sexta-feira, janeiro 09, 2009

Meus quinze anos

Olho para trás e já não me recordo quem fui
O que sonhava ou mais queria
Me lembro apenas da sensação de poder
Da certeza de tudo
Da ânsia desenfreada, urgência desatinada

Cada beijo poderia ser o último – como saber se no dia seguinte me veria ali novamente?
Aproveitar cada oportunidade era o lema!
E certamente seria o único – assim como cada instante, em toda sua singular magia e intensidade.

Os amores eternos, as festas imperdíveis,
As noites em claro, as conversas cochichadas, telefonemas intermináveis
As cartas, os bilhetes, os diários trancados
As juras de amor, os versos copiados
O primeiro beijo, a primeira transa, o primeiro gozo
Ou não?

Como é doce, tórrida, intensa, angustiante, fulgás a descoberta!

A nossa música, a paixão, o ciúme, a culpa.

Ah, a culpa!...
Quanto a ti, me hei dedicado. Somente tu resistes ao tempo!
Mudam-se as razões apenas.
É preciso muita sabedoria (e terapia!) para libertar-me de ti, amiga inseparável.
Mas isso é outra história! Não me afaste dos meus quinze anos!

Dos bailes, dos vestidos longos, dos saltos altos
Das conversas com o espelho
Das trocas de confidências
Inesquecíveis experiências
O batom vermelho,
os beijos no meio-fio, salada-mista, namoro na pilastra.

Os disse-me-disse, os trabalhos em grupo,
Os testes psicotécnicos, os cursos de datilografia
(oh, não me denuncie a idade!)

Viagem prá Disney, roupa de marca, banda de rock, festa de debutante, valsa com o pai.
Filme pornô, pega na estrada, noite mal dormida, raiva da mãe, briga com o pai.

Insegurança, medo, incompreensão
Injustiça, revolta, inadequação.
Coragem, covardia, ansiedade,
Gorda, magra, feia, vaidade.

Plebe Rude, Capital, Legião, Titãs
Paralamas, Engenheiros, Zero, Lulu
Política, ecologia, Capitalismo selvagem
Coleção de Barbies, papel de carta, figurinha do ‘Amar é...’
Novela das sete, sorveteria, matiné
Azaração, bijouteria, escolha das dez mais.

Briga em casa, irmão pequeno, chateação, baixo astral.
Academia, malhação, minisaia, fio dental.
Segundo grau, cursinho, vestibular
Prova de física, química e matemática
Medo do futuro, sonhos com o futuro, planos para o futuro.

Mal sabia que o futuro ali estava,
Que calmamente me esperaria.
Que se faltasse a uma festa, outras haveria
Que os amores não seriam únicos, nem eternos
Que não mudaríamos o mundo, nem nossos pais,
Que não seríamos como, nem contra eles,
Que não eram heróis, nem culpados.

Mas sabia que era preciso me desgarrar,
Tirar os olhos de mim e olhar para frente
Que eu seria o que acreditasse que poderia
Que poderia, mais do que tudo ou qualquer um,
Interferir no destino da minha própria vida.

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