É preta, gorda e linda como acho Tia Anastácia foi. Linda daquela beleza transcendental, metafísica. Se é estética, nao sei. Sei que lhe falta um dente incisivo, mas seu olhar é tão profundo e reluzente que ofusca minha visão. Quando a encontro, corro para o seu abraço, quero seu colo e assim renovo minhas energias, vejo mais sentido nas coisas, sinto como somos capazes de interferir positivamente na vida uns dos outros.
Talvez seja um ato de puro egoísmo. Mas é fato que após esse abraço, torno-me absurdamente mais feliz do que era antes.
É analfabeta, mas sua sabedoria é ancestral, visceral, milenar. Teve três filhos, sendo um casal de gêmeos. A menina ficou surda com um ano de idade após contrair meningite. Cuidou desses três anjos sozinha. Com toda a força que Deus lhe deu.
Não lhe sobra dinheiro, mas seu coração e sua alma são infinitamente ricos de amor e dignidade. Tem 47 anos, mas aparenta 65. Como seria de se esperar de uma brasileira negra, sofrida, obesa e pobre, é hipertensa, tem Chagas e varizes. Mas não sofre de preguiça nem de tristeza. Todos os dias tem um sorriso para oferecer junto à xícara de café.
Um dia lhe roubaram um guarda-chuva na parada de ônibus. Fiquei indignada com o acontecido. Não lhe basta todo o resto ainda tem que voltar para casa na chuva! E ela me disse: 'provavelmente era alguém que precisava mais do que eu...'
Meu profundo reconhecimento, minha maior admiração, todo o meu carinho, afeto e paixão por essa mulher maravilhosa, por essa criatura verdadeiramente humana, minha rainha africana, essa mãe emprestada...
2 comentários:
Não conhecia seu blog e descobri o link no de uma amiga! Adorei seus posts! Estarei sempre por aqui!
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