Nada como uma viagem para colocarmos a leitura em dia. Consegui terminar de ler “Paula”, de Isabel Allende. As últimas páginas foram devoradas numa cadeira do shopping comendo um croquete de almoço e no banco do táxi, enquanto tentava inutilmente enxugar as lágrimas prestes a borrar toda a maquiagem feita para enganar a cara de cansaço.
Minha mãe sempre estranhava nossa compulsão para o choro ou os tremores de medo, quando unidas umas às outras no sofá da sala, nos emocionávamos até os cabelos, ao ver um filme ou ler um livro. Achava meio ridículo, exagerado. Seu pragmatismo impedia que compreendesse nossa empatia com os personagens. Herança paterna essa capacidade de vivenciar a ficção como protagonistas e sentirmos com a mesma sofreguidão e intensidade.
Mas o livro em questão não trata de ficção, mas da morte lenta e real de uma filha amada. De perdas, dores e amores verdadeiros. Como não se comover? Como não entrar na vida daquelas mulheres fortes e fabulosas, que mantêm laços de afeto concretos e transcendentes?
Como não me colocar no lugar e imaginar como seria se acontecesse comigo. Como juntar os pedaços e renascer após acompanhar a vitalidade de minha filha, esse ser adorado, fruto das minhas entranhas, se esvaindo ante meus olhos, entre meus dedos, à revelia, num avesso da lógica e do sentido?
Ainda que não acredite que deva existir sentido e lógica na vida ou na morte, não resisto em buscá-los...
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