Fim-de-semana desses, fizemos uma pausa na rotina urbana, para dar um pulinho em Pirenópolis - Piri, para os íntimos - e respirar outros ares (bem mais puros), caminhar sobre paralelepípedos, apreciar culinária regional, comprar artesanias locais, desestressar, essas coisas... Também pretendia me dourar ao sol, caminhar por alguma trilha fácil (em nossa pousada havia uma!) e, à tarde, iríamos assistir às Cavalhadas, parte dos festejos do Divino Espírito Santo.
A festa, com duração de doze dias, tem seu ápice no domingo do Divino, comemorado cinquenta dias após a ressureição. É uma mescla de festejos religiosos e profanos e constituída de novenas, folias, procissão, missa, desfiles de mascarados, salvas de tiros (roqueiras), cavalhadas, pastorinhas e apresentação de grupos folclóricos.
Fazia tempos que queríamos fazer isso e finalmente deu certo. Quer dizer, deu certo a viagem, a programação não saiu exatamente como planejáramos.
A pousada que o maridão escolheu pela Internet (Cavaleiro dos Pirineus) é uma graça, muito aconchegante e integrada à natureza local. Para chegar a ela é preciso andar cerca de 2 km de terra por ladeiras tortuosas onde vacas pastam em suas beiradas. À noite, quando chegamos, parecia ainda mais assustadora! Detalhe: a estrada horrorosa é tombada pelo patrimônio histórico - que decisão estapafúrdia! Um cimento cairía muitíssimo bem por ali!
A idéia dele era ficarmos na melhor suíte - a do Imperador - para marcar bem nosso fim-de-semana especial (recuso-me a abrir mão do hífen até 2012). Infelizmente, não estava disponível, nem as de categoria imediatamente superior. Então pegamos, a "luxo" mesmo. Ok, luxo já pareceu bem legal. O ambiente era amplo e agradável, embora nada tinha de luxuoso (a começar pela cama de casal tamanho normal, que deixava os pés do maridalto de fora). Mas o pior de tudo era o futum da madeira do quarto. Não sei vinha dos móveis ou do telhado, o fato é que, ao abrir a porta, o 'odor' entranhava as narinas e tonteava o espírito. Felizmente, nosso corpo é altamente adaptável e inteligente, então com o passar do tempo, não sentíamos mais o cheiro, quer dizer, o mau cheiro! Contando após para uma amiga, ela confirmou o que o recepcionista nos havia dito - que as suítes master e imperador não tinham esse 'problema'! Deviam avisar isso no site: contra-indicada para narizes sensíveis!
A noite estava totalmente aberta, podíamos contemplar todo o horizonte de estrelas. Permitiu que a salva de fogos de artifício fosse ainda mais bela. Assistimos a artistas circenses na rua, jantamos num restaurantezinho acolhedor, compramos pratas locais e voltamos para casa, ansiosos para o dia seguinte.
Contra quaisquer expectativas e previsões, o domingo amanheceu incrivelmente nublado e chuvoso. Não sei de onde vieram aquelas nuvens e como conseguiram povoar tão densa e rapidamente todo o céu daquela maneira. Na véspera, não existia nem lembrança, algumas horas depois, dominavam todo o espaço. Vá entender.... Com isso, os planos de voltar com uma pele menos desbotada foram por água abaixo (literalmete), bem como a idéia da caminhada ecológica. A saída foi ficar no quarto fedorento até dar a hora do programa principal.
A Filhotinha estava extremamente desapontada, pois quando falamos em Cavalhadas, supôs equivocadamente que era ela quem iria cavalgar. Tentando contornar seu mau humor, chegamos ao centro da cidade(tendo sobrevivido após mais uma desventura pela estrada histórica) e pudemos admirar a magia de uma festa tipicamente popular. Cavaleiros mascarados com fantasias monstruosas, adultos e crianças com seus trajes prontos ou inventados desfilavam alegremente pelas ruas. Alguns aproveitavam para pedir dinheiro pelas janelas dos carros ou falar impropérios, protegidos pelo anonimato das máscaras, o que perturbava um pouco mas não chegava a estragar o encanto e a graça.
Nesse momento, o frio já se dissipara e as nuvens foram passear em algum rincão distante do céu. Um calor infernal começava a se instalar. Procurávamos o 'cavalhódromo'. Não sabia que era uma arena construída, com arquibancada, camarotes improvisados e duas torres simbolizando os cristãos e os mouros. Após muito pelejar, conseguimos um espaço nas arquibancadas, próximo à torre moura, representada pelos cavaleiros de capa vermelha. A filhotinha animadíssima tentava a todo custo proteger-se do calor goiano.
Para quem não é inteirado nesses assuntos, as cavalhadas são uma representação da batalha travada entre o imperador do Ocidente, Carlos Magno, e os mouros que invadiram a Península Ibérica, a fim de difundir a religião maometana entre os ibéricos cristãos. Uma grande encenação em que as vozes dos cavaleiros são (mal) narradas pelo sistema de som do 'estádio'.
No início da apresentação, eles liberam a arena para os mascarados e cavaleiros do povo, inclusive para os marmanjos que desfilam de fralda e chupetão pendurado no pescoço.
Na arquibancada, os mascarados passeiam entre os espectadores esprimidos e adoram deixar-se fotografar.
Iniciada a encenação, os cavaleiros de cada lado desfilam e, enquanto duram as negociações entre reis e embaixadores (e como duram!), os soldados aguardam enfileirados.
A bem da verdade, não aguentamos ficar até o final do espetáculo. Embora houvesse famílias inteiras ali, idosos e crianças pequenas, de colo, de fraldas, suadas, sob aquele sol de rachar, tenho que confessar que estou cada vez menos afeita a programações em que o nível de conforto das instalações estejam abaixo de 4, especialmente se o sol das 14h30 estiver tinindo sobre as cabeças da multidão...
Para se ter melhor idéia, abaixo vão algumas imagens dos arredores...
Vista dos camarotes - de dentro do 'cavalhódromo', enquanto um dos artistas se hidratava sob o olhar atento da criançada que, animada, atirava serpentinas para aflição do cavaleiro. Reparem os cartazes - propaganda de tudo, inclusive política..
Entrada do cavalhódromo. Vendia-se de tudo um pouco por ali. O churrasquinho na esquina esquerda inferior era apenas um dos itens. Havia algodão doce colorido, balão com hélio, picolé água-suja e, felizmente, água e coca-cola!
Saída do cavalhódromo. Ainda bem que ninguém caiu no desnível do solo, nem escorregou na areia vermelha molhada! Graças à proteção do Espírito Santo porque a infra-estrutura estava longe de oferecer segurança!
Piri, lá vamos nós e esperamos voltar em breve, quando a cidade estiver bem mais tranquila...
Um comentário:
Oi Ju! Quanta coisa no blog!!! Fiquei tanto tempo assim sem aparecer?
Apesar de eu não gostar de mascarados (na verdade eu tenho medo!),adoro festas assim, que misturam profano e religioso! Nunca fui a uma Cavalhada, achei muito interessante!
Sobre Piri já ouvi falar muito de construções ecológicas e sustentáveis...
Beijocas,
Flavinha.
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