim da vida. Aqui por essas bandas, na vida real, o limite da pena é de 30 anos e, se bobear, o malandro sairá após ter cumprido um sexto do período inicialmente estipulado. Mesmo porque não há prisão para todos os condenados! Aqui, há indulto de fim-de-semana e até sociopata é liberado (mesmo contra a vontade de toda a família) e tem a oportunidade de fazer mais vítimas pelo mesmo crime que motivou sua prisão. Aqui, há um sistema que favorece a mentira e a corrupção (em todos os escalões da polícia e no âmbito dos três poderes). Aqui um PM ganha 900 reais, um soldado da tropa de elite ganha a super gratificação de 500 reais e pode elevar seu soldo para 1400 reais. Aqui o policial mora na vizinhança do bandido. Aqui não há treinamento nem armamento adequado para todo o contingente.
Aqui, agora, eu compreendo o Capitão Nascimento.
Não concordo, mas compreendo.
Bem, afora tudo isso, o filme é muito bem rodado, o roteiro, muito legal, a trilha sonora está fantástica e incorpora uma personagem essencial no filme, os atores estão arrasando (menos a esposa do Capitão, que é uma chata de galocha e trabalha mal à beça) e, até que enfim, o que considero um de seus grandes méritos - mostra o cotidiano e o ponto de vista do policial brasileiro, trabalhador, que sofre, que ama, que adoece, que erra, que quer acertar, que quer consertar, que tem medo, remorso, inteligência, ideal, senso de humor... igual a gente...

Um comentário:

Anônimo disse...

O filme mostra parte do cotidiano e do ponto de vista do policial brasileiro, nesse ponto ele é muito bom.

Gostei do texto e resolvi comentar.
Inté.