Matérias e matérias são publicadas todos os dias ressaltando os benefícios da convivência de crianças com bichos de estimação. Quem poderia dizer o contrário? Eles são fofos, enchem a casa de alegria e permite que as crianças, além de desenvolverem seus afetos, aflorem seu senso ecológico, de responsabilidade e dever. Tudo muito lindo.
Mas como resolver essa questão na prática? Como incluir um animal com necessidades várias, manias, pêlos muitas vezes, na rotina de uma família de classe média, dependente de empregada doméstica para seu bem-estar físico e emocional, cujos provedores trabalham muito e fora de casa, cada membro tem uma rotina atribulada para vencer, moradora de uma cidade grande, em que o trânsito e a violência urbana é cada vez maior? Como???
A filhotinha é apaixonada por bichos. Desde sempre. Tanto faz e qualquer um. Todos. Dos insetos aos mamíferos. Nada escapa a seu amor e admiração incondicionais. A beleza não lhe importa, todos são igualmente lindos diante de seus olhos. Encanta-se com viralatas sujos e pulguentos como se fossem filhotes da Lessie.
Uma vez fomos a uma festa infantil cuja lembrancinha era um periquito numa gaiola. Quem aqui é a favor da inovação nas festas, levante o dedo e retire-se do recinto, por favor. Cadê os saquinhos de balas, chicletes, pirulitos, apitos e linguas-de-sogra insuportáveis? Eram maravilhosos!!! Por que atormentar os pais com a companhia imposta de um ser vivo?! Mas imagina se se pode negar abrigo a um pássaro engaiolado esperando para ser acolhido, nas mãos de uma criança pidona. Leva-se o periquito para casa.
Claro que os corações piedosos não agüentam vê-lo numa morada tão singela e logo ampliam seu habitat, para uma quase mansão, com pontos de lazer, um abrigo, novos recipientes para água e ração. Um espanto! A gaiola ocupava um terço do volume da área de serviço. Mas tudo pelo bem-estar geral da casa. Aos domingos, pai e filha fechavam todas as janelas, retiravam o bicho da gaiola e tentavam amestrá-lo em seus ombros. O bicho assustado voava pela casa, inclusive na direção da mãe apavorada e nada ecológica que corria gritando em direção ao primeiro cômodo onde pudesse se isolar em segurança.
Na mesma ocasião, criávamos um outro animal. Um beta. Aquele peixe que mora sozinho em pequenos aquários. O nosso vivia em um aquário de 5/6 litros, o que não era exatamente tão mini. De 15 em 15 dias, tínhamos que trocar metade da água do aquário, lavar as pedras e colocá-lo na água preparada (metade velha, metade nova com ph ideal de 7,2 e aplicação de produtos para retirar o cloro e outras frescuras). O pai era responsável pela retirada do peixe e lavagem das pedras, a mãe era do departamento de águas, a filha assistia e participava de tudo. Era ela também quem cuidava da alimentação diária e que colocava o peixe para malhar. Sim, por 30 minutos ao dia, ele deveria exercitar-se, o que era feito instalando-se um espelho à frente do aquário, para que o bichano pensasse que era outro peixe e nadasse ferozmente de um lado para o outro e fizesse poses de ataque para o inimigo ameaçador.
Quando viajávamos, tínhamos que levar os bichos para casa de amigos que cumpriam afetuosamente a mesma rotina que os animais tinham em casa. Quem já transportou um aquário sabe do que estou falando. É o momento em que se repara como são tortuosos os asfaltos de nossas ruas.
Hoje, nenhum dos dois estão mais conosco. O periquito, numa de suas saídas dominicais, na presença do padrinho e de um amigo, escapuliu por um basculhante esquecido aberto e aventurou-se por destinos desconhecidos. Até hoje ainda há choros e lágrimas por conta dessa lembrança trágica, ainda que a mãe tente convencer a pupila que o passarinho encontrou uma passarinha, tiveram lindos filhotinhos e viveram felizes para sempre em uma árvore frondosa e cheia de alimentos.
Quanto ao peixe, conta a versão oficial que, na época da reforma do apartamento, ele foi doado a um vizinho que adorava animais e cujo peixe tinha recentemente falecido. Dizem as más línguas que o peixinho, que andava doente ultimamente, teve destino diverso. Até hoje persiste essa controvérsia.
Enfim, passado quase um ano sem nenhum animal nessa casa, tendo em vista os sucessivos e intermináveis pedidos, a alergia a gatos e à impossibilidade de conciliar nossa vida a de um cachorro, decidimos criar um aquário.
Sim, criamos um aquário, os peixes são apenas uma ínfima parte, um quase detalhe, na árdua tarefa de criar aquários.
A filhotinha aceitou conformada a oferta do peixe. Cansados da ladainha de troca de água, decidimos que queríamos um aquário com filtro, para diminuir o trabalho. Ansiosas, fomos à loja especializada, doidas para escolher os peixes. Lá chegando fomos informadas que poderíamos levar o aquário. Apenas. O aquário, a areia e os enfeites. Os peixes, apenas uma semana depois, quando estivesse criada a biologia do local.
Levamos a caixa de vidro para casa, enchemos pacientemente seus 35 litros de água com uma jarra com capacidade de um litro e meio (fiz aproximadamente umas 20 viagens banheiro-quarto-banheiro), aplicamos as soluções apropriadas, fizemos as medições e ajustes de ph. Uma semana depois, voltamos para pegar os peixes. Pelas dimensões, poderíamos colocar uns 12. Oba!
Mas calma!, não agora. Vão levar o primeiro cardume (de 4 peixes) e dois peixes "limpa vidros". Depois da adaptação, em cerca de uma semana, podem voltar para pegar o segundo cardume, mais duas coridoras (que são peixes limpadores do fundo do aquário). Na terceira semana, se tudo estiver correndo bem (o que significa todos os peixes vivos), podem pegar o último e mais sensível cardume.
Bem, resumindo. Pegamos a primeira leva. Cultivamos. Quando estávamos prestes a voltar para pegar a segunda leva, algo aconteceu. Ainda não sabemos. Suspeitamos da amônia (outro teste para medição), mas a taxa não estava tão alta para causar morte. No dia da morte, houve também uma confusão e acabamos por alimentar duas vezes os peixes, será que foi isso? Não sabemos. O fato é que chegamos para dar a ração da noite e um 'limpa vidro' jazia no solo de areia. Fiquei meio agoniada, confesso. Eu é que não tiraria aquele peixe dali!
Chamamos o pai e fomos todos acompanhar a cerimônia de adeus ao peixe. A filhotinha assumiu toda a operação. Com a rede, retirou o cadáver do fundo d'água. Em procissão, seguimos todos ao banheiro principal. Decidimos que seria jogado no vaso, para a rede de esgoto. A filha derruba o falecido lá dentro e fecha a tampa. Pergunta o que fazer. O pai explica que terá que dá a descarga. Ela apoia a mão no botão, fecha os olhos e chora. Os pais se entreolham com o coração partido e sentindo todo o drama do momento. Duvidamos que ela conseguirá prosseguir com a operação. O pai pergunta se quer que execute a descarga. Ela respira fundo e diz que não. Abre os olhos, olha em direção à válvula, respira fundo novamente e pressiona o botão final. Em seguida nos abraçamos todos para acolher suas lágrimas e sua dor.
No dia seguinte, saímos para o trabalho. Quando voltamos para o almoço, ela já tinha saído para a aula e deixado o seguinte bilhete, escrito num pedaço de papel:
"Pai, o outro "limpa vidro" morreu. Não tirei ele do aquário pra você vê (sic) e tirar ele.
Beijos, Júlia.
BUÁÁ"
Criar bichos de estimação também nos dá oportunidade de ensinar as crianças a lidar com as dores e as perdas. Se é que é possível se ensinar ou se aprender isso.
A idéia é refletir, meditar, discutir, desabafar... histórias, sentimentos, experiências, vivências... o cotidiano dessa vida urbana louca de uma mulher - mãe, profissional, esposa, dona-de-casa - em busca de viver e de ser feliz.
sábado, abril 11, 2009
sexta-feira, abril 10, 2009
Advertência aos anônimos
Estou tendo um problema com os anônimos que visitam o meu blog. Eles não gostam das coisas que escrevo. Então pergunto: por que lêem??
Vou dar um conselho, ou melhor, vou dar uma sábia recomendação aqui. Como isso é raro, é melhor que prestem muita atenção: se você não sabe o que vai encontrar, não leia!!
Descobri que é para isso que existem as orelhas dos livros e as críticas literárias. Para as pessoas não se frustrarem. Em blogs não há isso, por isso é considerado quase um esporte radical. Seria uma espécie de leitura radical, arriscada e perigosa. E o pior, as pessoas não assumem, talvez nem percebam, o risco de praticá-lo. Esquecem que na internet há todo o tipo de loucuras, todo o tipo de gente. Arriscam-se procurando, lêem qualquer coisa e depois revoltam-se contra o autor.
A minha última visitante escreveu o seguinte sobre a fatídica história da mamotomia:
Olá... Boa tarde!!!
Quando fui requisitada para fazer o exame mamotomia, fiquei curiosa e até com medo, por não sabia o procedimento.
Depois da busca pelo Google achei o seu relato "pessoal" e posso dizer que fikei indiganada pois, ao inves de vc ajudar pessoas que procuram uma busca para um tipo de resultado suspeito como o meu caso, fikei ainda mais com medo de fazer o exame, me senti APAVORADA pelos seus relatos, mas posso dizer que pra tirar uma duvida eu preferiria fazer esse exame do que passar mais tarde por uma cirurgia, por causa de uma suspeita que fikei com medo de fazer a mamotomia pelos seus relatos.
infelizmente o seu comentário não está ajudando, pois pessoas que tem leves suspeitas ou até mesmo o cancer não irão fazer o exame pela enorme dor que vc relatou.
Seu cometário foi inconveniente
Muito obrigada
Achei tão interessante a crítica porque o título de minha mensagem era: relato pessoal. Em algum lugar iludi as pessoas anunciando: "ajudo pessoas que vão fazer mamotomia"??
Engraçado também é que não recebi nenhuma solidariedade pelo meu sofrimento. A revolta é toda destinada a mim, ao meu texto. Não à dureza da vida, ao fato de sermos mulheres, de termos mamas, à medicina, ao raio do aparelho ou aos métodos ancestrais!
O que me admira é como as pessoas, sobretudo as mulheres, sendo tão apavoradas e suscetíveis como se declaram aqui conseguem submeter-se a procedimentos tão dolorosos e muitas vezes desnecessários e mortais como as lipoaspirações e cirurgias estéticas. Se se pautassem por exemplos e histórias, ninguém mais faria uma lipo, porque o que não falta é notícia de gente morta depois disso. Então lipo não causa medo, mas biópsia para verificar se há câncer gera um PAVOR????? Ah, me poupem.
Agora sofro e não tenho direito de dizer, pois as pessoas se incomodam. Ora bolas!!
Aliás, repararam como hoje é proibido sofrer? Nas revistas, todo mundo quer aparecer feliz. Jovem e feliz. Se você não é jovem, nem feliz, não está na moda. Deveria pensar em mudar-se para Marte. Sentir dor é um pecado mortal. Contar então, imperdoável e irremediável. Faz as pessoas lembrarem que são gente e que a vida é dura.
Ontem estava no salão, lutando contra a natureza como diria meu avô, e vi na Caras o Liam Neeson, super-feliz, num estádio de futebol, com os dois filhos, 12 dias após a morte da esposa. Vi também a Suzana Vieira, na capa de outra edição e declarando-se super-feliz com o novo namorado, três meses após ter perdido o ex-marido e vivido uma história comparável a dramalhão mexicano. Ah, mas isso sim é um relato muito conveniente! Santa conveniência!
Bem, mas voltando ao assunto, para evitar esse tipo de coisas, inspirada nas campanhas do Ministério de Saúde adverte e nas críticas literárias, resolvi acrescentar um aviso no início da mensagem:
Caro visitante que chegou aqui por meio do amigo google,
Advertências:
1) Este não é um blog de ajuda.
2) Nesta postagem você não encontrará informações técnicas sobre o exame, nem talvez os detalhes que você queira saber.
3) Este é apenas o relato de minha história. Seu propósito não é esclarecer ninguém que pretende fazer o exame, é apenas o de compartilhar uma experiência.
4) Quem desejar informações sobre a mamotomia deve perguntar para seu médico assistente, para a clínica em que fará o exame ou procurar em sites especializados.
Atenciosamente,
Juliana.
p.s: Se continuar a leitura e se aborrecer, não adianta reclamar ao autor. Assuma o risco.
Será que assim conseguirei resolver o problema?
Vou dar um conselho, ou melhor, vou dar uma sábia recomendação aqui. Como isso é raro, é melhor que prestem muita atenção: se você não sabe o que vai encontrar, não leia!!
Descobri que é para isso que existem as orelhas dos livros e as críticas literárias. Para as pessoas não se frustrarem. Em blogs não há isso, por isso é considerado quase um esporte radical. Seria uma espécie de leitura radical, arriscada e perigosa. E o pior, as pessoas não assumem, talvez nem percebam, o risco de praticá-lo. Esquecem que na internet há todo o tipo de loucuras, todo o tipo de gente. Arriscam-se procurando, lêem qualquer coisa e depois revoltam-se contra o autor.
A minha última visitante escreveu o seguinte sobre a fatídica história da mamotomia:
Olá... Boa tarde!!!
Quando fui requisitada para fazer o exame mamotomia, fiquei curiosa e até com medo, por não sabia o procedimento.
Depois da busca pelo Google achei o seu relato "pessoal" e posso dizer que fikei indiganada pois, ao inves de vc ajudar pessoas que procuram uma busca para um tipo de resultado suspeito como o meu caso, fikei ainda mais com medo de fazer o exame, me senti APAVORADA pelos seus relatos, mas posso dizer que pra tirar uma duvida eu preferiria fazer esse exame do que passar mais tarde por uma cirurgia, por causa de uma suspeita que fikei com medo de fazer a mamotomia pelos seus relatos.
infelizmente o seu comentário não está ajudando, pois pessoas que tem leves suspeitas ou até mesmo o cancer não irão fazer o exame pela enorme dor que vc relatou.
Seu cometário foi inconveniente
Muito obrigada
Achei tão interessante a crítica porque o título de minha mensagem era: relato pessoal. Em algum lugar iludi as pessoas anunciando: "ajudo pessoas que vão fazer mamotomia"??
Engraçado também é que não recebi nenhuma solidariedade pelo meu sofrimento. A revolta é toda destinada a mim, ao meu texto. Não à dureza da vida, ao fato de sermos mulheres, de termos mamas, à medicina, ao raio do aparelho ou aos métodos ancestrais!
O que me admira é como as pessoas, sobretudo as mulheres, sendo tão apavoradas e suscetíveis como se declaram aqui conseguem submeter-se a procedimentos tão dolorosos e muitas vezes desnecessários e mortais como as lipoaspirações e cirurgias estéticas. Se se pautassem por exemplos e histórias, ninguém mais faria uma lipo, porque o que não falta é notícia de gente morta depois disso. Então lipo não causa medo, mas biópsia para verificar se há câncer gera um PAVOR????? Ah, me poupem.
Agora sofro e não tenho direito de dizer, pois as pessoas se incomodam. Ora bolas!!
Aliás, repararam como hoje é proibido sofrer? Nas revistas, todo mundo quer aparecer feliz. Jovem e feliz. Se você não é jovem, nem feliz, não está na moda. Deveria pensar em mudar-se para Marte. Sentir dor é um pecado mortal. Contar então, imperdoável e irremediável. Faz as pessoas lembrarem que são gente e que a vida é dura.
Ontem estava no salão, lutando contra a natureza como diria meu avô, e vi na Caras o Liam Neeson, super-feliz, num estádio de futebol, com os dois filhos, 12 dias após a morte da esposa. Vi também a Suzana Vieira, na capa de outra edição e declarando-se super-feliz com o novo namorado, três meses após ter perdido o ex-marido e vivido uma história comparável a dramalhão mexicano. Ah, mas isso sim é um relato muito conveniente! Santa conveniência!
Bem, mas voltando ao assunto, para evitar esse tipo de coisas, inspirada nas campanhas do Ministério de Saúde adverte e nas críticas literárias, resolvi acrescentar um aviso no início da mensagem:
Caro visitante que chegou aqui por meio do amigo google,
Advertências:
1) Este não é um blog de ajuda.
2) Nesta postagem você não encontrará informações técnicas sobre o exame, nem talvez os detalhes que você queira saber.
3) Este é apenas o relato de minha história. Seu propósito não é esclarecer ninguém que pretende fazer o exame, é apenas o de compartilhar uma experiência.
4) Quem desejar informações sobre a mamotomia deve perguntar para seu médico assistente, para a clínica em que fará o exame ou procurar em sites especializados.
Atenciosamente,
Juliana.
p.s: Se continuar a leitura e se aborrecer, não adianta reclamar ao autor. Assuma o risco.
Será que assim conseguirei resolver o problema?
Criança autoeducável
Às vezes ouço algumas pessoas espantadas com as nossas crianças, como se fossem precoces ou mais inteligentes que as de gerações passadas. Discordo totalmente disso. Não vejo um progresso da inteligência, embora haja, sim, uma diversidade em sua expressão e nos estímulos atuais.
Hoje as crianças tem habilidades digitais impensáveis há alguns anos. Por outro lado, quero ver uma criança de hoje fazer malabarismo com pipas ou carrinhos de rolimãs como nossos colegas faziam.
É certo que muita coisa mudou. As relações entre pais e filhos, as formas de se comunicarem e o comportamento de uns e de outros também estão diferentes.
Noite dessas estávamos em casa eu e minha filha de 8 anos. Marido estudante estava na aula. Era quase hora de ela deitar-se e não me lembro exatamente o que aconteceu que acabamos discutindo. Ela saiu da sala e eu fiquei lendo um livro. Daí a pouco meu celular apita e recebo a seguinte mensagem:
“Mãe fui grossa até demais com você, e por isso eu mesma me ponho de castigo. (Dormindo sozinha). Mas se quiser empedir (sic) isso, é só ir lá deitar comigo! Deeeeesculpa mesmo. Boa noite.”
Percebi que realmente algo mudou nas crianças de hoje. Antigamente elas fugiam ágeis e intrépidas das surras, corriam pela casa, pulavam muro de vizinho, só apareciam quando a raiva dos pais já havia passado. Castigo? Nem pensar. Contraproducente para os pais, inimaginável para as crianças.
Hoje, finalmente, as surras foram configuradas como violência doméstica e consideradas brutais e ineficazes. O diálogo e o castigo ‘para pensar’ apareceu como uma forma de levar a criança à reflexão sobre o comportamento inadequado.
Com tudo isso, acaba que hoje a consciência infantil é maior que a de muito adulto por aí. Hoje nós, pais, não precisamos nos preocupar muito. Nossa participação é meramente coadjavante. Hoje, as próprias crianças se estipulam limites. São capazes, inclusive, de estipular a penalidade de acordo com o crime cometido. A minha foi grossa ‘até demais’ e, por isso, iria dormir sozinha. Abriria mão da minha presença a seu lado, na cama (sempre gosta que eu vá acompanhá-la até cair no sono). Quem dera que nossos criminosos tivessem tamanho senso crítico!!
Também percebo que têm mais consciência do perdão. Bem verdade também que tiveram oportunidade para aprender e praticar. Hoje os pais perdoam bem mais que no passado. As crianças que fugiam da surra correndo em volta da mesa e pulando o muro do vizinho também insistiam no pedido de perdão, entre lágrimas e risos, mas não me lembro de concessões. Os pais de antigamente eram bem mais impiedosos.
As crianças de hoje não somente acreditam no perdão paternal, como se aproveitam do sentimento que ele evoca para convencer-nos de como livrá-los do martírio. Convenientemente auto-imputado, diga-se de passagem.
Talvez as crianças de hoje não sejam mais inteligentes. Talvez, porém, estejam mais espertas. Ou será que nós, pais, estamos mais bobos?
Hoje as crianças tem habilidades digitais impensáveis há alguns anos. Por outro lado, quero ver uma criança de hoje fazer malabarismo com pipas ou carrinhos de rolimãs como nossos colegas faziam.
É certo que muita coisa mudou. As relações entre pais e filhos, as formas de se comunicarem e o comportamento de uns e de outros também estão diferentes.
Noite dessas estávamos em casa eu e minha filha de 8 anos. Marido estudante estava na aula. Era quase hora de ela deitar-se e não me lembro exatamente o que aconteceu que acabamos discutindo. Ela saiu da sala e eu fiquei lendo um livro. Daí a pouco meu celular apita e recebo a seguinte mensagem:
“Mãe fui grossa até demais com você, e por isso eu mesma me ponho de castigo. (Dormindo sozinha). Mas se quiser empedir (sic) isso, é só ir lá deitar comigo! Deeeeesculpa mesmo. Boa noite.”
Percebi que realmente algo mudou nas crianças de hoje. Antigamente elas fugiam ágeis e intrépidas das surras, corriam pela casa, pulavam muro de vizinho, só apareciam quando a raiva dos pais já havia passado. Castigo? Nem pensar. Contraproducente para os pais, inimaginável para as crianças.
Hoje, finalmente, as surras foram configuradas como violência doméstica e consideradas brutais e ineficazes. O diálogo e o castigo ‘para pensar’ apareceu como uma forma de levar a criança à reflexão sobre o comportamento inadequado.
Com tudo isso, acaba que hoje a consciência infantil é maior que a de muito adulto por aí. Hoje nós, pais, não precisamos nos preocupar muito. Nossa participação é meramente coadjavante. Hoje, as próprias crianças se estipulam limites. São capazes, inclusive, de estipular a penalidade de acordo com o crime cometido. A minha foi grossa ‘até demais’ e, por isso, iria dormir sozinha. Abriria mão da minha presença a seu lado, na cama (sempre gosta que eu vá acompanhá-la até cair no sono). Quem dera que nossos criminosos tivessem tamanho senso crítico!!
Também percebo que têm mais consciência do perdão. Bem verdade também que tiveram oportunidade para aprender e praticar. Hoje os pais perdoam bem mais que no passado. As crianças que fugiam da surra correndo em volta da mesa e pulando o muro do vizinho também insistiam no pedido de perdão, entre lágrimas e risos, mas não me lembro de concessões. Os pais de antigamente eram bem mais impiedosos.
As crianças de hoje não somente acreditam no perdão paternal, como se aproveitam do sentimento que ele evoca para convencer-nos de como livrá-los do martírio. Convenientemente auto-imputado, diga-se de passagem.
Talvez as crianças de hoje não sejam mais inteligentes. Talvez, porém, estejam mais espertas. Ou será que nós, pais, estamos mais bobos?
A endometriose e eu
AVISO:
Caro visitante que chegou aqui por meio do amigo google,
Advertências:
1) Este não é um blog de ajuda.
2) Nesta postagem você não encontrará informações técnicas sobre a patologia, nem talvez os detalhes que você queira saber.
3) Este é apenas o relato de minha história. Seu propósito não é esclarecer ninguém, é apenas o de compartilhar uma experiência.
4) Quem desejar informações sobre endometriose deve perguntar para seu médico assistente ou procurar em sites, livros ou periódicos especializados.
Atenciosamente,
Juliana.
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Essa é uma longa história... Simplesmente a minha história...
Parte 1 – As cólicas
Não tenho recordações de menstruação sem cólica. Na adolescência, minha mãe não compreendia. Pelo menos por dois dias tinha que passar as tardes deitada de bruços ou em posição fetal. De manhã, buscopan para ir à aula. Na vida adulta, isso continuou. Era tudo muito ‘normal’ para mim.
Até que um dia, essa cólica passou dos limites. Estava exatamente subindo as escadas de um centro comercial aqui em Brasília, quando veio uma dor tão forte que pensei não me seguraria de pé. Busquei um apoio, fiz uns telefonemas desmarcando os próximos compromissos e me dirigi ao serviço de emergência onde trabalhava. Recebi diagnóstico de cólica menstrual, medicamentos analgésicos intravenosos e em hora e meia estava bem novamente.
No mês seguinte, o mesmo se repete. Desta vez estava no térreo de outro centro comercial. Era a primeira vez que ia a Nova York realizar um sonho. O de andar livre, só, leve e solta na cidade mais cosmopolita e fascinante do mundo. Tinha acabado de descer do ônibus panorâmico de turismo e estava no lobby do World Trade Center, prestes a subir e admirar aquela vista única na Terra, quando veio a dor. Estaciono numa pilastra, respiro fundo e vou telefonar para o namorado distante uma América de mim. Pálida e assustada, resolvo voltar para o hotel. Se soubesse o destino que aguardava aquelas torres e que jamais voltaria a estar ali novamente, teria fingido que aquilo tudo não era comigo e iria aproveitar minhas dores no topo do mundo.
Terceiro mês. Voltam-me as cólicas insuportáveis. Volto à emergência. Recebo meu diagnóstico de cólica menstrual, os mesmos analgésicos e já estou quase boa, quando um colega médico vai me visitar e tem a genial idéia de sugerir que eu faça uma ecografia. Lá estão os endometriomas nos meus ovários. Um deles era bem grandinho. Poucos dias depois estava fazendo a cirurgia para a remoção.
Parte 2 – O tratamento
Era setembro de 1998, eu tinha 26 anos e confesso que me achava jovem demais para ter uma doença e ir parar no hospital para ganhar minhas primeiras cicatrizes cirúrgicas. Mal sabia que haveria outras...
Uma amiga enfermeira me acompanhou durante todo o procedimento, o que foi bastante tranqüilizante. Nada mais solitário do que a sala de cirurgia. Foi uma laparoscopia e vários focos de endometriose foram encontrados – ovários, trompas, abdômen – e removidos. A recuperação foi ótima. Em uma semana estava de volta ao trabalho.
Mas o tratamento não estava finalizado, faltava a tal terapia hormonal que duraria 6 meses. Com injeções mensais de um medicamento carésimo, estava simulado um estado de menopausa. Livre das menstruações e do efeito do estrógeno, estaria também a salvo da endometriose.
Fui advertida dos sintomas que poderia experimentar, como ondas de calor e alterações na libido. É claro que a gente nunca acredita totalmente nisso, sempre acha que sairá impune, que fará parte da estatística ínfima de gente que não sente absolutamente nada. Felizmente, os sintomas foram só esses, mas a dimensão deles eu só entenderia na prática.
Sempre ouvia falar das tais ondas de calor e as piadas sobre elas. Mas juro que não imaginava o que significavam realmente. O corpo aquecia de repente e por inteiro como se baixasse em mim um espírito do fogo. O rosto ficava ruborizado, as bochechas ardiam. Isso podia acontecer em qualquer hora do dia ou da noite, em qualquer lugar. A vontade era de tirar a roupa e mergulhar na primeira bacia de água fria. De madrugada, chutava as cobertas de repente e não suportava nenhuma presença próxima.
Achei que viveria casta e abstêmia o resto de meus dias. Pensei em repensar minha vocação. Mas tudo passou, como mágica, com o efeito da medicação. E nem cheguei a me aproximar do convento.
Parte 3 – Os anos seguintes
Depois disso, passei a acreditar que era estéril. Isso não me preocupava, pois não pensava em ter filhos. Havia, pois, até certa conveniência nessa condição. Eu e meu namorado aproveitávamos para curtir nossos momentos de solteirice, viajávamos muito, passávamos bastante. Meses depois, ele virou meu marido. Muita coisa aconteceu em breve período. Arrumamos nossa casa, brigamos e fizemos as pazes muitas vezes, curtimos novas viagens e um tempo depois, voltando de carro das praias nordestinas, me descubro grávida.
Primeiramente, achei que o enjôo ululante era decorrente de um camarão na moranga que tinha comido em Olinda. Em Praia do Forte só engoli biscoito cream cracker sem manteiga e água gelada. Como não há indigestão que dure tanto, chegando em casa, já começamos a pensar em novas causas e em março de 2000 já estava oficialmente grávida.
Resumindo, tudo correu bem – gravidez, parto (cesáreo) e puerpério. Em detalhes, colhendo minúcias, a coisa toda era mais ‘hard’ do que eu pensava e decidi no primeiro mês que não teria mais filhos. E assim foi nos primeiros quatro anos e pouco.
Depois, achei que talvez fosse legal outro bebê. A essa época a filhotinha já começava a pedir um irmãozinho também. Então resolvemos deixar a coisa correr solta. Nem tentar, nem evitar. Seria o que Deus quisesse.
Em dezembro de 2005 engravidei novamente.
Parte 4 – As perdas
Era final de ano e estávamos felizes de comemorar as festas com o (a) mais novo (a) membro da família. Estávamos em Viçosa, terrinha do marido, quando comecei a sangrar. Estava tudo muito recente, era a 6ª semana de gravidez e sabia que se continuasse daquele jeito não daria para segurar. Na ecografia, não visualizamos o corpo lúteo. Nos dias seguintes, completou-se naturalmente o aborto. Fiquei aliviada de não precisar cauterização, nem nada.
Fiquei chateada com ocorrido, mas não quis dramatizar. Abortos naturais ocorrem com relativa freqüência. Por que não aconteceria comigo também?
Voltei para casa novamente sozinha em meu corpo e não me dediquei a pensar muito no assunto.
Setembro de 2006. Voltava do trabalho com uma amiga na carona. Um engarrafamento impedia o nosso retorno tranqüilo para casa. De repente uma dor que começara leve acentua-se a tal ponto que não posso mais dirigir. Essa amiga era o anjinho da guarda que dirigiria meu carro até o hospital. Ao chegar, tive que sentar no meio-fio e esperar a cadeira de rodas. A dor era lancinante, parecia que minha coxa ia separar-se do corpo e cair. Nessa hora, percebi como não há pudores na dor. Abri os botões da minha calça e não me importava com nada ou ninguém. Só queria ficar livre daquilo.
Conseguimos entrar no hospital e me colocaram numa cadeira. Minha amiga tentava desesperadamente que algum médico de bom coração viesse me ver. O hospital era particular, mas isso não é nenhuma garantia de que você receberá atendimento rápido nem de qualidade. A médica chegou, fez algumas perguntas que eu mal conseguia responder, auscultou meu coração, presumiu que era cólica renal e me encaminhou para uma ecografia renal. E eu só queria um remédio que aliviasse a minha dor.
Resumindo, para não ficar extenso nem dramático. Quatro horas depois, a dor já tinha sido controlada e eu recebera o diagnóstico de cisto hemorrágico (formado pelos óvulos ao se romperem, num processo fisiológico do organismo). Recebi alta, fui orientada a me observar e retornar ao hospital caso ocorresse qualquer coisa diferente. No dia seguinte, procurei minha ginecologista, que resolveu fazer um Beta-HcG, uma vez que gravidez tubária era uma das hipóteses diagnósticas cogitadas pelo ecografista (a imagem estava confusa). O período do ciclo menstrual não era exatamente sugestivo de ocorrência de gravidez, mas o nosso corpo não é matemático e o imbróglio era mesmo uma gravidez tubária, que havia rompido, sangrado e se reorganizado (esse é o nome que eles dão quando o próprio corpo dá um jeito e estanca a hemorragia). Por isso também a interrupção da dor.
Pouco depois lá estava eu fazendo nova laparoscopia. Desta vez saí sem a minha trompa esquerda, irrecuperável após o acontecido. A reorganização não era um sucesso total, afinal de contas. A cirurgia foi ótima e a minha recuperação também.
Dezembro de 2006. Três meses após, me descubro grávida novamente. Desta vez, tenho medo de comemorar e de me alegrar. Resolvo que só faria isso após a ecografia que realizaria na sétima semana, quando voltasse da viagem para Fortaleza com a filhotinha e uma amiga. Minha amiga estava com seu bebezinho de sete meses e a minha filha estava curtindo à beça aquela relação. Não queria pensar no assunto. Minhas duas experiências prévias me enchiam de incertezas e motivos para precauções. Entretanto, não pensar é pensar. Portanto, é claro que, se na superfície, me convencia que não pensava, no íntimo eram mil as esperanças e desejos.
Voltaríamos para casa na sexta-feira e no dia seguinte viajaria para Caldas Novas, para o aniversário de um ano de uma sobrinha. Passaríamos o restante do fim-de-semana lá e faria a ecografia na volta. Acontece que comecei a sentir-me estranha e pedi a meu marido que marcasse a ecografia para sábado de manhã, pois só viajaria com a certeza de que tudo estava bem.
Apesar de todas as precauções, qual não foi a minha surpresa quando o médico começou a revolver o aparelho por todo o útero e nada aparecia. Senti um frio no estômago e uma lágrima rolar discretamente do olho direito. Mais um pouco e lá apareceu... Coraçãozinho batendo e tudo! Alojado não no útero, mas em meu ovário esquerdo.
Com a ecografia na mão e o resultado do Beta-HcG que me mostrava gravidíssima, liguei para o meu cirurgião e contei a história, queria resolver logo o assunto. Mas ele queria esperar até segunda-feira, para que eu fizesse outra eco. Obviamente, ele estava ocupado e queria ganhar tempo. Eu não faria outra eco para ver a mesma coisa. Mas não tive outra opção se não esperar. Desisti da viagem, mandei a filhotinha por minha irmã, fui curtir uma fossa no colchão da minha cama e à noite resolvemos ir ao cinema, para espairecer. Escolhi o filme “Diamantes de Sangue”. Foi bom que diante do sofrimento da África, minha tristeza tornou-se ínfima, quase nula. Estava me sentindo satisfeita de ter podido assistir a toda aquela tragédia.
No final do filme, comecei a sentir a dor. Sabia que meu ovário tinha rompido e que estava fazendo uma hemorragia interna.
Quando chegamos ao hospital, minha barriga estava inchadíssima e eu não suportava que encostassem em meu abdômen. O médico residente que me atendeu queria fazer um toque vaginal. Estava louco? Eu já tinha o diagnóstico, só queria que chamassem o meu cirurgião. Era 21h30 e eu tinha jantado antes do filme. Ainda tive que fazer nova ecografia, Deus sabe às custas de quanto esforço. Estava desmaia-não-desmaia. Meu marido que me segurava e acudia, pois no hospital a assistência era também ínfima, quase nula. Tinha cólicas fortíssimas e diarréia. A cirurgia aconteceu às 3 da manhã.
Nelson Rodrigues achava que a hemorragia interna era a pior forma solidão. Continuo achando que é a espera na sala de cirurgia.
A operação correu bem. Perdi mais uma parte do meu ovário esquerdo.
Parte 5 – As indefinições
Queria saber porque cargas d’água tinha tido duas gravidezes ectópicas num período de quatro meses. Qual ou quais seriam as causas. Voltei à consulta com o cirurgião, um dos mais conhecidos e respeitados especialistas em reprodução humana daqui de Brasília, decidida a obter essa resposta. E o que ele me disse? Segura e enfaticamente: azar. Isso, somente isso. Ponto final.
E eu, que não jogo na mega sena, porque não acredito em sorte, haveria de acreditar em azar?
Em 2007 ainda voltei à minha médica, por conta de algumas dores indefinidas, umas pontadas esquisitas e cismada que tinha endometriose. Ela me pediu que fizesse uma ecografia transvaginal. Não deu nada. Fiz histerossalpingografia para saber se minha trompa direita, a sobrevivente, estava ok e o laudo foi que sim, estava ok. Apesar disso, ela acreditava que deveria haver algo de errado com essa trompa e que se eu quisesse tentar outra gravidez deveria procurar uma clínica especializada.
Só fui fazer isso um ano depois, no final de 2008. Pediram alguns exames e iniciaram um tratamento de indução e acompanhamento da ovulação, por ecografias regulares. De repente, me bateu um medão. E se não foi azar e realmente eu tenho alguma coisa que não foi descoberta e, de repente, engravido de novo e tenho outra experiência ruim?..
Resolvi não voltar mais à clínica.
Nesse meio tempo encontro uma amiga, um outro anjinho, que me conta uma experiência parecida, uma história de infertilidade, aborto e endometriose no passado. Estava se tratando em São Paulo e acabara de descobrir e se operar em decorrência de endometriose profunda, que lhe causara a perda de uma trompa e 11% do intestino.
Parte 6 – Endometriose profunda
Fui a São Paulo em busca de ajuda realmente especializada. Minha primeira consulta durou duas horas. Depois fiz uma ecografia transvaginal, com preparo intestinal prévio. Em vez de azar descobri, em dois dias, que tinha endometriose profunda na região retrocervical, em ligamento útero-sacro e retossigmoide, além de endometriose superficial no ovário esquerdo (aposto que também encontraremos na trompa restante) e que, provavelmente, essa era a causa do meu aborto e das duas gravidezes ectópicas. Também era a causa de uma série de outros sintomas que eu vinha ignorando e nem conectava a isso.
Voltei surpresa, chateada, mas embriagada de felicidade. Daquele tipo de felicidade que só o alívio e a certeza nos proporcionam, mesmo que no contexto das coisas ruins.
Em 10 dias farei minha quarta laparoscopia. Espero que seja a última.
Caro visitante que chegou aqui por meio do amigo google,
Advertências:
1) Este não é um blog de ajuda.
2) Nesta postagem você não encontrará informações técnicas sobre a patologia, nem talvez os detalhes que você queira saber.
3) Este é apenas o relato de minha história. Seu propósito não é esclarecer ninguém, é apenas o de compartilhar uma experiência.
4) Quem desejar informações sobre endometriose deve perguntar para seu médico assistente ou procurar em sites, livros ou periódicos especializados.
Atenciosamente,
Juliana.
_________________________________________________________________________________
Essa é uma longa história... Simplesmente a minha história...
Parte 1 – As cólicas
Não tenho recordações de menstruação sem cólica. Na adolescência, minha mãe não compreendia. Pelo menos por dois dias tinha que passar as tardes deitada de bruços ou em posição fetal. De manhã, buscopan para ir à aula. Na vida adulta, isso continuou. Era tudo muito ‘normal’ para mim.
Até que um dia, essa cólica passou dos limites. Estava exatamente subindo as escadas de um centro comercial aqui em Brasília, quando veio uma dor tão forte que pensei não me seguraria de pé. Busquei um apoio, fiz uns telefonemas desmarcando os próximos compromissos e me dirigi ao serviço de emergência onde trabalhava. Recebi diagnóstico de cólica menstrual, medicamentos analgésicos intravenosos e em hora e meia estava bem novamente.
No mês seguinte, o mesmo se repete. Desta vez estava no térreo de outro centro comercial. Era a primeira vez que ia a Nova York realizar um sonho. O de andar livre, só, leve e solta na cidade mais cosmopolita e fascinante do mundo. Tinha acabado de descer do ônibus panorâmico de turismo e estava no lobby do World Trade Center, prestes a subir e admirar aquela vista única na Terra, quando veio a dor. Estaciono numa pilastra, respiro fundo e vou telefonar para o namorado distante uma América de mim. Pálida e assustada, resolvo voltar para o hotel. Se soubesse o destino que aguardava aquelas torres e que jamais voltaria a estar ali novamente, teria fingido que aquilo tudo não era comigo e iria aproveitar minhas dores no topo do mundo.
Terceiro mês. Voltam-me as cólicas insuportáveis. Volto à emergência. Recebo meu diagnóstico de cólica menstrual, os mesmos analgésicos e já estou quase boa, quando um colega médico vai me visitar e tem a genial idéia de sugerir que eu faça uma ecografia. Lá estão os endometriomas nos meus ovários. Um deles era bem grandinho. Poucos dias depois estava fazendo a cirurgia para a remoção.
Parte 2 – O tratamento
Era setembro de 1998, eu tinha 26 anos e confesso que me achava jovem demais para ter uma doença e ir parar no hospital para ganhar minhas primeiras cicatrizes cirúrgicas. Mal sabia que haveria outras...
Uma amiga enfermeira me acompanhou durante todo o procedimento, o que foi bastante tranqüilizante. Nada mais solitário do que a sala de cirurgia. Foi uma laparoscopia e vários focos de endometriose foram encontrados – ovários, trompas, abdômen – e removidos. A recuperação foi ótima. Em uma semana estava de volta ao trabalho.
Mas o tratamento não estava finalizado, faltava a tal terapia hormonal que duraria 6 meses. Com injeções mensais de um medicamento carésimo, estava simulado um estado de menopausa. Livre das menstruações e do efeito do estrógeno, estaria também a salvo da endometriose.
Fui advertida dos sintomas que poderia experimentar, como ondas de calor e alterações na libido. É claro que a gente nunca acredita totalmente nisso, sempre acha que sairá impune, que fará parte da estatística ínfima de gente que não sente absolutamente nada. Felizmente, os sintomas foram só esses, mas a dimensão deles eu só entenderia na prática.
Sempre ouvia falar das tais ondas de calor e as piadas sobre elas. Mas juro que não imaginava o que significavam realmente. O corpo aquecia de repente e por inteiro como se baixasse em mim um espírito do fogo. O rosto ficava ruborizado, as bochechas ardiam. Isso podia acontecer em qualquer hora do dia ou da noite, em qualquer lugar. A vontade era de tirar a roupa e mergulhar na primeira bacia de água fria. De madrugada, chutava as cobertas de repente e não suportava nenhuma presença próxima.
Achei que viveria casta e abstêmia o resto de meus dias. Pensei em repensar minha vocação. Mas tudo passou, como mágica, com o efeito da medicação. E nem cheguei a me aproximar do convento.
Parte 3 – Os anos seguintes
Depois disso, passei a acreditar que era estéril. Isso não me preocupava, pois não pensava em ter filhos. Havia, pois, até certa conveniência nessa condição. Eu e meu namorado aproveitávamos para curtir nossos momentos de solteirice, viajávamos muito, passávamos bastante. Meses depois, ele virou meu marido. Muita coisa aconteceu em breve período. Arrumamos nossa casa, brigamos e fizemos as pazes muitas vezes, curtimos novas viagens e um tempo depois, voltando de carro das praias nordestinas, me descubro grávida.
Primeiramente, achei que o enjôo ululante era decorrente de um camarão na moranga que tinha comido em Olinda. Em Praia do Forte só engoli biscoito cream cracker sem manteiga e água gelada. Como não há indigestão que dure tanto, chegando em casa, já começamos a pensar em novas causas e em março de 2000 já estava oficialmente grávida.
Resumindo, tudo correu bem – gravidez, parto (cesáreo) e puerpério. Em detalhes, colhendo minúcias, a coisa toda era mais ‘hard’ do que eu pensava e decidi no primeiro mês que não teria mais filhos. E assim foi nos primeiros quatro anos e pouco.
Depois, achei que talvez fosse legal outro bebê. A essa época a filhotinha já começava a pedir um irmãozinho também. Então resolvemos deixar a coisa correr solta. Nem tentar, nem evitar. Seria o que Deus quisesse.
Em dezembro de 2005 engravidei novamente.
Parte 4 – As perdas
Era final de ano e estávamos felizes de comemorar as festas com o (a) mais novo (a) membro da família. Estávamos em Viçosa, terrinha do marido, quando comecei a sangrar. Estava tudo muito recente, era a 6ª semana de gravidez e sabia que se continuasse daquele jeito não daria para segurar. Na ecografia, não visualizamos o corpo lúteo. Nos dias seguintes, completou-se naturalmente o aborto. Fiquei aliviada de não precisar cauterização, nem nada.
Fiquei chateada com ocorrido, mas não quis dramatizar. Abortos naturais ocorrem com relativa freqüência. Por que não aconteceria comigo também?
Voltei para casa novamente sozinha em meu corpo e não me dediquei a pensar muito no assunto.
Setembro de 2006. Voltava do trabalho com uma amiga na carona. Um engarrafamento impedia o nosso retorno tranqüilo para casa. De repente uma dor que começara leve acentua-se a tal ponto que não posso mais dirigir. Essa amiga era o anjinho da guarda que dirigiria meu carro até o hospital. Ao chegar, tive que sentar no meio-fio e esperar a cadeira de rodas. A dor era lancinante, parecia que minha coxa ia separar-se do corpo e cair. Nessa hora, percebi como não há pudores na dor. Abri os botões da minha calça e não me importava com nada ou ninguém. Só queria ficar livre daquilo.
Conseguimos entrar no hospital e me colocaram numa cadeira. Minha amiga tentava desesperadamente que algum médico de bom coração viesse me ver. O hospital era particular, mas isso não é nenhuma garantia de que você receberá atendimento rápido nem de qualidade. A médica chegou, fez algumas perguntas que eu mal conseguia responder, auscultou meu coração, presumiu que era cólica renal e me encaminhou para uma ecografia renal. E eu só queria um remédio que aliviasse a minha dor.
Resumindo, para não ficar extenso nem dramático. Quatro horas depois, a dor já tinha sido controlada e eu recebera o diagnóstico de cisto hemorrágico (formado pelos óvulos ao se romperem, num processo fisiológico do organismo). Recebi alta, fui orientada a me observar e retornar ao hospital caso ocorresse qualquer coisa diferente. No dia seguinte, procurei minha ginecologista, que resolveu fazer um Beta-HcG, uma vez que gravidez tubária era uma das hipóteses diagnósticas cogitadas pelo ecografista (a imagem estava confusa). O período do ciclo menstrual não era exatamente sugestivo de ocorrência de gravidez, mas o nosso corpo não é matemático e o imbróglio era mesmo uma gravidez tubária, que havia rompido, sangrado e se reorganizado (esse é o nome que eles dão quando o próprio corpo dá um jeito e estanca a hemorragia). Por isso também a interrupção da dor.
Pouco depois lá estava eu fazendo nova laparoscopia. Desta vez saí sem a minha trompa esquerda, irrecuperável após o acontecido. A reorganização não era um sucesso total, afinal de contas. A cirurgia foi ótima e a minha recuperação também.
Dezembro de 2006. Três meses após, me descubro grávida novamente. Desta vez, tenho medo de comemorar e de me alegrar. Resolvo que só faria isso após a ecografia que realizaria na sétima semana, quando voltasse da viagem para Fortaleza com a filhotinha e uma amiga. Minha amiga estava com seu bebezinho de sete meses e a minha filha estava curtindo à beça aquela relação. Não queria pensar no assunto. Minhas duas experiências prévias me enchiam de incertezas e motivos para precauções. Entretanto, não pensar é pensar. Portanto, é claro que, se na superfície, me convencia que não pensava, no íntimo eram mil as esperanças e desejos.
Voltaríamos para casa na sexta-feira e no dia seguinte viajaria para Caldas Novas, para o aniversário de um ano de uma sobrinha. Passaríamos o restante do fim-de-semana lá e faria a ecografia na volta. Acontece que comecei a sentir-me estranha e pedi a meu marido que marcasse a ecografia para sábado de manhã, pois só viajaria com a certeza de que tudo estava bem.
Apesar de todas as precauções, qual não foi a minha surpresa quando o médico começou a revolver o aparelho por todo o útero e nada aparecia. Senti um frio no estômago e uma lágrima rolar discretamente do olho direito. Mais um pouco e lá apareceu... Coraçãozinho batendo e tudo! Alojado não no útero, mas em meu ovário esquerdo.
Com a ecografia na mão e o resultado do Beta-HcG que me mostrava gravidíssima, liguei para o meu cirurgião e contei a história, queria resolver logo o assunto. Mas ele queria esperar até segunda-feira, para que eu fizesse outra eco. Obviamente, ele estava ocupado e queria ganhar tempo. Eu não faria outra eco para ver a mesma coisa. Mas não tive outra opção se não esperar. Desisti da viagem, mandei a filhotinha por minha irmã, fui curtir uma fossa no colchão da minha cama e à noite resolvemos ir ao cinema, para espairecer. Escolhi o filme “Diamantes de Sangue”. Foi bom que diante do sofrimento da África, minha tristeza tornou-se ínfima, quase nula. Estava me sentindo satisfeita de ter podido assistir a toda aquela tragédia.
No final do filme, comecei a sentir a dor. Sabia que meu ovário tinha rompido e que estava fazendo uma hemorragia interna.
Quando chegamos ao hospital, minha barriga estava inchadíssima e eu não suportava que encostassem em meu abdômen. O médico residente que me atendeu queria fazer um toque vaginal. Estava louco? Eu já tinha o diagnóstico, só queria que chamassem o meu cirurgião. Era 21h30 e eu tinha jantado antes do filme. Ainda tive que fazer nova ecografia, Deus sabe às custas de quanto esforço. Estava desmaia-não-desmaia. Meu marido que me segurava e acudia, pois no hospital a assistência era também ínfima, quase nula. Tinha cólicas fortíssimas e diarréia. A cirurgia aconteceu às 3 da manhã.
Nelson Rodrigues achava que a hemorragia interna era a pior forma solidão. Continuo achando que é a espera na sala de cirurgia.
A operação correu bem. Perdi mais uma parte do meu ovário esquerdo.
Parte 5 – As indefinições
Queria saber porque cargas d’água tinha tido duas gravidezes ectópicas num período de quatro meses. Qual ou quais seriam as causas. Voltei à consulta com o cirurgião, um dos mais conhecidos e respeitados especialistas em reprodução humana daqui de Brasília, decidida a obter essa resposta. E o que ele me disse? Segura e enfaticamente: azar. Isso, somente isso. Ponto final.
E eu, que não jogo na mega sena, porque não acredito em sorte, haveria de acreditar em azar?
Em 2007 ainda voltei à minha médica, por conta de algumas dores indefinidas, umas pontadas esquisitas e cismada que tinha endometriose. Ela me pediu que fizesse uma ecografia transvaginal. Não deu nada. Fiz histerossalpingografia para saber se minha trompa direita, a sobrevivente, estava ok e o laudo foi que sim, estava ok. Apesar disso, ela acreditava que deveria haver algo de errado com essa trompa e que se eu quisesse tentar outra gravidez deveria procurar uma clínica especializada.
Só fui fazer isso um ano depois, no final de 2008. Pediram alguns exames e iniciaram um tratamento de indução e acompanhamento da ovulação, por ecografias regulares. De repente, me bateu um medão. E se não foi azar e realmente eu tenho alguma coisa que não foi descoberta e, de repente, engravido de novo e tenho outra experiência ruim?..
Resolvi não voltar mais à clínica.
Nesse meio tempo encontro uma amiga, um outro anjinho, que me conta uma experiência parecida, uma história de infertilidade, aborto e endometriose no passado. Estava se tratando em São Paulo e acabara de descobrir e se operar em decorrência de endometriose profunda, que lhe causara a perda de uma trompa e 11% do intestino.
Parte 6 – Endometriose profunda
Fui a São Paulo em busca de ajuda realmente especializada. Minha primeira consulta durou duas horas. Depois fiz uma ecografia transvaginal, com preparo intestinal prévio. Em vez de azar descobri, em dois dias, que tinha endometriose profunda na região retrocervical, em ligamento útero-sacro e retossigmoide, além de endometriose superficial no ovário esquerdo (aposto que também encontraremos na trompa restante) e que, provavelmente, essa era a causa do meu aborto e das duas gravidezes ectópicas. Também era a causa de uma série de outros sintomas que eu vinha ignorando e nem conectava a isso.
Voltei surpresa, chateada, mas embriagada de felicidade. Daquele tipo de felicidade que só o alívio e a certeza nos proporcionam, mesmo que no contexto das coisas ruins.
Em 10 dias farei minha quarta laparoscopia. Espero que seja a última.
quarta-feira, abril 01, 2009
Pin
Estávamos em uma reunião no trablho, discutindo os termos e recursos de uma campanha de endomarketing. Não demorou muito surgiu a proposta dos 'pins'. Para quem não sabe, pin é um broche metido a besta. Usado por homens e mulheres, geralmente executivos, para demonstrar a que organização pertencem, onde trabalham ou para que time torcem. Em vez de adorno seve de identificador. Talvez seja então melhor definido como um crachá metido a besta.
Já traziam várias amostras, numas caixas lindíssimas. Nossa, gostei das caixas! Não se anime, não terá caixa. Tive uma necessidade incontrolável de expressar minha posição radicalmente contrária. Mas por que? Não uso pins. Como assim? Não gosto.
Simplesmente não gosto. Já me basta o crachá que tenho que pendurar. Partilho da opinião de um colega que dizia 'não sou carro para precisar de placa'. Chega de placas. E de símbolos, de rótulos e de bandeiras. O pin é uma bandeira que cabe na lapela. E não gosto de levantar bandeiras, nem de carregá-las por aí. Curto um pouco de privacidade. Já somos tão óbvios, tão explícitos. Já é tão fácil nos observar, nos classificar, nos medir, nos julgar, nos encontrar... Para que mais?
Esses dias conversava sobre lutas marciais com dois colegas do trabalho (estávamos na escada, a caminho de nossas seções. Não pensem que interrompemos nossa labuta com assuntos tão impertinentes!) Mas o que ia dizendo? Ah, a discussão sobre as lutas marciais. O colega, no meio de sua argumentação, vira para o outro e diz, 'por exemplo, acha que uma mulher assim como ela, com seus 55kg, consegue evitar, com técnica de krav maga, um golpe de um cara de 90kg?...' Neste ponto já não escutava mais nada, só pensava em como ele poderia saber exatamente o meu peso. Um peso que, aliás, nem tem me agradado muito. E por que estava declarando isso em público?? Qual a necessidade? Quantas pessoas teriam ouvido? Que maldade!
Mas e se não for somente as que passaram por ali. Se pior, será que ando por aí o tempo inteiro com essa cara de 55kg? Putz!! Provavelmente, sim. Todo mundo já sacou os 55kg! São tão óbvios como o meu crachá. De repente estava eu, ali, entre dois colegas de trabalho, me sentindo desnudada e pousada sobre uma balança com letreiros gigantes, de neon. Me pareceu mais assustador do que aquele pesadelo em que de repente estava nua do meio de todos e corria para me esconder atrás de um pedra.
Ali não havia pedra nenhuma. Não tinha saída. Só o crachá. Ou melhor, o pin. Tudo é tão evidente! Raios de pin.
Já traziam várias amostras, numas caixas lindíssimas. Nossa, gostei das caixas! Não se anime, não terá caixa. Tive uma necessidade incontrolável de expressar minha posição radicalmente contrária. Mas por que? Não uso pins. Como assim? Não gosto.
Simplesmente não gosto. Já me basta o crachá que tenho que pendurar. Partilho da opinião de um colega que dizia 'não sou carro para precisar de placa'. Chega de placas. E de símbolos, de rótulos e de bandeiras. O pin é uma bandeira que cabe na lapela. E não gosto de levantar bandeiras, nem de carregá-las por aí. Curto um pouco de privacidade. Já somos tão óbvios, tão explícitos. Já é tão fácil nos observar, nos classificar, nos medir, nos julgar, nos encontrar... Para que mais?
Esses dias conversava sobre lutas marciais com dois colegas do trabalho (estávamos na escada, a caminho de nossas seções. Não pensem que interrompemos nossa labuta com assuntos tão impertinentes!) Mas o que ia dizendo? Ah, a discussão sobre as lutas marciais. O colega, no meio de sua argumentação, vira para o outro e diz, 'por exemplo, acha que uma mulher assim como ela, com seus 55kg, consegue evitar, com técnica de krav maga, um golpe de um cara de 90kg?...' Neste ponto já não escutava mais nada, só pensava em como ele poderia saber exatamente o meu peso. Um peso que, aliás, nem tem me agradado muito. E por que estava declarando isso em público?? Qual a necessidade? Quantas pessoas teriam ouvido? Que maldade!
Mas e se não for somente as que passaram por ali. Se pior, será que ando por aí o tempo inteiro com essa cara de 55kg? Putz!! Provavelmente, sim. Todo mundo já sacou os 55kg! São tão óbvios como o meu crachá. De repente estava eu, ali, entre dois colegas de trabalho, me sentindo desnudada e pousada sobre uma balança com letreiros gigantes, de neon. Me pareceu mais assustador do que aquele pesadelo em que de repente estava nua do meio de todos e corria para me esconder atrás de um pedra.
Ali não havia pedra nenhuma. Não tinha saída. Só o crachá. Ou melhor, o pin. Tudo é tão evidente! Raios de pin.
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