Hoje fui ao enterro do pai de um amigo meu. Engraçado que por mais que a morte faça parte da vida, por mais que seja a nossa única certeza, por mais que esperemos por ela desde que nos entendemos por gente, ela é quase sempre uma surpresa, quase sempre desagradável, quase sempre doída... quase sempre não sabemos lidar muito bem com ela.
Acho que não é pelo nosso materialismo ou pela falta de fé numa outra vida nem por uma suposta aspiração à eternidade. Acho que o difícil mesmo é deixar de ter aquela pessoa amada por perto. Não ouvir mais sua voz, seus conselhos e pontos de vista, não mais compartilhar seus risos, suas idiossincrasias, suas neuroses. Se essa pessoa é o seu companheiro ou companheira, a dor de não ter aquele ou aquela com quem você se acostumou a dividir a vida, a casa, a cama, os sonhos, os planos... Se essa pessoa é um filho, aí a coisa parece ainda mais complicada. Aquele ou aquela que é parte de você, que embalou nos braços, acarinhou no colo, acompanhou cuidadosamente dia-após-dia seu crescimento (à sua revelia!). Deixar de ouvir aquela risada, ver aquele olhar, sentir aquele abraço parece-me também que é sentir-se morrer junto, de certo modo. Não consigo pensar em maior tristeza. Sinto por todos que já passaram por isso...
Num enterro também não deixamos de pensar na nossa própria morte, na nossa própria finitude e muitas caraminholas vêm à cabeça... Quem será que vem ao meu enterro? Será que morrerei de morte sofrida ou morte tranqüila? Será que pressentirei meu momento antes de ele chegar? Será que terei tempo de deixar as coisas arrumadas? Que roupa gostaria de vestir? Que objetos gostaria que fossem comigo? Será que é melhor ser enterrada ou cremada?...
Ainda vêm outras questões....externas, por assim dizer... eu e uma amiga, por exemplo, tivemos o mesmo pensamento – será que até chegar o meu dia haverá espaço neste cemitério ou terei que ser enterrada fora de Brasília?
Eu ainda me peguei pensando noutras coisas, observando o moço que descia o caixão e jogava a terra. Será que algum dia ele pensou que seria coveiro? Como ele se sentiria quando criancinha se alguém dissesse que ele passaria seus dias enterrando corpos, rodeado por pessoas chorosas? Será que é melhor ser lixeiro ou coveiro? Se algum dia toda a população tiver acesso à educação de qualidade, como será feito ou quem fará esse tipo de serviço que – imagino – não seja o sonho de ninguém fazer?...
Por que penso isso num enterro? Talvez porque não queira ficar pensando na morte!...
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