segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Falando de cinema

Como neste blog, criado por euzinha (que não entendo chongas de informática, em 3 minutos), não existe uma linha editorial, censura, como não possuo nenhum editor-chefe, nenhum supervisor, nem nada semelhante, posso me dar ao luxo (como todas as outras milhões de pessoas conectadas à internet) de falar sobre o que eu quiser, mesmo sobre as que eu não entendo. Aos outros é que cabe o ônus da escolha - ler ou não ler - e arcar com suas conseqüências.

Hoje falarei sobre cinema, mais especificamente sobre os dois últimos filmes que vi:

- Meu nome não é Johnny - mais um bom filme nacional, que fala sobre drogas, gandaias, Rio de Janeiro, galera esperta, polícia, traficante, justiça, juventude e corrupção (não necessariamente nessa ordem). Desta vez é um traficante 'bonzinho', que não usa armas, é simpático, inteligente, carismático, filho da burguesia carioca e poderia ser amigo meu ou de algum amigo meu. A atuação de Selton Mello é brilhante como sempre. No final, eles chamam a atenção para o fato de haver esperança na recuperação de pessoas. Não sou tão otimista. Não acho que João Estrela era tão perdido assim. Ele era simplesmente um garoto mimado que queria farrear e o tráfico proporcionou isso por um tempo. Ele era tão sem limite e sem noção que não parecia enxergar o perigo em que estava metido. Ele era muito diferente de um Fernandinho Beira-Mar ou outros malandros que usam da crueldade para controlar e manter o crime organizado. Esses, só um sistema sócio-educativo, com apoio médico e psicológico sério e muito eficiente seria capaz de dar jeito (e tenho minhas dúvidas se em todos os casos).
Mas tenho que confessar que o que mais me causou espanto no cinema não foi o filme em si, mas o fato de haver uma criança de cerca de 5 anos!, na fileira atrás de mim. Ela estava com mais umas quatro senhoras, duas dela muito velhinhas, duas mais novas, nenhuma jovenzinha, de tal forma que não consegui identificar parentesco, nem a razão de terem levado uma menininha para presenciar o filme, que tinha milhões de cenas de gente cheirando cocaína, fumando maconha, falando palavrão (em português), brigando na cadeia, matando a pauladas companheiros de prisão, transando (nada explícito, tudo bem, mas preliminares bem fogosas)....
Eram quatro da tarde, por que ela não estava vendo Bee, a abelhinha ou Alvin, o esquilo? Para que expor esse tipo de cena a uma criança tão novinha?
Para meu alívio, ela acabou dormindo em boa parte do filme (quando eu consegui relaxar) e assistiu "somente" ao começo e ao fim - quando mostra, por exemplo, a rotina de um manicômio prisional (asseguro que não era coisa bonita de se ver).
Nessas horas é que me pergunto até que ponto se pode confiar totalmente no bom senso dos pais ou 'responsáveis'?

- Sangue Negro - 8 indicações para o Óscar, 158 minutos de duração, uma atuação fantástica de Daniel Day-Lewis (não vi os outros indicados, mas certamente ele merece a estatueta). Antes de ir, li algumas recomendações e críticas ao filme:

- O Correio Braziliense dava 5 estrelas e dizia algo como que o expectador passaria dias se lembrando das passagens épicas do filme. Confesso que passado um dia me lembro de bem poucas.

Estadão online: Com um tema tão atual quanto impactante - a descoberta de jazidas de petróleo -, o longa de Paul Thomas Anderson (Magnólia; Boogie Nights) perturba, angustia, faz refletir, mas também traz uma sensação reconfortante ao se mostrar um filme ao mesmo tempo blockbuster e autoral, algo não muito comum e que, por isso, vale cada centavo do ingresso. (não entendo muito bem a linguagem dos críticos, não sei o que quer dizer um filme blockbuster e autoral)

Esse aqui me ajudou mais na minha ignorância: Yahoo - cinema (Celso Sabadin) Quanto mais se mergulha no filme, mais se percebe a importância daqueles primeiros 15 minutos silenciosos. É ali que Anderson forja tanto o caráter de seu protagonista como a formatação deste seu novo trabalho. Ambos são densos, não fazem concessões, se apresentam áridos, crus e cruéis. A fotografia de Robert Elswit (de Syriana – A Indústria do Petróleo e Boa Noite e Boa Sorte) filtra quentes tons de laranja e parece encher de areia os olhos do espectador. Longos planos abertos destacam a secura dos desertos cavoucados por Daniel que - talvez não por acaso - leva o sobrenome Plainview (algo como "visão ampla, plena").

No final das contas, o filme é muito bom esteticamente falando, é complexo, é denso, mas para ser bem sincera, não é o tipo do filme que a gente vai domingo à noite para se divertir. Fiquei o tempo todo esperando que alguma coisa fosse acontecer, aí de repente, depois de duas horas e meia, ele acabou. Como sou ignorante no assunto, posso dizer que gosto de filme onde acontecem coisas, que silêncio demais, paisagem demais, me entendiam, que acho chato quando o personagem principal não é 'do bem' (odiei O Talentoso Ripley ou Anjo Malvado), que não gosto também de filme que tem criança sendo mal tratada ou abandonada (Cidade de Deus tem, mas lá pelo menos também tem humor, ação e coisa boa acontecendo, esse é só tristeza, frieza e angústia!). Confesso que fiquei bem feliz quando Tropa de Elite o superou no festival de Berlin!

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