quinta-feira, abril 24, 2008

(Outras) Conjecturas sobre o caso Isabella Nardoni

Já estou cansada de ouvir e de falar desse caso. Não sou a única. As pessoas estão estafadas dessa história. Não se agüenta mais repetir a seqüencia horrenda de fatos e ouvir os depoimentos descarados da família Nardoni e de Ana Carolina Jatobá. O pior é que não se consegue não falar disso. Como se fosse algo mais forte do que nós. Criou-se um círculo vicioso entre comportamento da mídia e das pessoas. Um circo vicioso. Não sei quem começou, embora aposte minhas fichas na imprensa. Quanto a mim, espero não tocar mais nesse assunto.

Cada vez fica mais óbvia e ululante a culpa deles. Se tivessem um pingo de nobreza confessavam e nos poupavam dessa ladainha, mas além de assassinos são mentirosos deslavados. E não me venham falar de julgamento precipitado, pois com as provas técnicas que já foram divulgadas, qualquer criatura de bom senso já foi convencida (e olha que não era algo que se gostaria de crer). Só tem dúvidas quanto às evidências das provas os próprios, a família, os advogados de defesa, os sempre contrários à polícia e aqueles que têm interesse em polemizar. Ainda não identifiquei outros grupos.

O que me espanta não é a mentira deles, pois de quem fez o que fez (ressaltando não tratar-se de ação isolada - que fez o que era acostumado a fazer, só que em um grau mais avançado), não se espera comportamento muito diferente. Mas o que me assusta, o que me deixa ainda mais indignada é a cooperação mentirosa (e criminosa) da família. Me parece que sempre há a expectativa de que os pais tenham uma atitude de correção diante do comportamento inadequado dos filhos, que venham contribuir para sua educação e formação. Assim como foi com os pais de um dos culpados pela morte do menino João Hélio. Foram eles que denunciaram à polícia o paradeiro dos suspeitos - se meu filho errou, ele deve responder por seus atos. Imagino que não deva ter sido fácil para eles. Mas fizeram o que era correto. O que tinha que ser feito.

Não é o que a gente vê nessa família Nardoni. Em vez de esse pai, essa irmã dizerem: olha, a gente te ama, mas você tem que aprender a assumir as conseqüências dos seus atos e não seremos coniventes com essa farsa, com esse crime, com esse imbróglio. Não seremos mais condecendentes com os seus erros. NÃO!! Participam e pioram a situação!! E passam a mensagem completamente inadequada de que devemos fazer TUDO por nossa família. Até mentir. Até forjar. Até ser conivente.

Aí, na verdade, a gente começa a compreender os possíveis porquês de isso ter acontecido. O tipo de educação que esses jovens receberam em suas próprias casas. O tipo de relação que foram acostumados a estabelecer.

Não entendo porque esse sentimento de empatia não foi destinado à menina, que era a única vítima dessa história. Quer dizer, a única não, pois ainda há as outras duas crianças, que participaram de tudo, sabe-se lá como, e de, provavelmente, muitas outras situações de risco. Esse é outro ponto. Com quem ficarão essas crianças no futuro?? Com essa família???

Hoje ouvi uma coisa que me deixou boquiaberta no jornal 'Hoje em dia', da Record. Comentava-se a respeito da possibilidade de o irmãozinho ser ouvido no caso. (A essa altura do campeonato não entendo nem por quê nem para quê estão cogitando isso!) A jornalista me sai com a seguinte pérola, algo assim: "Fico imaginando se acaso esse menino venha a falar algo e depois no futuro descubra que foi o responsável pela prisão dos pais, como vai ficar em relação a isso?" Ao que foi logo apoiada pelo outro âncora, cujos nomes não recordo.

Aloô!! Como assim???!!!! Que inversão é essa??? Se os pais forem presos, os únicos responsáveis terão sido eles mesmos. Estarão simplesmente pagando (em moeda muito inferior) pelo que fizeram. A pergunta a ser feita é: como essa criança ficará tendo presenciado tudo o que presenciou??? Tendo passado por tudo o que passou?? Como essa criança tem vivido e viverá, tendo sido criada num ambiente familiar que tolera a mentira e a violência em todas as suas formas???

Gente, não entendo como um jornalista, alguém que pode contribuir para formação de opiniões pode, no ar, em pleno meio-dia e meia, falar uma bobagem dessa dimensão!! A impressão que às vezes me dá é que eles têm que falar qualquer coisa que possa render matéria e pontos no ibope. Então como o assunto está esgotando, vamos inventar outr desdobramento e nos enveredar por essa linha, mesmo que não seja a mais adequada. Isso não importa. O que importa é continuarmos com o programa, é ganharmos pontos, é criarmos bastante sensação.

Sei lá, tudo isso é muito esquisito!! Tudo isso me deixa muito cansada. Espero que acabe logo. Espero que se resolva logo. Que os responsáveis sejam devidamente penalizados. Que seja feita justiça. Que essa menina descanse em paz.

quarta-feira, abril 23, 2008

3 filmes, 1 livro - Diversão e reflexões

Essa semana tem sido bastante profícua. No feriado, tive a oportunidade de pegar um livro que estava lendo a conta-gotas, dar um gás e terminá-lo. Leitura recomendada para os que, como eu, são fãs de Isabel Allende: O Plano Infinito.

Nos outros dias, pude assistir a três filmes muito bons:

- O Clube da Felicidade e da Sorte (Título original: The Joy Luck Club. Baseado no best seller de Amy Tan e produzido por Oliver Stone)

- Buena Vida Delivery (Produção franco-argentina - 2004 - dirigida por Leonardo Di Cesare, Melhor Filme no Festival de Mar Del Plata e Toulouse) e

- Valentín
(2002. Dirigido por Alejandro Agresti, recebeu o Prêmio Especial do Júri e a Menção Especial - Júri da ACCA, no Festival de Mar Del Plata)

O interessante é que todos - tanto o livro, quanto os filmes - têm como pano de fundo os conflitos interiores e familiares de suas personagens, o quanto e o como somos afetados por nossos pais (pelo amor-não-amor, atenção-abandono, expectativa-cobrança, confiança-desconfiança ...), as conseqüências dessas relações sobre o que somos e sobre os nossos comportamentos ao longo de nossas vidas.
Recomendo-os todos e sobretudo as reflexões que ensejam.

segunda-feira, abril 21, 2008

Outro crime contra a infância e a omissão criminosa do Estado

Mais um crime deixou a população do Distrito Federal e entorno em choque. Uma criança de 9 anos foi encontrada enterrada no quintal da casa do possível assassino (42 anos, vizinho da vítima, morava com uma menina de 15 anos há dois), após ter sido estuprada, espancada e enforcada (não necessariamente nessa ordem).

Além do horror da história, que prescinde de comentários, o que me chama atenção é que, pelo que consta, a menina foi vista pela última vez entrando no carro do suposto assassino, acompanhada da "amiga" e esposa do elemento, a adolescente de 15 anos, no início da tarde de terça-feira, logo após ter chegado à escola e ter sido liberada, pois não haveria aula.

Pergunta número 1: Por que não houve aula em plena terça-feira no meio do semestre letivo?

Pergunta número 2: Como as crianças são liberadas da escola, sem supervisão e sem aviso aos pais? Sozinhas. Simplesmente soltas. Como se isso fosse coisa natural!! Especialmente considerando uma cidade - Santo Antônio do Descoberto - que possui 80.000 habitantes, uma taxa de 6 homicídios por mês e um corpo policial que conta com 5 integrantes e, no momento, nenhum delegado (Estão aguardando um interino. Enquanto isso, o Ministério Público é que estava coordenando as investigações).

Na minha opinião, o diretor dessa escola também deveria ser ouvido no caso. Não se pode tolerar um dia sem aula numa escola. Não se pode tolerar que as crianças cheguem à escola e não sejam (bem) cuidadas durante o horário em que isso é suposto ser feito. Além de educação, o Estado, por meio da polícia, da escola, dos batalhões escolares tem a obrigação de fornecer segurança, pelo menos às suas crianças!

Toda criança merece ser criança. Toda criança merece ser (e crescer) feliz.
Sonho com um país em que isso seja a simples realiade, não mera utopia.

sexta-feira, abril 18, 2008

O caso Isabela Nardoni, a violência contra a criança e o ECA

Não sou de ver televisão. Lá em casa, evitamos ao máximo. Acreditamos que horário de refeição é sagrado e devemos aproveitar para conversar, bem como os poucos momentos que estamos juntos em casa. Ligamos apenas para programas específicos (cada membro da família tem o seu. Com a filha de 7 anos, negociamos. Ela nos convenceu, por exemplo, a poder acompanhar Chiquititas!). Felizmente temos TV a cabo e não ficamos refém, nem restritos a o pouco e o regular que os canais abertos nos oferecem.

Um dos locais onde assisto TV é no estúdio onde malho. Lá me atualizo na programação que não acompanho normalmente – os novos clipes na MTV, os velhos do VH1 e os jornais e programas jornalísticos da Record. Ah!, a Record. Ultimamente, temos ficado por lá, apenas. Nas últimas duas semanas, só tenho assistido à cobertura do terrível e dramático caso do assassinato da menina Isabela Nardoni, muito provavelmente por seu pai e por sua madrasta (se usa esse termo quando a mãe está viva? Nem sabia!).

Hoje era seu aniversário, ela faria 6 anos. Hoje os dois – pai e madrasta - iriam depor. Hoje comentou-se sobre os resultados dos laudos periciais – que ela primeiramente foi ferida pela madrasta por um objeto que provocou um corte na testa; que em seguida foi estrangulada durante 3 minutos (acho um tempo razoável para a pessoa pensar que não está fazendo uma coisa muito certa. E para o outro vir em defesa); e continuando, após ter sido dada como morta (embora estivesse ferida, mas bem viva), foi atirada pela janela, como um entulho, pelo próprio pai (numa das saídas mais esdrúxulas que poderiam ser imaginadas).

Não tenho acompanhado toda a cobertura da mídia, mas do que tenho acompanhado, tenho visto muito sensacionalismo, muita repetição de notícias, muita gente se aproveitando da tragédia, a população eufórica (com toda razão, mas certamente sob efeito da pressão jornalística, que cria um furor e por sua vez se realimenta dele). Mas ainda não vi surgir um debate sobre duas questões que me parecem fundamentais:

1) a questão da guardas de crianças em lares ou sob os cuidados de pais que não oferecem segurança (neste caso) ou amor (em outros).
No caso específico, aquele pai já tinha dado mostras de agressividade e a madrasta também exibia freqüentemente comportamento muito questionável. Sem contar que as duas famílias – Nardoni e Jatobá – tinham registros – oficiais e não-oficiais – de um histórico de violência.
Nesses casos, os filhos devem ser colocados em situações de risco, sob o discurso de que é pai (ou mãe) e, portanto, merece ter contato, ou é bom para a criança o relacionamento com o pai/ou mãe?? Não há dúvida dos benefícios dos cuidados paternos e maternos para a saúde emocional das crianças, isso já está mais do que provado. Mas e quando esses pais não exercem a paternidade/maternidade, de modo a promover a saúde, a auto-estima, o bom desenvolvimento de seus filhos??

2) a questão do uso da violência física como forma de educação.
No caso, tudo começou com uma 'pequena' agressão. Que, talvez, se a mulher não estivesse com o tal objeto em mãos, poderia ter desferido um safanão, um beliscão, uma palmada, um tapa, um empurrão... sabe-se lá mais o quê, mas que, talvez, não tivesse “maiores” conseqüências.

Ainda hoje se admite com muita naturalidade, no Brasil, o uso da agressão ou coerção física contra crianças. Todos sabem que se um adulto bate em outro na rua pode ser incriminado por isso e que essa não é uma atitude correta. Por que seria diferente em casa, especialmente contra um ser fisicamente muito menor e emocionalmente muito mais vulnerável? O pior: não é diferente pela lei!

Ferido e violentado por quem supostamente deveria cuidar, amar e proteger. Não consigo ver crime mais grave!

Educação se faz por diálogo. Não por força física. Isso já foi abolido das escolas, porque não ainda dos lares???

O Estatuto da Criança e do Adolescente, criado pela Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990, diz, entre outras várias coisas :

Art. 4o É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

Art. 5o Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.
(Não entendo por que eles continuam redigindo leis com essa forma. Fica parecendo uma piada de mau gosto!)

Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.

Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.
(Me lembrei do caso da menina de 12 anos que foi mantida sob cárcere e torturada continuamente por dois anos, sob os olhares de diversas pessoas, em caso ocorrido em Goiânia e divulgado recentemente)

Art. 70. É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da criança e do adolescente.
(Me lembrei que, neste caso de Goiânia, a autora já tinha sido acusada, mas libertada por “falta de provas”. O Estado poderia ter evitado a repetição de um caso e o sofrimento de uma menina que teve a infância arrasada)

Art. 73. A inobservância das normas de prevenção importará em responsabilidade da pessoa física ou jurídica, nos termos desta lei.

Quer dizer, a obrigação legal existe desde 1990. Pena que não se constrói uma cultura simplesmente publicando leis. Há que se fazer cumpri-las.

Gostaria de saber o número de crianças, adolescentes (e mulheres) abusados anualmente. Gostaria de compará-los com o número das vítimas de dengue ou de febre amarela, que tiveram tanto espaço na mídia atualmente (não que não mereçam também!).

Gostaria de ver a repercussão de casos assim virarem ações concretas que sirvam, efetivamente, para conter casos presentes e evitar casos futuros.

terça-feira, abril 08, 2008

Da tolerância, uma das qualidades fundantes da vida democrática*


Paulo Freire in Pedagogia da Tolerância. Org. Por Ana Maria Araújo Freire. São Paulo: Editora UNESP, 2004

* Trecho de texto que teria sido a 3ª Carta do livro de Paulo Freire Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos, mas por ele ainda inacabado no momento em que o índio pataxó Galdino Jesus dos Santos faleceu, em 21 de abril de 1997.

Daqui a alguns dias completará 9 anos do fato motivador deste texto, do qual transcrevo partes. Ele fala de um assunto que muito me motiva e me interessa e que representa aspecto fundamental para a interação e a convivência ética, pacífica e democrática dos seres humanos, das sociedades, das famílias.

Não consigo enxergar alguma forma de relacionamento ou interação saudável, enriquecedora para ambas as partes, sinérgica que prescinda da aprendizagem e da prática do respeito e da tolerância. Costumo dizer que são pressupostos para os processos de comunicaçao verdadeiros entre as pessoas.

“(...) Falo da tolerância como virtude da convivência humana. Falo, por isso mesmo, da qualidade básica a ser forjada por nós e aprendida pela assunção de sua significação ética – a qualidade de conviver com o diferente. Com o diferente, não com o inferior.

A tolerância verdadeira não é condescendência nem favor que o tolerante faz ao tolerado. Mais ainda, na tolerância verdadeira não há propriamente "o" ou "a" que tolera e "o" ou "a" que é tolerado (a). Ambos se toleram.

Por isso mesmo, na tolerância virtuosa não há lugar para discursos ideológicos, explícitos ou ocultos, de sujeitos que, julgando-se superiores aos outros, lhes deixam claro ou insinuam o favor que lhes fazem por tolerá-los.

(...) O que a tolerância autêntica demanda de mim é que respeite o diferente, seus sonhos, suas idéias, suas opções, seus gostos, que não o negue só porque é diferente. O que a tolerância legítima termina por me ensinar é que, na sua experiência, aprendo com o diferente.

Há algo que me parece fundamental e que até prévio a qualquer indagação em torno da tolerância é que ela é uma instância da existência humana.

Só entre mulheres e homens, seres finitos e conscientes de sua finitude, seres que, por natureza, são substantivamente iguais, é que se pode falar em tolerância ou intolerância. Não é possível conjecturar em torno da tolerância entre tigres ou entre mangueiras e jaqueiras.

É neste sentido que a tolerância é virtude a ser criada e cultivada por nós enquanto a intolerância é distorção viciosa. Ninguém é virtuosamente intolerante assim como ninguém é viciosamente tolerante.”

É o canal!


Há umas semanas fui ao dentista, na verdade à dentista, para fazer um acompanhamento de rotina, aplicar fluor*, verificar a necessidade de alguma obturação (rezando que não, pois continuo odiando agulhas, anestesias e procedimentos) e sondar a possibilidade de um clareamento.

(*acentos existirão neste texto, conforme o desejo proprio, no momento)

Era a primeira vez que eu ia nela - criatura querida e maravilhosa diga-se de passagem - que já era a dentista de meu marido. Contei o que pretendia, sentei-me na cadeira, ela olhou, fez uma cara de espanto/interrogação e perguntou sobre meus dois dentes da frente, se eu tinha sensibilidade ao gelado. Estranhei a pergunta, disse que não sabia, que achava que sim. Ela pegou uma pedra de gelo e colocou sobre os dentes. Descobri que não percebia o gelado!! E ela me disse - é, parece que seus dentes estão mortos. Disse isso com placidez e serenidade. Com a calma comum às pessoas de boa fé. Quase pensei que tivesse ouvido errado, perdido alguma parte, sei lá.

Paraliso por alguns décimos de segundo. Ou um pouco mais.
- Como assim, mortos? Não estão mais aqui entre nós? Pera aí? Como você me fala algo assim, a seco, de repente??, brinco.
- Não, calma! Nao se preocupe! (isso porque o defunto não era dela!) Provavelmente você sofreu alguma batida, às vezes imperceptivel, no passado, que causou a perda da irrigaçao, bla, bla, bla. Mas vamos fazer um raio X e ver como está.

Fiz 18 raios X!! Não por causa deles, claro. Mas para ver tudo. Deve ter sido possivel ver ate meus pensamentos mais secretos. Alias, após as cargas de radiaçao que já tive este ano, imagino que esteja brilhando no escuro. Vou até abandonar meu abajour de cabeceira.

Apos o resultado, descobri que um dos meus dois finados dentes havia mineralizado. Gente, é cada coisa que acontece no corpo da gente, né? Tanta novidade! Tão legal essa coisa de ficar velha! Todo dia tem surpresa! Se era para mineralizar, podia ter virado ouro e dar algum lucro, mas parece que não e bem assim que a coisa funciona. Mineralizar é quando o próprio organismo dá jeito e calcifica o canal do moribundo. Ela parece ter lamentado. Nao entendi bem porque. Eu fiquei orgulhosa do meu organismo autosuficiente. Em parte, porque o outro não mineralizou. Saco! O resultado é que tive que fazer um canal no dente. Fui hoje! Canal no dente da frente!, parecia um pesadelo!

Felizmente, sobrevivi. Posso ate dizer que foi muito melhor do que eu esperava. Ate recomendo, se alguém estiver interessado. Só nao consegui dormir na cadeira. Mas só porque tinha que ficar com a boca aberta, o que atrapalhava o relaxamento, senão tinha dormido.

Tambem achei muito legal porque eu descobri o que era "fazer canal". Com aquela broca que tem um barulho fininho insuportável, ela abre o nosso dente até chegar ao famoso canal, onde normalmente moram a polpa, nervos e vasos sanguíneos (no meu caso, nao sei o que tinha lá, por causa do óbito). Aih, com umas lixinhas de diferentes circunferências, que na verdade parecem umas agulhinhas bem estreitas, ela vai ampliando progressivamente o diâmetro do canal (isso dá uma sensação meio estranha, uma agonia), até chegar no tamanho ideal, que varia de dente para dente, idade para idade. Em seguida, limpa-se o canal (lava, aspira) para, então, preenchê-lo com o material de obturação. Simples assim!

Como o local estava um pouco infectado vou tomar uma semana de antibiótico, três dias de antinflamatorio, mas felizmente não estou sentindo nenhuma dor, cinco horas apos o procedimento. Viva as novas tecnologias!!

segunda-feira, abril 07, 2008

Ainda sobre democracia, política e cidadania



Sou servidora pública federal há mais de quinze anos em uma instituição pública da qual muito me orgulho - a Câmara dos Deputados. Talvez isso possa causar estranheza, pois a imagem que é divulgada na mídia revela apenas escândalos, falcatruas e corrupção. Infelizmente, isso existe também. Felizmente, bem longe de onde trabalho e busco exercer minhas funções com zelo, qualidade e dedicação.

Quero salientar que isso existe porque ainda vivemos em uma sociedade que convive e de certo modo aceita atitudes corruptas, que acredita que o importante é se dar bem e que agir com ética e correção é tolice. O Congresso Nacional é a representação e o reflexo da sociedade que temos, não podemos nos iludir e acharmos que eles são uma coisa e nós somos outra completamente diferente. Nessa linha, também devemos lembrar que temos representante éticos e preocupados em tornar este país um lugar melhor para se viver.

Posso dizer que temos servidores muito engajados com a causa da promoção da democracia, da disseminação dos valores democráticos, preocupados em agir e praticar uma gestão segundo os princípios constitucionais da administração pública (legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência), e, ainda, em elaborar e tornar disponíveis produtos e serviços que permitam ao cidadão estar em contato e compreender o funcionamento do legislativo, participar, interferir e, desta forma, além de exercer sua cidadania política, contribuir para a evolução das instituições democráticas e, logo, da própria democracia.

Segue abaixo uma pequena lista com alguns sites que permitem o acesso a informações e, em alguns casos, o contato e o diálogo com órgãos da administração pública direta e com Organismo não-governamental:

Câmara dos Deputados - www.camara.gov.br
Plenarinho - www.plenarinho.gov.br
Senado Federal - www.senado.gov.br
Presidência da República www.presidencia.gov.br
Portal da Transparência - www.portaltransparencia.gov.br
ONG Transparência Brasil - www.transparencia.org.br

Vale a máxima para a formação de uma opinião - primeiramente, é necessário conhecer. Depois, questionar e criticar, inclusive os dados e as informações que estão disponíveis (ou não) para consulta. Às vezes os dados são colocados de forma solta ou enviesada. Por exemplo, no site da Transparência Brasil, há uma reportagem sobre o gasto do Congresso Brasileiro em relação a outros parlamentos. Dentro do relatório, encontra-se um parágrafo que diz: antes do aumento de cerca de 28% que os parlamentares brasileiros recentemente se autoconferiram, cada integrante da Câmara dos Deputados gastava R$ 101 mil por mês, entre salário, auxílios diversos, salários e “assessores de gabinete” (na verdade cabos eleitorais, que podem chegar ao número de 18 por Deputado) e verba indenizatória (um estipêndio fixo que o parlamentar pode usar para pagar gasolina, aluguel de comitê em seu estado e outras despesas).

Algumas coisas devem ser analisadas na afirmação, além do fato de estarem comparando parlamentos de países extremamente diversos - Brasil (de dimensões continentais, 180 milhões de habitantes, federação presidencialista), com Portugal, Espanha, França e outros onze:
- a necessidade de se dar ênfase ao aumento, em vez de aproveitar a oportunidade para informar o novo valor definido;
- o uso do termo "aumento que se autoconferiram", sabendo-se que a forma utilizada foi a estabelecida em lei, conforme a constituição e os Regimentos de cada Casa. Se essa forma atualmente estabelecida não é a melhor, que se pressione para alterá-la. Cadê a Reforma Política????
- a afirmação de que cada "integrante da Câmara gastava" X. Não, cada integrante teria direito de... Não quer dizer que todos gastem esse mesmo valor total.
- a adjetivação a meu ver desmerecedora e equivocada: “assessores de gabinete” (na verdade cabos eleitorais,... É preciso saber que os 513 deputados federais não são iguais, nem agem de maneira igual. Colocar todos num mesmo saco não ajuda a esclarecer e nem nos protege de condutas irregulares. Pode ser que haja assessor de gabinete que atue simplesmente como "cabo eleitoral". Mas é preciso que se compreenda que, para um deputado cumprir o seu mandato e representar a população que o elegeu, é preciso que, além do gabinete em Brasília, ele disponha de um quadro de servidores em suas bases. Esses servidores fazem a intermediação entre a população, as lideranças e os parlamentares. Suas funções são diversas e dependem da atuação parlamentar. Suas formações e perfis profissionais também podem ser variados - um deputado que atue no setor agrícola, provavelmente precisará de um agrônomo como assessor técnico, que lhe ajude na interpretação e na formulação de legislações e políticas públicas. Possivelmente, também necessitará de secretária, motorista, um assessor jurídico, um coordenador político, um chefe de gabinete, etc.... Reduzir, generalizar e estigmatizar uma função de um agente público desta forma é, no mínimo, leviano.
- auxílios diversos. Que auxílios são esses? De quanto? Um deputado do Amazonas recebe o mesmo que um do Distrito Federal, que não precisa viajar para suas bases??
- estipêndio. Por que a escolha dessa palavra esdrúxula para definir a "verba indenizatória"??

Estamos em um período de transição. Saímos da falta de liberdade e da obscuridade para a possibilidade de uma convivência democrática. Precisamos aprender a fazer isso. Precisamos compreender as instituições que existem para nos servir e cobrar de seus integrantes e representantes. Precisamos fazer isso de maneira consciente e não achando que tudo e todos estão querendo usurpar o erário e ir contra a população. Ao generalizarem e não explicitarem suas funções institucionais e o que está efetivamente acontecendo lá, passam a falsa impressão de que o Governo em geral e o Legislativo, em particular, só existe para ser palco de roubalheira e que não serve para nada. Não podemos esquecer que, dentre os tres, este é o poder que legitima a "Democracia", que mais se aproxima do ideal de poder que "emana do povo".

É preciso, claro, que esse poder corresponda aos anseios e demandas sociais. É preciso, pois, que se esclareçam quais são os nossos anseios e demandas. Queremos uma sociedade mais justa, igualitária, sem regalias e diferenças?? Queremos regras claras, que se abomine "o jeitinho" de fazer as coisas para o meu bem pessoal? Queremos a fiel obediência e cumprimento das leis? Queremos punição rígida para quem as descumprem?? Queremos um sistema de educaçao público, gratuito, de qualidade e para todos, em todos os níveis?? Queremos saúde pública de qualidade?

São perguntas primordiais que precisamos nos fazer e responder. Que tipo de sociedade queremos construir? Que tipo de representantes precisaremos? O que faremos para isso?

Educação para a cidadania

Educar filhos não é tarefa fácil. Exige dedicação, paciência, amor, respeito, coerência, consciência dos seus valores, persistência, determinação, carinho... a lista é grande, mas esse é um bom começo. Não que hoje o ser humano seja mais complexo do que já foi um dia. Simplesmente temos mais consciência dessa complexidade. Hoje sabemos que as crianças não são adultos pequenos, mas que têm necessidades peculiares, que necessitam de proteção e afeto tanto quanto de alimentação e higiene, que compreendem o que lhes é dito é que podem ser educadas pelo diálogo e não pela violência como já se acreditou um dia.

Os conhecimentos trazidos pela psicologia da aprendizagem e do desenvolvimento muito contribuíram para o atual estado da arte no que se diz respeito à educação infantil, e a evolução do mercado editorial, bem como a ampliação do acesso a Internet ajudaram no espraiamento de informações e na troca de experiências e conhecimentos, possibilitando aos pais informações antes restritas ao meio acadêmico.

Costumo falar com meu marido que hoje é possível fornecermos uma educação muito mais "profissional" a nossos filhos do que provavelmente a que tivemos de nossos pais a 20/30 anos atrás. Hoje existem livros, sites, comunidades virtuais destinados a pais que buscam compreender melhor o universo infantil e, assim, auxiliar seus filhos a serem pessoas melhores e mais felizes.

Mas só isso não basta. Nos tempos atuais, as exigências são muito maiores, e não basta que tenhamos filhos felizes e com boa auto-estima. É preciso que nos preocupemos em educarmos filhos éticos, preparados para viver em sociedade (sociedades democráticas, ressalte-se!), que respeitem os outros e o meio-ambiente, que saibam ocupar seu lugar neste mundo e respeitar os espaços alheios, que sejam solidários, que valorizem o patrimônio histórico-cultural da humanidade, enfim, que exerçam sua cidadania global.



E fazemos isso praticando esses valores dentro de casa, dando exemplos básicos no dia-a-dia. Fechando a torneira da pia, aproveitando bem os alimentos, prevenindo-se da dengue, respeitando os direitos da empregada doméstica que trabalha em minha casa, conhecendo os porteiros do meu prédio pelo nome (e assim reconhecendo-os como indivíduos únicos que são), permitindo a meu filho que dialogue comigo, que pratique o seu direito de expressar-se e também o meu, ao escutar-me... São tantas as coisas... Acredito que ética não se tem, se pratica. A cada dia, todo sempre. Do mesmo modo, democracia também se pratica e se principia dentro de casa. Mas não podem finalizar por aí. É necessário, para uma existência cidadã e democrática, que saibamos exercer essas práticas também no mundo lá fora, na sociedade em que vivemos.

Por isso, temos hoje as escolas preocupadas em discutir essas questões e os órgãos do legislativo também. Estamos há pouco mais de duas décadas vivendo um regime democrático. Nunca houve isso antes. Não fomos treinados para isso. Precisamos nos preparar e preparar nossos filhos. Aproveito para deixar uma dica sobre um lugar onde há informações muito legais, dispostas de maneira muito lúdica e interessante, especialmente para o público infantil (mas serve também para os adultos!!), que é o site do Plenarinho. Lá se encontram informações sobre a Câmara dos Deputados, sobre a função do legislativo, o papel dos parlamentares, os tipos de leis ou espécies legislativas e muitas diversões. Você sabe o que é uma lei delegada?? Se não, Clique aqui, aprenda e divirta-se!