Já faz um bom tempo que uma amiga querida e mulher mais do que especial me presenteou com um livro de T. S. Eliot e um bloco de poesias de Wislawa Szymborska. Na época, eu nunca tinha ouvido falar desta polonesa ganhadora do prêmio Nobel de Literatura no ano de 1996. Imediatamente me apaixonei pela forma simples, inteligente, crua, sensível, peculiar que enxerga e escreve o cotidiano.
Deixo aqui uma de minhas preferidas, que me emociona de forma particular, talvez pela minha história profissional de cuidadora de gente, de gestora, de pessoa que sempre trabalhou com gente. Gente que sente, que sofre, que ama, que deseja, que trabalha, que sonha, que adoece e que agonia e que freqüentemente é resumida a informações, números, registros, dados, prontuários, doenças, resultados,´
currículos...
Preparação do Currículo
Que é preciso?
É preciso fazer um requerimento
e ao requerimento anexar o currículo.
Independentemente da duração da vida,
o currículo deve ser curto.
É obrigatória a concisão e boa seleção dos fatos,
transformar as paisagens em endereços,
e vagas recordações em datas fixas.
De todos os amores o conjugal é quanto basta,
e quanto aos filhos só os que nasceram.
Mais importante que quem conheces é de quem és conhecido.
Viagens só se ao estrangeiro.
A que aderiste mas sem dizeres porquê.
Distinções sem o motivo.
Escreve como se nunca tivesses falado contigo próprio
E te evitasses ao passares por ti.
Omite o silêncio dos cães, dos gatos e das aves,
Cacaréus de lembrança, sonhos e amigos.
Valoriza mais o preço que o valor
e o título que o texto.
Antes o número que calça que aonde vai
esse atrás de quem tu andas.
A fotografia de orelhas descobertas.
Importa o seu formato e não o que elas ouvem.
Que ouvem elas?
O estrépito das máquinas triturando papel [de teu currículo]
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