A filha de 8 anos estava brincando de mamãe e filhinhos com os três primos, de 5, 3 e 2 anos. Fui lá para espiar e acabei achando interessante filmar. Enquanto a mãe ia fazer alguma coisa na rua, resolvi fazer uma entrevista com os três filhos.
- Hmmm - repórter inexperiente pensando no que dizer - vocês três são irmãos, né? Perguntei ao menino e as duas meninas.
- Sim, o mais velho respondeu.
- E é legal ter assim ter três irmãos?
O menino mais uma vez toma à frente:
- É. Antes eram quatro, mas o meu irmão gêmeo... a gente foi atravessar a rua.. eu consegui atravessar, mas ele ficou parado lá e aí foi atropelado e morreu.
:-O
Santa imaginação!! Agradeci a breve entrevista e resolvi me retirar, ainda comovida com a história.
Volto em seguida. A mãe estava no clube com as crianças.
- Pronto, agora podem cair na piscina! Comanda.
O mais velho prontamente faz pose de mergulho e "chuáá!!". A segunda vira para a mãe com cara de interrogação e pergunta: "Mas onde que é a piscina?"
Pergunta super pertinente, eu achei. Explicam para ela que a piscina era todo o chão. Logo o mais velho, inventor de estórias, resolve ir para o sofá e grita "Vou nadar na piscina funda!!" Finge um mergulho e começa a ensaiar umas braçadas, ao que é logo imitado pela segunda.
Mas ele não aceita: "Não, você não pode nadar aqui, é muito fundo, vai se afogar!"
Que irmão consciente e preocupado!
A irmãzinha sai e logo volta sem se fazer de rogada:
"Pronto, já vesti minhas bóias!" E, satisfeita, dá seu mergulho na piscina funda!
...
A idéia é refletir, meditar, discutir, desabafar... histórias, sentimentos, experiências, vivências... o cotidiano dessa vida urbana louca de uma mulher - mãe, profissional, esposa, dona-de-casa - em busca de viver e de ser feliz.
domingo, novembro 23, 2008
quinta-feira, novembro 20, 2008
Mulher, trabalho e independência financeira
Muitas mulheres que são mães e trabalham fora vivem um dilema constante entre a dedicação às suas carreiras (quando têm uma carreira e não apenas um emprego!) e o cuidado com suas famílias. Carregam uma culpa existencial por não saber se estão sendo suficientemente boas mães, se sua ausência acarretará algum trauma psicológico à criança, se não seria melhor que ficassem em casa até as crianças terem determinada idade (drama que não sei se acompanha igualmente os pais).
O fato é que quanto mais os homens compartilharem as atividades domésticas e exercerem de fato a paternidade, menos as mulheres necessitarão sentir-se assim e poderão curtir plenamente cada papel de suas vidas. Também é fato que isso só é possível quando de alguma forma o Estado possibilita, de alguma forma, que as crianças sejam cuidadas em centros de educação infantil ou quando exista a instituição 'empregada doméstica'.
Entretanto, ainda que existam boas babás, considero a tarefa de cuidar de uma criança em tempo integral muito exigente, portanto me parece salutar a criança ficar um tempo em casa e outro na creche ou em alguma creche em que as cuidadoras não trabalhem dois turnos seguidos.
Isso tudo porque verdadeiramente acredito que as mulheres, solteiras ou casadas, tendo ou não tendo filhos, sempre devem trabalhar. Casamento definitivamente não é profissão e nem sempre o que parece eterno será. E quando termina, nem sempre termina bem e ainda que termine essa mulher, mais cedo ou mais tarde terá que cuidar de sua vida e, quanto mais tarde, pior.
Sou parte de uma família com muitas mulheres. Minha avó materna tinha 6 irmãs. Seu pai não chegou a ser exatamente um incentivador de que elas estudassem e se formassem. Morreu cedo e deixou uma esposa e sete filhas em situação difícil. Praticamente todas tiveram que ir à luta. A mais velha, que já era casada, nunca trabalhou fora. Viveu um divórcio após quarenta anos de casamento e hoje, aos 80 anos, sobrevive com uma pensão apertada. Outra foi impedida pelo marido de trabalhar. Ele era advogado e tudo parecia uma mar de rosas. Separaram-se após vários anos e a ela, aos 70 anos, só restou uma pensão de salário mínimo do INSS e tentar arranjar um emprego. Coisa nada fácil para uma pessoa dessa idade, ainda que competente, num mercado que privilegia o novo e o belo.
Minha mãe era dona de casa e estava o tempo todo por perto. Nem por isso creio que pudesse nos dar mais atenção. Quem conseguiria com quatro filhos e fazendo todo o serviço de casa?
Portanto, chega a me dar um arrepio na espinha quando ouço uma mulher jovem dizendo que não trabalha fora. A meu ver, todo adulto tem que ter sua independência financeira. Se, atualmente, há esforços para que deficientes físicos e mentais possam exercer uma profissão e serem responsáveis pelo seu próprio sustento, por que uma mulher saudável não deveria fazer o mesmo? Não apenas por satisfação pesoal, mas também para sua própria segurança e tranqüilidade futuras.
O fato é que quanto mais os homens compartilharem as atividades domésticas e exercerem de fato a paternidade, menos as mulheres necessitarão sentir-se assim e poderão curtir plenamente cada papel de suas vidas. Também é fato que isso só é possível quando de alguma forma o Estado possibilita, de alguma forma, que as crianças sejam cuidadas em centros de educação infantil ou quando exista a instituição 'empregada doméstica'.
Entretanto, ainda que existam boas babás, considero a tarefa de cuidar de uma criança em tempo integral muito exigente, portanto me parece salutar a criança ficar um tempo em casa e outro na creche ou em alguma creche em que as cuidadoras não trabalhem dois turnos seguidos.
Isso tudo porque verdadeiramente acredito que as mulheres, solteiras ou casadas, tendo ou não tendo filhos, sempre devem trabalhar. Casamento definitivamente não é profissão e nem sempre o que parece eterno será. E quando termina, nem sempre termina bem e ainda que termine essa mulher, mais cedo ou mais tarde terá que cuidar de sua vida e, quanto mais tarde, pior.
Sou parte de uma família com muitas mulheres. Minha avó materna tinha 6 irmãs. Seu pai não chegou a ser exatamente um incentivador de que elas estudassem e se formassem. Morreu cedo e deixou uma esposa e sete filhas em situação difícil. Praticamente todas tiveram que ir à luta. A mais velha, que já era casada, nunca trabalhou fora. Viveu um divórcio após quarenta anos de casamento e hoje, aos 80 anos, sobrevive com uma pensão apertada. Outra foi impedida pelo marido de trabalhar. Ele era advogado e tudo parecia uma mar de rosas. Separaram-se após vários anos e a ela, aos 70 anos, só restou uma pensão de salário mínimo do INSS e tentar arranjar um emprego. Coisa nada fácil para uma pessoa dessa idade, ainda que competente, num mercado que privilegia o novo e o belo.
Minha mãe era dona de casa e estava o tempo todo por perto. Nem por isso creio que pudesse nos dar mais atenção. Quem conseguiria com quatro filhos e fazendo todo o serviço de casa?
Portanto, chega a me dar um arrepio na espinha quando ouço uma mulher jovem dizendo que não trabalha fora. A meu ver, todo adulto tem que ter sua independência financeira. Se, atualmente, há esforços para que deficientes físicos e mentais possam exercer uma profissão e serem responsáveis pelo seu próprio sustento, por que uma mulher saudável não deveria fazer o mesmo? Não apenas por satisfação pesoal, mas também para sua própria segurança e tranqüilidade futuras.
segunda-feira, novembro 10, 2008
Voltando a falar da mamotomia
Há vários meses escrevi um post do qual mal me lembrava sobre uma mamotomia que realizei. De repente, num prazo de uma semana recebi três mensagens comentando o assunto. Levei até um susto. Como a questão é séria, e como escrevi num tom também de brincadeira, resolvi colocar minha resposta aqui, abrindo um outro post sobre o assunto.
Não sei se de repente fui tão dramática nas minhas colocações que pareceu que sou "contra" a mamotomia e não reconheço sua importância no diagnóstico precoce do câncer de mama. Quero deixar bem claro que não é isso.
O ponto de vista que defendo é o do direito à informação completa e de se poder fazer as próprias escolhas. É fundamental que num consultório médico se explique totalmente o que a pessoa vai (ou pode) experimentar. Não somente em relação a esse procedimento, mas com qualquer um.
Quando um médico vai indicar uma injeção intramuscular de benzetacil para alguém que está com amigdalite, é preciso que se explique que a injeção é dolorosa, deverá ser feita necessariamente no glúteo, existe um índice de X porcento de pessoas hipersensíveis e que a grande vantagem desta terapêutica é que, após administrada faz efeito em tantas horas. Daí a pessoa vai poder optar em tomar a dolorida, mas eficiente injeção ou preferirá tomar um antibiótico oral indolor e penar com a garganta por mais uma semana. O paciente é o sujeito do seu processo terapêutico, cabe a ele a palavra final em seu tratamento ou processo diagnóstico. O papel do médico ou dos outros profissionais de saúde é orientar, é fornecer informações para subsidiar escolhas conscientes. É, ainda, informar o que ele, como profissional técnica e eticamente responsável, pode e não pode fazer e, obviamente, registrar tudo bem certinho no prontuário.
Porque também não quero dizer que o profissional de saúde deverá fazer qualquer coisa que o que o paciente escolha. Se esse paciente da benzetacil diz que quer tomar a injeção no músculo deltóide ou que se nega a deitar na maca, o auxiliar de enfermagem pode se negar a efetuar o procedimento, porque isso vai contra a técnica e ele tem uma responsabilidade profissional a cumprir e a zelar. Assim como o médico pode desistir de acompanhar um paciente que se nega a seguir um tratamento que ele acredite ser essencial para sua plena recuperação e isso vá contra suas crenças ou valores.
Certamente há situações em que as escolhas são poucas. Muitas vezes se fará uma mamografia e o resultado será altamente indicativo para um câncer. A mamotomia irá auxiliar no diagnóstico, permitindo colher os fragmentos para o exame histopatológico que indicará o tipo de neoplasia e o estágio de desenvolvimento. E daí o médico informará as opções, solicitará outros exames e explicará as conseqüências do tratamento ou do não-tratamento, caso isso surja como possibilidade. E a pessoa, às vezes junto da família também, escolherá o que fazer.
Por isso, mulheres, não estou fazendo campanha contra a mamotomia. Esse exame, como disse em meu primeiro texto e como Vanessa e Sabris bem salientaram em suas mensagens, cumpre um importante papel diagnóstico numa doença que é cada vez mais prevalente e incidente e acomete cada vez mais mulheres jovens. Portanto, é preciso que estejamos bem informadas e atentas à saúde de nossos corpos (em todas as partes dele, não somente das mamas!!). Leiam, se informem, discutam.
Por outro lado, não me furto de querer chamar atenção ao fato de que, justamente por esse aumento de incidência, os médicos ficam cada vez mais inseguros e temem errar um diagnóstico (com razão, claro) e isso gera um onda de indicação de exames invasivos em situações em que poderia se optar por alternativas mais conservadoras. É um fenômeno parecido com o que ocorre nos EUA pós 11 de setembro, tanto medo que gera uma paranóia social e muitas decisões que escapam do bom senso.
Eu não tenho dados, mas gostaria de saber o percentual de exames dessa natureza em que se têm resultados normais. Essa informação nos ajudaria a saber se está havendo exagero, ou não. O meu caso era um desses - a mamografia indicava BI-RADS 3 (alta probabilidade de benignidade), poderia aguardar e repetir a mamografia em 6 meses. É completamente diferente de alguém que tem um resultado de mamografia com BI-RADS 4 ou 5 (achados suspeitos ou altamente suspeitos).
Portanto, cada caso é um caso e cada pessoa, junto do profissional ou equipe que a acompanha, deverá estar bastante consciente de seu estado para que possam juntos tomar as melhores decisões.
Abraços e obrigada pelas oportunas considerações.
Não sei se de repente fui tão dramática nas minhas colocações que pareceu que sou "contra" a mamotomia e não reconheço sua importância no diagnóstico precoce do câncer de mama. Quero deixar bem claro que não é isso.
O ponto de vista que defendo é o do direito à informação completa e de se poder fazer as próprias escolhas. É fundamental que num consultório médico se explique totalmente o que a pessoa vai (ou pode) experimentar. Não somente em relação a esse procedimento, mas com qualquer um.
Quando um médico vai indicar uma injeção intramuscular de benzetacil para alguém que está com amigdalite, é preciso que se explique que a injeção é dolorosa, deverá ser feita necessariamente no glúteo, existe um índice de X porcento de pessoas hipersensíveis e que a grande vantagem desta terapêutica é que, após administrada faz efeito em tantas horas. Daí a pessoa vai poder optar em tomar a dolorida, mas eficiente injeção ou preferirá tomar um antibiótico oral indolor e penar com a garganta por mais uma semana. O paciente é o sujeito do seu processo terapêutico, cabe a ele a palavra final em seu tratamento ou processo diagnóstico. O papel do médico ou dos outros profissionais de saúde é orientar, é fornecer informações para subsidiar escolhas conscientes. É, ainda, informar o que ele, como profissional técnica e eticamente responsável, pode e não pode fazer e, obviamente, registrar tudo bem certinho no prontuário.
Porque também não quero dizer que o profissional de saúde deverá fazer qualquer coisa que o que o paciente escolha. Se esse paciente da benzetacil diz que quer tomar a injeção no músculo deltóide ou que se nega a deitar na maca, o auxiliar de enfermagem pode se negar a efetuar o procedimento, porque isso vai contra a técnica e ele tem uma responsabilidade profissional a cumprir e a zelar. Assim como o médico pode desistir de acompanhar um paciente que se nega a seguir um tratamento que ele acredite ser essencial para sua plena recuperação e isso vá contra suas crenças ou valores.
Certamente há situações em que as escolhas são poucas. Muitas vezes se fará uma mamografia e o resultado será altamente indicativo para um câncer. A mamotomia irá auxiliar no diagnóstico, permitindo colher os fragmentos para o exame histopatológico que indicará o tipo de neoplasia e o estágio de desenvolvimento. E daí o médico informará as opções, solicitará outros exames e explicará as conseqüências do tratamento ou do não-tratamento, caso isso surja como possibilidade. E a pessoa, às vezes junto da família também, escolherá o que fazer.
Por isso, mulheres, não estou fazendo campanha contra a mamotomia. Esse exame, como disse em meu primeiro texto e como Vanessa e Sabris bem salientaram em suas mensagens, cumpre um importante papel diagnóstico numa doença que é cada vez mais prevalente e incidente e acomete cada vez mais mulheres jovens. Portanto, é preciso que estejamos bem informadas e atentas à saúde de nossos corpos (em todas as partes dele, não somente das mamas!!). Leiam, se informem, discutam.
Por outro lado, não me furto de querer chamar atenção ao fato de que, justamente por esse aumento de incidência, os médicos ficam cada vez mais inseguros e temem errar um diagnóstico (com razão, claro) e isso gera um onda de indicação de exames invasivos em situações em que poderia se optar por alternativas mais conservadoras. É um fenômeno parecido com o que ocorre nos EUA pós 11 de setembro, tanto medo que gera uma paranóia social e muitas decisões que escapam do bom senso.
Eu não tenho dados, mas gostaria de saber o percentual de exames dessa natureza em que se têm resultados normais. Essa informação nos ajudaria a saber se está havendo exagero, ou não. O meu caso era um desses - a mamografia indicava BI-RADS 3 (alta probabilidade de benignidade), poderia aguardar e repetir a mamografia em 6 meses. É completamente diferente de alguém que tem um resultado de mamografia com BI-RADS 4 ou 5 (achados suspeitos ou altamente suspeitos).
Portanto, cada caso é um caso e cada pessoa, junto do profissional ou equipe que a acompanha, deverá estar bastante consciente de seu estado para que possam juntos tomar as melhores decisões.
Abraços e obrigada pelas oportunas considerações.
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