domingo, maio 18, 2008

Vivendo numa quitinete

Há duas semanas estamos tendo uma experiência nova e interessante. Nossa família de três pessoas, uma delas tendo 1,93m e mais de 100kg e outra possuidora de uma renca de roupa e de trecos, têm aprendido a conviver em um ap de 3 cômodos - banheiro amostra-grátis que acumula a função de área de serviço; quarto da criança e closet e, por fim, o maior de todos - sala e cozinha conjugados, que também funcionam como home theater, sala de estar, sala de jantar, escritório, hall de circulação e quarto do casal. Bom-bril perde de disparada!

O interessante é que um pouco antes de vir para cá, na verdade, há alguns meses, após ter passado um longo processo terapêutico e de auto-conhecimento, buscando compreender as razões e as relações entre mim e a lógica do consumo, após ter participado de cursos e palestras sobre "Finanças para Casais", "Finanças para Mulheres", "Orçamento Familiar", "Emoção e Dinheiro"..., após ter lido artigos, blogs e livros sobre o assunto - "Casais Inteligentes enriquecem juntos", "O significado simbólico do dinheiro", "O que as mulheres querem saber sobre Finanças Pessoais", decidi ser uma pessoa mais frugal e simplificar minha vida.

Decidida e definitivamente, me tornaria uma mulher simples.

Chega de frescurinhas, de mil acessórios, de sapatos novos a todo mês, de salão de beleza toda semana, de uma compra a cada saída para o shopping, de shopping toda semana... Não, essa era estava encerrada. Nascia uma nova mulher. Impermeável aos apelos do marketing e da sociedade materialista e consumista, segura de suas convicções, adepta e exemplo de um outro estilo de vida.

Troquei os saltos altos por saltos baixos, as calças de viscose por calças jeans. Em vez de esmaltes, no salão, lixa e base, passados em casa. Os cabelos, ao natural ou presos em rabos de cavalo. Estava quase uma Heloísa Helena. Achava que, em breve, poderia chegar a cogitar trocar a capital federal por São Jorge, na Chapada dos Veadeiros.

Até que tivemos que nos mudar. Ainda em casa, tive que selecionar o que viria para o novo apartamento. Havia apenas um guarda-roupa embutido de quatro portas (estreitas). Portanto, trouxe o mínimo necessário para uma sobrevivência digna por dois meses (prazo estimado para a reforma do lar-doce-lar). Desse mínimo, acabou que cerca de 2/3 continuaram acondicionados nas malas em que vieram, pois não couberam no armarito. Descobri que precisávamos rever nosso conceito de 'essenciabilidade'.

O mesmo aconteceu com a reserva da despensa. Descobri (um pouco tarde) que não poderia ter mais que "um" item de cada na reserva. A não ser leite, que podia ter "seis". O excedente durável foi empacotado e destinado ao depósito, o que tinha prazo de validade curto foi doado. Descobri que, na maioria das vezes, um (ou dois) é suficiente.

Mas o maior choque, o momento em que descobri que ainda estava muito longe na escala da simplicidade, que precisaria adiar ainda por muito tempo a mudança para São Jorge, foi o momento em que me deparei com o banheiro do novo apertamento:
1) A pia não tinha bancada! Ainda existe pia sem bancada e armário embaixo?? Pensei que estivessem extintas!
2) O armário era daquele tipo minúsculo e embutido na parede, com porta de espelho. Esses não estão extintos!!! Fiquei em estado de semi-paralisia. Olhei vagarosamente para baixo, para o local onde havia pensado, então, em colocar um gaveteiro plástico comprado na Tok Stok e que seria perfeito para dispor os itens de banheiro. Não!!!! Simplesmente tinha metade do tamanho necessário para o gaveteiro. Oh Céus!!! Onde ficarão meus sei-lá-quantos cremes, para o corpo, para o rosto, para as mãos, para os pés, para o dia, para a noite, meus estojos de maquiagem, caixas de batons, meus vidros de perfume, protetores solar, pacotes de cinco tipos de diferentes de absorventes íntimos, de algodão em bolas, algodão em círculos, algodão em rolo, potes de condicionador, demaquilante, tonalizante, esmaltes e removedor, cera, folhas e aparelho para depilação e outros apetrechos diversos, como lixas de unha, pinças, creme dental, escovas de dente - manual e elétrica...???

Oh Céus!! Como doeu a constatação!! Não sou simples!! Uma pessoa simples tem um ou dois!!

Bem, me resignei com a constatação e busquei uma solução criativa para acomodar todas as minhas frescurinhas, de modo que ficassem bem guardadinhas e esteticamente agradável ao olhar!!

É bom que fique claro que não fui a única a estranhar o novo aposento. O marido resolveu passar a fazer a barba no trabalho, pois não conseguia conciliar a sua altura, a do espelho, a largura do banheiro e a da pia e fazer os pêlos seguirem a direção desejada (que não fosse o chão, o seu pé, as minhas caixas de badulaques...). E a filha ainda não se adaptou ao chuveiro elétrico que esfria no frio e esquenta no calor!

Ao lado desses aprendizados, temos tido outros. Como a descoberta de que passamos a ficar muito mais juntos estando aqui. (Santa Inocência! Nem que não quisesse!!) Nos primeiros dias, então, que não tínhamos nem televisão, nem internet, nem telefone fixo, percebemos como as noites eram mais lentas e como nos aproveitávamos e conversávamos mais. (Até passei a realmente compreender aquela piada maldosa sobre não ter televisão e ter muitos filhos!..) Também não tínhamos filtro de água nem gás encanado para o fogão, mas isso confesso que não me fez falta. Comprávamos água mineral e almoçávamos fora, o que tinha o seu desfrute...

O marido romântico até cogitou trocarmos o nosso ap. por uma kit, ou aproveitarmos a reforma e colocarmos a maioria das paredes abaixo, para que pudéssemos nos "ver" mais. Achei super legal, mas logo lembrei que, além de o projeto estar todo pronto e já iniciado, isso atrapalharia bastante o valor de mercado e provavelmente dificultaria o processo caso resolvêssemos vendê-lo um dia, o que o fez rapidamente recuperar a lógica e o pragmatismo do pensamento.

Bem, o fato é que tudo realmente tem seus prós e seus contras. O bom é poder aproveitar todo o bom que a vida tem a nos oferecer!!

Um comentário:

Flávia disse...

Reforma? Achei que o apt de vocês já estivesse reformado de cabo a rabo. Que reforma masoquista é esta, se me perdoa o pleonasmo?

Beijinhos saudosos.