Esse fim-de-semana fiz um curso em que foi apresentada essa fábula para reflexão e discussão. Achei bem legal e compartilho aqui.
"Contam que na carpintaria houve uma vez uma estranha assembléia. Foi uma reunião das ferramentas para acertar suas diferenças.
O martelo exerceu a presidência, mas os participantes lhe notificaram que teria que renunciar. A causa? Fazia demasiado barulho e, além do mais, passava todo tempo golpeando. O martelo aceitou sua culpa, mas pediu que também fosse expulso o parafuso, dizendo que ele dava muitas voltas para conseguir algo. Diante do ataque, o parafuso concordou, mas por sua vez, pediu a expulsão da lixa. Dizia que ela era muito áspera no tratamento com os demais, entrando sempre em atritos. A lixa acatou, com a condição de que se expulsasse o metro, que sempre media os outros segundo a sua medida, como se fora o único perfeito.
Nesse momento, entrou o carpinteiro, juntou o material e iniciou o seu trabalho. Utilizou o martelo, a lixa, o metro e o parafuso. Finalmente, a rústica madeira se converteu num fino móvel. Quando a carpintaria ficou novamente só, a assembléia reativou sua discussão. Foi então que o serrote tomou a palavra e disse:
- Senhores, ficou demonstrado que temos defeitos, mas o carpinteiro trabalha com nossas qualidades, com nossos pontos valiosos. Assim, não pensemos em nossos pontos fracos, e concentremo-nos em nossos pontos fortes.
A assembléia entendeu que o martelo era forte, o parafuso unia e dava força, a lixa era especial para limar e afinar asperezas, e o metro era preciso e exato.
Sentiram-se então como uma equipe capaz de produzir móveis de qualidade. Sentiram alegria pela oportunidade de trabalhar juntos."
Será que não ficamos tanto tempo preocupados, irritados, prestando atenção nos pontos negativos nossos e dos outros e deixamos de enxergar tudo o que há de entrega positiva? E que se mudássemos o foco poderíamos ter organizações, trabalhadores, famílias muito mais felizes e produtivos?
A idéia é refletir, meditar, discutir, desabafar... histórias, sentimentos, experiências, vivências... o cotidiano dessa vida urbana louca de uma mulher - mãe, profissional, esposa, dona-de-casa - em busca de viver e de ser feliz.
domingo, fevereiro 24, 2008
terça-feira, fevereiro 19, 2008
No horário de almoço
Hoje consegui sair do trabalho meio-dia e cinco para o intervalo do almoço. Fiquei bem orgulhosa de mim mesma. Como estou organizada!
Teria só que dar uma passada no shopping Pier 21 porque recebera uma ligação do meu banco informando que havia esquecido o cartão lá numa loja onde tomara um café.
Ô cafezinho caro!
Logo hoje que eu tinha colocado um salto alto de bico fino! (estou evitando esse tipo de calçado porque tem me dado dor nas costas e enxaqueca - eta PVC). Lá vou eu elegante e dolorida à loja. Ando, ando, ando, chego, me identifico. Agradeço à moça, converso com um amigo que passava por ali, resolvo tomar um café gelado, comprar uns brigadeiros para levar (cadê minha determinação quando falei que evitaria doces e teria uma alimentação regrada e saudável???). A moça sumiu de repente. Volta e diz que a chefe dela fizera o favor de levar o cartão para a Administração e que agora ele deveria estar nos Achados e Perdidos. Por que as coisas não podem ser simples, né?
Pago a conta, reparo bem se estou guardando o outro cartão na carteira, pego informações sobre onde é o local que devo ir - vai à direita, pega o elevador, anda, anda, anda até o fim da garagem, a sala é no final, perto da saída. Realmente, quase caíra do prédio. A garagem estava deserta e parecia que eu seria atacada a qualquer momento por uma criatura sinistra como naqueles filmes de terror.
Tento abrir a porta, está trancada. Em uma mão seguro o copo de café, na outra o pacote de brigadeiros (eram 3 porque seguro morreu de velho), ao tentar bater na porta, o óculos que estava na cabeça cai. Enquanto eu estava na famosa posição de Napoleão com minha calça-verde-berilo-oi-cheguei tentando pegar o óculos e administrar o café e o pacote de doces, um jovem bombeiro musculoso e charmoso (quer dizer nem era tanto, só um pouco) decide abrir a porta com sua camisa de brigadista de malha amarela colada ao corpo e me olha com uma cara meio de espanto, de "que isso?". Levanto descabelada e desengonçada, explico o que procuro, ele vasculha o cofre, me dá um formulário para preencher e assinar, me despeço, ando, ando, ando, chego no carro, ligo para o marido avisando que estou saindo. Ele me conta que sua caneta preferida que ele havia me emprestado na véspera para riscar a lista de compras no supermercado e eu havia deixado em algum lugar fora encontrada pela Caixa que passou nossas compras. Fico feliz (aliviada seria mais correto dizer). Ele me confessa que chegou a pensar que eu poderia fazer algo assim quando foi me emprestar a dita cuja, mas logo ponderou pensando que obviamente eu teria cuidado com uma coisa que ele gostava tanto. Fico calada. Reflito por um instante nas razões que a pessoa teria para supor uma coisa dessas sobre alguém que perdeu o cartão do banco e só ficou sabendo quando foi avisada pelo próprio banco um dia depois e está com a carteira de motorista desaparecida há meses. Cada um com sua lógica! Vá entender... Dirijo até em casa e chego às 13h. Terei 40 minutos para me recompor, almoçar e sair para a batalha.
Oh vida!
Teria só que dar uma passada no shopping Pier 21 porque recebera uma ligação do meu banco informando que havia esquecido o cartão lá numa loja onde tomara um café.
Ô cafezinho caro!
Logo hoje que eu tinha colocado um salto alto de bico fino! (estou evitando esse tipo de calçado porque tem me dado dor nas costas e enxaqueca - eta PVC). Lá vou eu elegante e dolorida à loja. Ando, ando, ando, chego, me identifico. Agradeço à moça, converso com um amigo que passava por ali, resolvo tomar um café gelado, comprar uns brigadeiros para levar (cadê minha determinação quando falei que evitaria doces e teria uma alimentação regrada e saudável???). A moça sumiu de repente. Volta e diz que a chefe dela fizera o favor de levar o cartão para a Administração e que agora ele deveria estar nos Achados e Perdidos. Por que as coisas não podem ser simples, né?
Pago a conta, reparo bem se estou guardando o outro cartão na carteira, pego informações sobre onde é o local que devo ir - vai à direita, pega o elevador, anda, anda, anda até o fim da garagem, a sala é no final, perto da saída. Realmente, quase caíra do prédio. A garagem estava deserta e parecia que eu seria atacada a qualquer momento por uma criatura sinistra como naqueles filmes de terror.
Tento abrir a porta, está trancada. Em uma mão seguro o copo de café, na outra o pacote de brigadeiros (eram 3 porque seguro morreu de velho), ao tentar bater na porta, o óculos que estava na cabeça cai. Enquanto eu estava na famosa posição de Napoleão com minha calça-verde-berilo-oi-cheguei tentando pegar o óculos e administrar o café e o pacote de doces, um jovem bombeiro musculoso e charmoso (quer dizer nem era tanto, só um pouco) decide abrir a porta com sua camisa de brigadista de malha amarela colada ao corpo e me olha com uma cara meio de espanto, de "que isso?". Levanto descabelada e desengonçada, explico o que procuro, ele vasculha o cofre, me dá um formulário para preencher e assinar, me despeço, ando, ando, ando, chego no carro, ligo para o marido avisando que estou saindo. Ele me conta que sua caneta preferida que ele havia me emprestado na véspera para riscar a lista de compras no supermercado e eu havia deixado em algum lugar fora encontrada pela Caixa que passou nossas compras. Fico feliz (aliviada seria mais correto dizer). Ele me confessa que chegou a pensar que eu poderia fazer algo assim quando foi me emprestar a dita cuja, mas logo ponderou pensando que obviamente eu teria cuidado com uma coisa que ele gostava tanto. Fico calada. Reflito por um instante nas razões que a pessoa teria para supor uma coisa dessas sobre alguém que perdeu o cartão do banco e só ficou sabendo quando foi avisada pelo próprio banco um dia depois e está com a carteira de motorista desaparecida há meses. Cada um com sua lógica! Vá entender... Dirijo até em casa e chego às 13h. Terei 40 minutos para me recompor, almoçar e sair para a batalha.
Oh vida!
segunda-feira, fevereiro 18, 2008
Falando de cinema
Como neste blog, criado por euzinha (que não entendo chongas de informática, em 3 minutos), não existe uma linha editorial, censura, como não possuo nenhum editor-chefe, nenhum supervisor, nem nada semelhante, posso me dar ao luxo (como todas as outras milhões de pessoas conectadas à internet) de falar sobre o que eu quiser, mesmo sobre as que eu não entendo. Aos outros é que cabe o ônus da escolha - ler ou não ler - e arcar com suas conseqüências.
Hoje falarei sobre cinema, mais especificamente sobre os dois últimos filmes que vi:
- Meu nome não é Johnny - mais um bom filme nacional, que fala sobre drogas, gandaias, Rio de Janeiro, galera esperta, polícia, traficante, justiça, juventude e corrupção (não necessariamente nessa ordem). Desta vez é um traficante 'bonzinho', que não usa armas, é simpático, inteligente, carismático, filho da burguesia carioca e poderia ser amigo meu ou de algum amigo meu. A atuação de Selton Mello é brilhante como sempre. No final, eles chamam a atenção para o fato de haver esperança na recuperação de pessoas. Não sou tão otimista. Não acho que João Estrela era tão perdido assim. Ele era simplesmente um garoto mimado que queria farrear e o tráfico proporcionou isso por um tempo. Ele era tão sem limite e sem noção que não parecia enxergar o perigo em que estava metido. Ele era muito diferente de um Fernandinho Beira-Mar ou outros malandros que usam da crueldade para controlar e manter o crime organizado. Esses, só um sistema sócio-educativo, com apoio médico e psicológico sério e muito eficiente seria capaz de dar jeito (e tenho minhas dúvidas se em todos os casos).
Mas tenho que confessar que o que mais me causou espanto no cinema não foi o filme em si, mas o fato de haver uma criança de cerca de 5 anos!, na fileira atrás de mim. Ela estava com mais umas quatro senhoras, duas dela muito velhinhas, duas mais novas, nenhuma jovenzinha, de tal forma que não consegui identificar parentesco, nem a razão de terem levado uma menininha para presenciar o filme, que tinha milhões de cenas de gente cheirando cocaína, fumando maconha, falando palavrão (em português), brigando na cadeia, matando a pauladas companheiros de prisão, transando (nada explícito, tudo bem, mas preliminares bem fogosas)....
Eram quatro da tarde, por que ela não estava vendo Bee, a abelhinha ou Alvin, o esquilo? Para que expor esse tipo de cena a uma criança tão novinha?
Para meu alívio, ela acabou dormindo em boa parte do filme (quando eu consegui relaxar) e assistiu "somente" ao começo e ao fim - quando mostra, por exemplo, a rotina de um manicômio prisional (asseguro que não era coisa bonita de se ver).
Nessas horas é que me pergunto até que ponto se pode confiar totalmente no bom senso dos pais ou 'responsáveis'?
- Sangue Negro - 8 indicações para o Óscar, 158 minutos de duração, uma atuação fantástica de Daniel Day-Lewis (não vi os outros indicados, mas certamente ele merece a estatueta). Antes de ir, li algumas recomendações e críticas ao filme:
- O Correio Braziliense dava 5 estrelas e dizia algo como que o expectador passaria dias se lembrando das passagens épicas do filme. Confesso que passado um dia me lembro de bem poucas.
Estadão online: Com um tema tão atual quanto impactante - a descoberta de jazidas de petróleo -, o longa de Paul Thomas Anderson (Magnólia; Boogie Nights) perturba, angustia, faz refletir, mas também traz uma sensação reconfortante ao se mostrar um filme ao mesmo tempo blockbuster e autoral, algo não muito comum e que, por isso, vale cada centavo do ingresso. (não entendo muito bem a linguagem dos críticos, não sei o que quer dizer um filme blockbuster e autoral)
Esse aqui me ajudou mais na minha ignorância: Yahoo - cinema (Celso Sabadin) Quanto mais se mergulha no filme, mais se percebe a importância daqueles primeiros 15 minutos silenciosos. É ali que Anderson forja tanto o caráter de seu protagonista como a formatação deste seu novo trabalho. Ambos são densos, não fazem concessões, se apresentam áridos, crus e cruéis. A fotografia de Robert Elswit (de Syriana – A Indústria do Petróleo e Boa Noite e Boa Sorte) filtra quentes tons de laranja e parece encher de areia os olhos do espectador. Longos planos abertos destacam a secura dos desertos cavoucados por Daniel que - talvez não por acaso - leva o sobrenome Plainview (algo como "visão ampla, plena").
No final das contas, o filme é muito bom esteticamente falando, é complexo, é denso, mas para ser bem sincera, não é o tipo do filme que a gente vai domingo à noite para se divertir. Fiquei o tempo todo esperando que alguma coisa fosse acontecer, aí de repente, depois de duas horas e meia, ele acabou. Como sou ignorante no assunto, posso dizer que gosto de filme onde acontecem coisas, que silêncio demais, paisagem demais, me entendiam, que acho chato quando o personagem principal não é 'do bem' (odiei O Talentoso Ripley ou Anjo Malvado), que não gosto também de filme que tem criança sendo mal tratada ou abandonada (Cidade de Deus tem, mas lá pelo menos também tem humor, ação e coisa boa acontecendo, esse é só tristeza, frieza e angústia!). Confesso que fiquei bem feliz quando Tropa de Elite o superou no festival de Berlin!
Hoje falarei sobre cinema, mais especificamente sobre os dois últimos filmes que vi:
- Meu nome não é Johnny - mais um bom filme nacional, que fala sobre drogas, gandaias, Rio de Janeiro, galera esperta, polícia, traficante, justiça, juventude e corrupção (não necessariamente nessa ordem). Desta vez é um traficante 'bonzinho', que não usa armas, é simpático, inteligente, carismático, filho da burguesia carioca e poderia ser amigo meu ou de algum amigo meu. A atuação de Selton Mello é brilhante como sempre. No final, eles chamam a atenção para o fato de haver esperança na recuperação de pessoas. Não sou tão otimista. Não acho que João Estrela era tão perdido assim. Ele era simplesmente um garoto mimado que queria farrear e o tráfico proporcionou isso por um tempo. Ele era tão sem limite e sem noção que não parecia enxergar o perigo em que estava metido. Ele era muito diferente de um Fernandinho Beira-Mar ou outros malandros que usam da crueldade para controlar e manter o crime organizado. Esses, só um sistema sócio-educativo, com apoio médico e psicológico sério e muito eficiente seria capaz de dar jeito (e tenho minhas dúvidas se em todos os casos).
Mas tenho que confessar que o que mais me causou espanto no cinema não foi o filme em si, mas o fato de haver uma criança de cerca de 5 anos!, na fileira atrás de mim. Ela estava com mais umas quatro senhoras, duas dela muito velhinhas, duas mais novas, nenhuma jovenzinha, de tal forma que não consegui identificar parentesco, nem a razão de terem levado uma menininha para presenciar o filme, que tinha milhões de cenas de gente cheirando cocaína, fumando maconha, falando palavrão (em português), brigando na cadeia, matando a pauladas companheiros de prisão, transando (nada explícito, tudo bem, mas preliminares bem fogosas)....
Eram quatro da tarde, por que ela não estava vendo Bee, a abelhinha ou Alvin, o esquilo? Para que expor esse tipo de cena a uma criança tão novinha?
Para meu alívio, ela acabou dormindo em boa parte do filme (quando eu consegui relaxar) e assistiu "somente" ao começo e ao fim - quando mostra, por exemplo, a rotina de um manicômio prisional (asseguro que não era coisa bonita de se ver).
Nessas horas é que me pergunto até que ponto se pode confiar totalmente no bom senso dos pais ou 'responsáveis'?
- Sangue Negro - 8 indicações para o Óscar, 158 minutos de duração, uma atuação fantástica de Daniel Day-Lewis (não vi os outros indicados, mas certamente ele merece a estatueta). Antes de ir, li algumas recomendações e críticas ao filme:
- O Correio Braziliense dava 5 estrelas e dizia algo como que o expectador passaria dias se lembrando das passagens épicas do filme. Confesso que passado um dia me lembro de bem poucas.
Estadão online: Com um tema tão atual quanto impactante - a descoberta de jazidas de petróleo -, o longa de Paul Thomas Anderson (Magnólia; Boogie Nights) perturba, angustia, faz refletir, mas também traz uma sensação reconfortante ao se mostrar um filme ao mesmo tempo blockbuster e autoral, algo não muito comum e que, por isso, vale cada centavo do ingresso. (não entendo muito bem a linguagem dos críticos, não sei o que quer dizer um filme blockbuster e autoral)
Esse aqui me ajudou mais na minha ignorância: Yahoo - cinema (Celso Sabadin) Quanto mais se mergulha no filme, mais se percebe a importância daqueles primeiros 15 minutos silenciosos. É ali que Anderson forja tanto o caráter de seu protagonista como a formatação deste seu novo trabalho. Ambos são densos, não fazem concessões, se apresentam áridos, crus e cruéis. A fotografia de Robert Elswit (de Syriana – A Indústria do Petróleo e Boa Noite e Boa Sorte) filtra quentes tons de laranja e parece encher de areia os olhos do espectador. Longos planos abertos destacam a secura dos desertos cavoucados por Daniel que - talvez não por acaso - leva o sobrenome Plainview (algo como "visão ampla, plena").
No final das contas, o filme é muito bom esteticamente falando, é complexo, é denso, mas para ser bem sincera, não é o tipo do filme que a gente vai domingo à noite para se divertir. Fiquei o tempo todo esperando que alguma coisa fosse acontecer, aí de repente, depois de duas horas e meia, ele acabou. Como sou ignorante no assunto, posso dizer que gosto de filme onde acontecem coisas, que silêncio demais, paisagem demais, me entendiam, que acho chato quando o personagem principal não é 'do bem' (odiei O Talentoso Ripley ou Anjo Malvado), que não gosto também de filme que tem criança sendo mal tratada ou abandonada (Cidade de Deus tem, mas lá pelo menos também tem humor, ação e coisa boa acontecendo, esse é só tristeza, frieza e angústia!). Confesso que fiquei bem feliz quando Tropa de Elite o superou no festival de Berlin!
sexta-feira, fevereiro 08, 2008
Um dia de mãe
É 1h25 da manhã. Estou tão cansada que não tive coragem de ir para a cama. Sentei aqui em frente ao computador para esperar o ânimo chegar.
Para justificar o estado, seguem alguns dados bem recentes:
- acabei de encapar 9 livros didáticos, 2 livros de literatura, 3 blocos de papel tamanho A4, 1 bloco de folhas tamanho A3 (espero que uma criança de 7 anos, na primeira série, dê conta de tudo isso);
- preenchi 23 etiquetas com nome completo da aluna, série, turma, turno, nome da professora e do colégio;
- preguei micro-etiquetas (essas foram impressas pelo marido) em 12 lápis de cor, 2 lápis grafite, 2 apontadores, 3 frascos de cola, 1 tesoura, 1 régua (essas últimas deram trabalho em dobro, pois tive que recortar o nome e fazê-los menor para adequar-se ao tamanho do objeto), 1 ábaco (nos dois lados, contem-se duas) - todas devida e completamente envolvidas por papel contact;
- escrevi duas vezes o nome da filha no corpo de 12 pincéis atômicos;
- identifiquei a agenda, o material dourado, o QVL.
Neste ínterim, fui acudir duas vezes a filha que estava passando mal, com náuseas, ânsia de vômito e dor de barriga. Depois, arrumar sua cama, colocar pasta de dentes em sua escova, supervisionar a escovação, acompanhá-la à cama, ficar a seu lado até dormir. Conversei brevemente com o marido sobre contas da casa, projeto da reforma do apartamento e como foi a primeira reunião com a professora (quando descobri que o início das aulas seria amanhã e não na segunda, como estava pensando). Dei um rápido alô on line para a cunhada e o delicioso sobrinho de 2 meses, que não interrompeu seu sono dos inocentes para nos ver babando por ele.
Produzi uma montanha de lixo (restos de papel contact, pepéis de etiquetas, sacos plásticos) que estou fingindo que foram abduzidos por extra-terrestres e que não precisarei catar.
Resolvo respirar fundo e pensar positivo. Tenho que criar coragem. Definitivamente! Após um segundo de felicidade ao pensar que amanhã é sexta, recordo-me que o dia será daqueles. Revejo a lista de afazeres. Chegar no trabalho mais cedo (o que significa acordar mais cedo) para compensar a escapulida para ir ao dentista no fim da manhã. Depois, uma hora de malhação (ainda estou toda doída da última vez, ai, ai, ai). Volto correndo, tomo banho, verifico se a filha já almoçou, quero fazer um penteado especial para o seu primeiro dia. Levo à escola, entrego os dois sacos de material escolar (antes tenho que comprar duas pastas com elástico que descobri estarem faltando - isso porque comprei todo o material em dezembro, para adiantar). Vou à terapia familiar com as irmãs (não posso esquecer de levar-lhes os sacos de roupa que trouxe para lavar e secar aqui em casa), volto pro trabalho e às 18h pego a filha na escola. Antes não posso esquecer de ligar pro transporte escolar e prás escolas de natação e música para confirmar matrícula, calcular a rescisão contratual da babá, passar no banco e pegar dinheiro (acho que isso vou delegar pro marido), confirmar se a máquina de lavar roupas foi devolvida pela empresa de conserto no prazo (isso delegar para a empregada). Está faltando algo? Ah sim, ir ao banheiro, beber água, almoçar...
Pensando bem, são duas horas, é melhor ir dormir.
Para justificar o estado, seguem alguns dados bem recentes:
- acabei de encapar 9 livros didáticos, 2 livros de literatura, 3 blocos de papel tamanho A4, 1 bloco de folhas tamanho A3 (espero que uma criança de 7 anos, na primeira série, dê conta de tudo isso);
- preenchi 23 etiquetas com nome completo da aluna, série, turma, turno, nome da professora e do colégio;
- preguei micro-etiquetas (essas foram impressas pelo marido) em 12 lápis de cor, 2 lápis grafite, 2 apontadores, 3 frascos de cola, 1 tesoura, 1 régua (essas últimas deram trabalho em dobro, pois tive que recortar o nome e fazê-los menor para adequar-se ao tamanho do objeto), 1 ábaco (nos dois lados, contem-se duas) - todas devida e completamente envolvidas por papel contact;
- escrevi duas vezes o nome da filha no corpo de 12 pincéis atômicos;
- identifiquei a agenda, o material dourado, o QVL.
Neste ínterim, fui acudir duas vezes a filha que estava passando mal, com náuseas, ânsia de vômito e dor de barriga. Depois, arrumar sua cama, colocar pasta de dentes em sua escova, supervisionar a escovação, acompanhá-la à cama, ficar a seu lado até dormir. Conversei brevemente com o marido sobre contas da casa, projeto da reforma do apartamento e como foi a primeira reunião com a professora (quando descobri que o início das aulas seria amanhã e não na segunda, como estava pensando). Dei um rápido alô on line para a cunhada e o delicioso sobrinho de 2 meses, que não interrompeu seu sono dos inocentes para nos ver babando por ele.
Produzi uma montanha de lixo (restos de papel contact, pepéis de etiquetas, sacos plásticos) que estou fingindo que foram abduzidos por extra-terrestres e que não precisarei catar.
Resolvo respirar fundo e pensar positivo. Tenho que criar coragem. Definitivamente! Após um segundo de felicidade ao pensar que amanhã é sexta, recordo-me que o dia será daqueles. Revejo a lista de afazeres. Chegar no trabalho mais cedo (o que significa acordar mais cedo) para compensar a escapulida para ir ao dentista no fim da manhã. Depois, uma hora de malhação (ainda estou toda doída da última vez, ai, ai, ai). Volto correndo, tomo banho, verifico se a filha já almoçou, quero fazer um penteado especial para o seu primeiro dia. Levo à escola, entrego os dois sacos de material escolar (antes tenho que comprar duas pastas com elástico que descobri estarem faltando - isso porque comprei todo o material em dezembro, para adiantar). Vou à terapia familiar com as irmãs (não posso esquecer de levar-lhes os sacos de roupa que trouxe para lavar e secar aqui em casa), volto pro trabalho e às 18h pego a filha na escola. Antes não posso esquecer de ligar pro transporte escolar e prás escolas de natação e música para confirmar matrícula, calcular a rescisão contratual da babá, passar no banco e pegar dinheiro (acho que isso vou delegar pro marido), confirmar se a máquina de lavar roupas foi devolvida pela empresa de conserto no prazo (isso delegar para a empregada). Está faltando algo? Ah sim, ir ao banheiro, beber água, almoçar...
Pensando bem, são duas horas, é melhor ir dormir.
quarta-feira, fevereiro 06, 2008
Numa tarde de janeiro
Na cidade de concreto e grama é uma tarde qualquer de um janeiro cinza e chuvoso. Saio do consultório médico onde esperei meia hora por um papel e uma assinatura deixando para trás uma atendente falastrona, com seus modos inapropriados e sua incompetência indiscreta. Uma mulher saía com face pálida, dois frascos com material para análise e um marido abatido.
Paro numa lanchonete. Um rapaz e uma moça pedem duas cervejas e uma dose de cachaça. São 4 horas. Enquanto julgo-os em silêncio, aproveito para repor minha dose diária de cafeína - uma café e uma coca, por favor.
O trânsito segue seu ritmo (lento). Dirijo distraída mascando um chiclete de hortelã e remoendo minhas angústias e incertezas. Uma mulher atravessa a rua com um jovem aleijado, em seu compasso esquisito. À frente um rapaz segue com uma coroa de flores em direção ao cemitério. Respiro aliviada por não serem para mim. Lembro que em casa há uma pilha de roupas para serem lavadas e outra para ser passada. Esqueço do resto.
Paro numa lanchonete. Um rapaz e uma moça pedem duas cervejas e uma dose de cachaça. São 4 horas. Enquanto julgo-os em silêncio, aproveito para repor minha dose diária de cafeína - uma café e uma coca, por favor.
O trânsito segue seu ritmo (lento). Dirijo distraída mascando um chiclete de hortelã e remoendo minhas angústias e incertezas. Uma mulher atravessa a rua com um jovem aleijado, em seu compasso esquisito. À frente um rapaz segue com uma coroa de flores em direção ao cemitério. Respiro aliviada por não serem para mim. Lembro que em casa há uma pilha de roupas para serem lavadas e outra para ser passada. Esqueço do resto.
Preparação do Currículo - Wislawa Szymborska
Já faz um bom tempo que uma amiga querida e mulher mais do que especial me presenteou com um livro de T. S. Eliot e um bloco de poesias de Wislawa Szymborska. Na época, eu nunca tinha ouvido falar desta polonesa ganhadora do prêmio Nobel de Literatura no ano de 1996. Imediatamente me apaixonei pela forma simples, inteligente, crua, sensível, peculiar que enxerga e escreve o cotidiano.
Deixo aqui uma de minhas preferidas, que me emociona de forma particular, talvez pela minha história profissional de cuidadora de gente, de gestora, de pessoa que sempre trabalhou com gente. Gente que sente, que sofre, que ama, que deseja, que trabalha, que sonha, que adoece e que agonia e que freqüentemente é resumida a informações, números, registros, dados, prontuários, doenças, resultados,´
currículos...
Preparação do Currículo
Que é preciso?
É preciso fazer um requerimento
e ao requerimento anexar o currículo.
Independentemente da duração da vida,
o currículo deve ser curto.
É obrigatória a concisão e boa seleção dos fatos,
transformar as paisagens em endereços,
e vagas recordações em datas fixas.
De todos os amores o conjugal é quanto basta,
e quanto aos filhos só os que nasceram.
Mais importante que quem conheces é de quem és conhecido.
Viagens só se ao estrangeiro.
A que aderiste mas sem dizeres porquê.
Distinções sem o motivo.
Escreve como se nunca tivesses falado contigo próprio
E te evitasses ao passares por ti.
Omite o silêncio dos cães, dos gatos e das aves,
Cacaréus de lembrança, sonhos e amigos.
Valoriza mais o preço que o valor
e o título que o texto.
Antes o número que calça que aonde vai
esse atrás de quem tu andas.
A fotografia de orelhas descobertas.
Importa o seu formato e não o que elas ouvem.
Que ouvem elas?
O estrépito das máquinas triturando papel [de teu currículo]
Deixo aqui uma de minhas preferidas, que me emociona de forma particular, talvez pela minha história profissional de cuidadora de gente, de gestora, de pessoa que sempre trabalhou com gente. Gente que sente, que sofre, que ama, que deseja, que trabalha, que sonha, que adoece e que agonia e que freqüentemente é resumida a informações, números, registros, dados, prontuários, doenças, resultados,´
currículos...
Preparação do Currículo
Que é preciso?
É preciso fazer um requerimento
e ao requerimento anexar o currículo.
Independentemente da duração da vida,
o currículo deve ser curto.
É obrigatória a concisão e boa seleção dos fatos,
transformar as paisagens em endereços,
e vagas recordações em datas fixas.
De todos os amores o conjugal é quanto basta,
e quanto aos filhos só os que nasceram.
Mais importante que quem conheces é de quem és conhecido.
Viagens só se ao estrangeiro.
A que aderiste mas sem dizeres porquê.
Distinções sem o motivo.
Escreve como se nunca tivesses falado contigo próprio
E te evitasses ao passares por ti.
Omite o silêncio dos cães, dos gatos e das aves,
Cacaréus de lembrança, sonhos e amigos.
Valoriza mais o preço que o valor
e o título que o texto.
Antes o número que calça que aonde vai
esse atrás de quem tu andas.
A fotografia de orelhas descobertas.
Importa o seu formato e não o que elas ouvem.
Que ouvem elas?
O estrépito das máquinas triturando papel [de teu currículo]
sábado, fevereiro 02, 2008
Papos de além da vida
Minha filha, aos sete anos, tem seus momentos filosóficos e de dúvidas existencias e, eventualmente, eu sou a escolhida para compartilhar desses questionamentos.
- Mãe, depois que a gente morre, a gente sobrevive lá no Céu?
Ai, meu Deus, penso, o que vou responder? Eu que não tenho qualquer convicção sobre o assunto?!
- Ah, Filha, não sei, acho que sim, tem a vida eterna, né? (Ufa, acho que agora poderemos mudar de assunto...)
- Mas a gente consegue falar lá no Céu?
(Ai, não acabou!)
- Ah, Filha, acho que consegue, né! (algum tipo de comunicação deve ter, não é possível!) Mas por que está pensando nisso?
- É porque quando eu chegar lá eu vou querer conversar com você. E também eu tenho umas perguntas para fazer prá Deus.
- Ah, tá!
(Acho que eu também terei algumas perguntas para fazer!)
- Mãe, depois que a gente morre, a gente sobrevive lá no Céu?
Ai, meu Deus, penso, o que vou responder? Eu que não tenho qualquer convicção sobre o assunto?!
- Ah, Filha, não sei, acho que sim, tem a vida eterna, né? (Ufa, acho que agora poderemos mudar de assunto...)
- Mas a gente consegue falar lá no Céu?
(Ai, não acabou!)
- Ah, Filha, acho que consegue, né! (algum tipo de comunicação deve ter, não é possível!) Mas por que está pensando nisso?
- É porque quando eu chegar lá eu vou querer conversar com você. E também eu tenho umas perguntas para fazer prá Deus.
- Ah, tá!
(Acho que eu também terei algumas perguntas para fazer!)
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